Buddy Guy repassa a tradição vocal do blues

O canto é o foco de seu novo disco, Blues Singer, com que homenageia o álbum Folk Singer, do mestre Muddy Waters. Em entrevista ao Estado, Buddy diz que deve voltar ao Brasil no segundo semestre

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Por Agencia Estado
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Chega às lojas no dia 3 de junho o disco Blues Singer (Silvertone), novo trabalho de George "Buddy" Guy, veterano guitarrista e cantor americano de blues que fará 68 anos em 30 de julho. O álbum é acústico, feito em homenagem ao disco Folk Singer, de Muddy Waters, gravado há exatamente 40 anos com um então jovem Buddy Guy na guitarra. Naquele disco, que tinha sido encomendado a Muddy por sua gravadora, Chess Records, a idéia era legitimar uma música que estava tendo grande ressonância no mercado na ocasião, o folk acústico, por meio do blues eletrificado de Chicago. Muddy Waters foi chamado para fazer uma sessão de folk acústico, mas desceu ao Delta do Mississippi e acabou estabelecendo quão grande era a distância entre uma coisa e outra. Para ajudá-lo, chamou duas feras: Willie Dixon e Buddy Guy. Blues Singer, a homenagem de Buddy Guy àquele Muddy Waters guerrilheiro, traz um repertório raro, com canções representativas das maiores escolas interpretativas do blues. E, além disso, como um aditivo, tem dois convidados da pesada: B.B. King e Eric Clapton. Estado - Há uma noção arraigada sobre o blues segundo a qual se trata de um gênero no qual interessa pouco o virtuosismo. O importante é o sentimento, a intensidade como se toca. O sr. concorda? Buddy Guy - Sim, é em parte verdade. Mas o canto, no blues, também é algo dinâmico, cheio de tendências e sutilezas. Não é uma coisa estática, evoluiu e tem diversas correntes. Tento dar conta de um pouco dessa tradição no meu disco. Por que gravar um disco inteiro dedicado somente ao canto no blues? Bom, eu tenho sido um cantor de blues a minha vida inteira. Também toquei diferentes tipos de música, mas sempre notei que esse aspecto, o do canto, é pouco valorizado em obras específicas. Há discos que tratam da tradição do canto no rock´n´roll, por exemplo, mas poucos no blues. Esse é um dos motivos. Como foi o processo de escolher as músicas para o álbum? Há coisas muito conhecidas e coisas das quais nunca ouvi falar. Eles vieram de diversos álbuns, principalmente do repertório de Muddy Waters. Pensei em revisitar todo o repertório do disco Folk Singer, mas depois optei por coisas de vários álbuns, de diversas gravações. Quando B.B. King veio ao estúdio, deu algumas sugestões. Assim também aconteceu quando Eric Clapton veio. Eu estava com uma big band, tinha de ter algo diferente e apropriado para essa formação. Quando entramos para gravar, tínhamos entre 15 e 18 canções pré-selecionadas. Delas escolhemos as 12 que estão no disco. O sr. dedica o álbum a Muddy Waters. Quantos anos tinha quando tocou com ele pela primeira vez? Tinha uns 25, 27, não me lembro bem. Lembro que a Chess Records organizou alguns discos sobre temas específicos e Muddy Waters deveria gravar Folk Singer. Era 1963. Ele me ligou e me convidou e eu estava tão abobado com a idéia de tocar com Muddy Waters que nem tive a clara noção do que deveria fazer. Toquei guitarra com ele naquele disco. Willie Dixon também estava lá, tocando o baixo. Foi um batismo de fogo. O sr. tem planos de uma nova turnê pelo Brasil ainda este ano? Sim, talvez eu vá em setembro. Eu nunca digo não quando me convidam do Brasil. Estive aí pela primeira vez em 1985 e, desde então, é um dos lugares que amo e onde adoro tocar. Gosto de tudo: da luz do sol, da feijoada e do carinho do público daí. A primeira vez que fui, eu não tinha sequer um contrato regular com uma gravadora. Agora que tenho reconhecimento, também sou grato ao Brasil por ter me apreciado antes da fama.

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