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Buchecha revisita seus clássicos do funk melody em novo disco

Cantor Buchecha completa 20 anos de carreira, 40 de vida, e revisita hits dos anos 1990 com parcerias

Por Pedro Antunes
Atualização:

“Já venci a depressão do início de quando perdi meu amigo.” Claucirlei Jovêncio de Souza, mas pode chamar de Buchecha, perdeu o companheiro de infância e palco em um acidente automobilístico em 2002. Era, ali, interrompida uma trajetória ascendente da dupla responsável por abrir novos caminhos para o funk melody descer as comunidades e bailes black e estourar no País. Aos poucos, o gênero voltou a se esconder, embora ainda fosse responsável por agitar noites cariocas, paulistanas e de algumas outras praças. 

Algo comum na música como um todo é o movimento cíclico, a renovação dos gêneros. Se houve algum movimento musical que se beneficiou de 2015, esse foi o novo funk, tão melódico quanto aquele de Claudinho e Buchecha. Anitta, Ludmilla, MC Guimé, entre tantos outros, são atualmente nomes conhecidos e figuras constantes em programas de TV – Ludmilla, por exemplo, fez o rei Roberto Carlos cantar Hoje no seu sempre quadradão especial de Natal na Globo. 

Buchecha Foto: Marcos Hermes | Divulgação

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“Era um bom momento para defender o meu funk também”, diz Buchecha. Assim nasceu a ideia de Funk Pop, lançado pela gravadora Warner Music, um trabalho no qual revisita os grandes sucessos lançados ao longo de 20 anos de carreira. “Percebi que havia, mesmo, um espaço para lançar esse projeto. Confesso que não me liguei muito em comemorações de 20 anos de carreira ou 40 anos de vida.” 

Buchecha completou a quarta década de vida em abril de 2015, quando o projeto do Funk Pop já era elaborado. Kassin, produtor de discos pop e indie, foi o responsável por repaginar as canções, como Conquista, Só Love, Destino, À Distância e Quero Te Encontrar, e por reunir uma equipe de peso da música pop brasileira. Graças ao sorriso fácil do agora quarentão Buchecha e a excelente agenda de contatos de Kassin, Funk Pop apresenta um leque de participações de artistas de estilos distintos, como Lenine (em Conquista), Paralamas do Sucesso (Só Love), Adriana Calcanhotto (Destino), Paula Toller (À Distância), Rogério Flausino (Quero Te Encontrar) e a Ludmilla (olha ela aí de novo, em Implacável). 

A mais impactante delas – e menos festiva desse bailão organizado por Buchecha e Kassin – é do rapper Emicida, responsável por lançar um dos melhores discos de hip hop de 2015. Buchecha homenageia o funk de raiz com a regravação de Rap do Silva, de MC Bob Rum, gravada originalmente em 1995. O rapper da zona norte de São Paulo acrescenta um novo trecho, chamado de Rima do Silva. “Balas perdidas, corpos achados / Pela avenida um ar pesado / Gritam feridas do nosso passado / Asfalto, trincheira, favela / Apartheid sem Mandela”, rima ferozmente Emicida. “Pergunte ao povo de Amarildo se o capitão Nascimento é herói.” 

São quatro canções inéditas em Funk Pop – uma delas, Vem Cá Fazer Um Love, estreou nos cinemas, como parte da trilha do filme Vai Que Cola –, todas assinadas por Giulie Oliveira e Buchechinha (Clauci Julio), ambos filhos do funkeiro, de 12 e 16 anos, respectivamente. “É curioso ver como eles me ajudam a criar essas músicas”, diz o pai orgulhoso. “Acho que o Julio vai seguir como músico, toca piano, teclado, já a Giulie é cantora de chuveiro. Uma hora fala que quer ser jogadora de futebol, na outra quer ser modelo”, explica e ri dos sonhos da filha. 

Funk Pop é bem-vindo por dar a Buchecha o espaço que lhe é devido com o atual resgate do funk. Não há espaço ou necessidade para melancolia pela ausência do antigo parceiro. “É um prazer enorme cantar essas músicas. Naquela época, tínhamos muito para comemorar”, ele explica. “Agora não é diferente. O que sinto é uma saudade suportável.” 

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ENTREVISTA com Alexandre Kassin: “Para quem vive no Rio, o funk nunca desapareceu”

Em 2012, Alexandre Kassin gravou sintetizadores na música Os Deuses do Olimpo Visitam o Rio de Janeiro, um registro para comemorar a chegada dos Jogos Olímpicos ao Rio de Janeiro, realizados em agosto deste ano. Lá, conheceu Buchecha. E o produtor de discos de artistas como Caetano Veloso, Los Hermanos, Erasmo Carlos e Vanessa Da Mata tremeu ao encontrá-lo. Papo veio, papo foi, Kassin foi chamado para produzir Funk Pop, o novo disco do funkeiro. Para trabalhar nele, fez uma viagem ao próprio passado nos bailes ao lado do irmão, como ele contou ao Estado. Confira: 

O quanto você já conhecia do trabalho do Buchecha?  Para a minha geração, ele foi um grande ídolo. Ouvi muito as músicas dele. Era um grande fã, mesmo. Quando nos encontramos, em 2012, fiquei emocionado em falar com ele. Me apresentei, tímido, e ele sabia quem eu era, o que eu tinha feito. Ele acompanha muito de música. Percebi que falávamos a mesma língua. Saí daquela gravação realmente emocionado de conhecê-lo. 

Como recebeu o convite para produzir esse disco?  Eu nunca tinha feito um disco de funk. Não por desgostar. Eu adoro o estilo, acompanho tudo o que sai. Achava estranho ele ter me chamado. Depois, ele me explicou a ideia do disco todo. Era uma coisa de encontros. Para mim, foi um negócio inacreditável. Foi logo antes do Natal de 2014. E falei: ‘Já valeu o ano que vem’. 

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De onde vem a sua identificação com o funk?  Vem do meu irmão. Ele era discotecário e comecei na música muito por causa dele. Ele era 10 anos mais velho. Então, quando ia tocar, aos 18 anos, eu tinha 8 e já ia para os bailes para ajudar a montar aquele equipamento todo. Era início dos anos 1980, aquela fase do funk mais eletrônico. A gente era muito ligado nisso. Depois, chegou o funk carioca, Stevie B, a gente curtia muito esse tipo de música. 

Como funcionou esse trabalho de repaginar essas canções de funk melody para uma linguagem mais contemporânea? O que mantém as músicas do Buchecha vivas até hoje é a qualidade delas. Independentemente do que está acontecendo no fundo da canção, nas batidas, se você prestar atenção na canção e na melodia, vai perceber que é algo muito sólido. Não queria perder isso. Queria que a qualidade dessas músicas como canções estivesse evidente. Ouvi as originais para ter essa referência