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Buddy Guy está de volta ao Brasil

Cantor e compositor norte-americano traz seu blues eletrificado aos palcos da Via Funchal, em São Paulo, e depois se apresenta quinta-feira no ATL Hall/Metropolitan, no Rio, e sexta-feira no Teatro Araújo Viana, em Porto Alegre

Por Agencia Estado
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Esqueça as histórias bizarras envolvendo o mitológico Robert Jonhson - madrugadas regadas a bourbon, tabaco, vida desregrada, suposto pacto com diabo para justificar a destreza junto ao instrumento, no caso um violão tosco de cordas de aço, e o título de um dos precursores do blues. Pois o guitarrista, compositor e cantor Buddy Guy, que se apresenta quarta-feira, às 21h30, no Via Funchal, passa ao largo do estilo de vida hardcore do autor da emblemática Me And the Devil Blues que morreu, pouco antes de completar 30 anos, vítima de uma dose de uísque envenenado, "cortesia" de um marido traído com sede de vingança. "Bom dia, como vai tudo por aí ?", pergunta Buddy Guy, por telefone, à reportagem do Grupo Estado, de sua casa em Chicago. Às 8 horas da manhã de sexta-feira o músico, de 64 anos, mostra-se bem-humorado e bem-disposto. Um verdadeiro "bluesman saúde". "Já tinha levantado há algum tempo, não tenho problemas em acordar cedo", conta ele. Durante essa semana, Buddy Guy traz de volta ao Brasil seu blues eletrificado. Além de São Paulo, ele se apresenta quinta-feira no ATL Hall/Metropolitan, no Rio, e sexta-feira no Teatro Araújo Viana, em Porto Alegre. "Já estive seis vezes no Brasil e adorei tudo o que vi no País, tudo é muito musical e as platéias são sempre as mais enlouquecidas", define o músico, que esteve em terras brasileiras pela última vez em 1995. Exímio guitarrista desde os anos 60, Buddy Guy tem ocupado posição de destaque dentro da seleta lista dos grandes do gênero. Ainda muito jovem, ele deixou a fazenda em que morava na Louisiana para instalar-se, em 1957, na capital mundial do blues Chicago. "Não havia televisão naquele tempo e eu ficava ouvindo os discos e imaginando como seriam os shows de T-Bone Walker, Lightning Hopkins e Muddy Waters", continua. "Construí minha própria guitarra e aprendi a tocar aos 13 anos porque amava a música desses caras.´´ Atmosfera - Recém-chegado a Chicago, Buddy Guy teve acesso à efervescente cena bluseira da época. Artistas como Sunnyland Slim Koko Taylor, Big John Wrencher, Bo Didley, Willie Dixon, além de seus heróis já citados, podiam ser vistos se apresentando ou relaxando nos bares do Loop, no centro, ou em Bronzeville, bairro negro que sediava também a gravadora "sweet home Chicago" Chess Records - que encerrou atividades em 1969, após a morte de um dos proprietários. Hoje, no mesmo endereço, funciona a Blues Heaven Foundation, mantida pela família do contrabaixista Willie Dixon. Além da preservação da memória cultural do lugar, o trabalho da fundação é voltado principalmente à população carente da região, em especial às crianças, que podem freqüentar gratuitamente cursos de iniciação artística. E, por falar em memória, o legado musical de Chicago começa a nascer por volta de 1915, quando a falta de emprego em New Orleans, Mississipi, Alabama, Tennessee e adjacências obrigou os artistas a migrarem para a cidade. Na década de 20, a industrial Chicago já era a meca dos bons sons, repleta de inferninhos que tinham como atrações os moradores ilustres como Jelly Roll Morton, Alberta Hunter e Louis Armstrong. Mas voltando a Buddy Guy, no final dos anos 50 ele foi o vencedor do prêmio local Battle of the Blues e em um dos clubes da cidade tomou coragem e se apresentou para Muddy Waters. Empolgado com o talento do jovem guitarrista, a legenda o adotou como pupilo. "Pode-se dizer que Muddy Waters é a pessoa que me descobriu e mais me incentivou no início da minha carreira", diz Buddy Guy, que chegou a tocar na banda do ídolo. Seu primeiro single foi lançado em 1962. Chamado de Stone Crazy, o registro apresentava uma progressão do que era denominado como Moderno Blues de Chicago. O gênero vinha sendo desenvolvido desde os anos 40 e encontrara o ápice com o advento das guitarras elétricas. Dois anos depois, Buddy Guy lança o disco de estréia, o influente Crazy Music (1965). A gravação, feita em parceria com o tecladista Mark T. Jordan, foi uma das referências básicas para que os então iniciantes Eric Clapton e Jimi Hendrix encontrassem seus próprios caminhos musicais. Influência essa confessa pelos próprios deuses guitarrísticos. Os discos seguintes, como I Let My Blues in São Francisco (1967), Blues Today (1968), A Man In The Blues (1968), só vieram a confirmar o talento do jovem guitarrista. O início da parceria duradoura com o gaitista Junior Wells - com quem Buddy Guy veio ao Brasil entre as décadas de 80 e 90 - é também resultado desse período. Juntos, eles gravaram álbuns antológicos e executaram shows idem. O primeiro deles é o surpreendente Buddy And Juniors (1970), que trazia também na formação o pianista Junior Mance. A diferença fica para a guitarra acústica de Buddy Guy e as versões urgentes para títulos como Hoochie Coochie Man, Rock Me Mama e Talkin´ ´Bout Women Obviously. "Fizemos coisas realmente muito boas", diz Buddy Guy referindo-se ao gaitista que faleceu em 1998, em decorrência de um ataque cardíaco sofrido durante o tratamento de câncer linfático. "Ele ficou em coma durante alguns meses e eu estive por perto o tempo todo; Junior era o meu grande amigo", relembra. Bar legenda - Além de acumular quatro Grammys, participações em seriados de TV, produções cinematográficas e notoriedade por suas performances ao vivo, Buddy Guy é também empresário da noite. O músico responde pelo concorrido Buddy Guy´s Legends. No meio termo entre bar e museu, o espaço acomoda até 450 pessoas. Nas paredes, o visitante encontra fotos, roupas, instrumentos e objetos curiosos que pertenceram a astros do blues e do rock, como o disco de platina de Jimi Hendrix e o cartão de crédito de Muddy Waters. Pelo palco da casa de espetáculos já passaram nomes como David Bowie, Stevie Ray Vaughan, Bonnie Rait e Eric Clapton. Contudo, o que parece motivar mais o proprietário são os agitos das noites de segunda-feira. "É a noite em que abrimos a casa para jam sessions de garotos que nunca se apresentaram antes", continua. "Quero de alguma forma reproduzir o cenário que encontrei quando cheguei aqui em Chicago, tenho orgulho de poder proporcionar algo aos músicos iniciantes.´´ Atento às novas gerações, Buddy Guy não se cansa de citar o prodígio Jonny Lang, destaque da programação do Free Jazz Festival 1999, como um de seus prediletos. "O garoto é um grande guitarrista; quando o ouvi pela primeira vez, pensei que ele tivesse uns 27 ou 28 anos", comenta. A admiração pode ser conferida no dueto de ambos na faixa Midnight Train, presente no disco mais recente, Heavy Love (1998). Além de Jonny Lang, o álbum traz a conexão entre o bluesman e o produtor David Z, que tem no currículo trabalhos com Nene Cherry, Sisters of Mercy, Prince e A-HA. Segundo Buddy Guy, o repertório de Heavy Love dará a tônica das apresentações que ele fará no Brasil. Composições alheias, como a faixa título Heavy Love, I Got a Problem , I Need You Tonight, Saturday Night Fish Fry, I Just Want To Make Love To You, Did Somebody Make A Fool Out Of You e When the Time is Right fazem parte do repertório. O guitarrista promete ainda a inclusão de músicas de autoria própria como Let Me Show You, Had a Bad Night, I Can´t Quit the Blues, Damn Right, I´ve Got the Blues e I Smell a Rat. "Espero todo mundo goste dos shows, estou muito ansioso." A banda que acompanha o guitarrista é composta pelo saxofonista Jason Moynihan, o contra-baixista Orlando Wright, o guitarrista Francis Blinkal, o tecladista Tony Z e o baterista Jerry Porter.

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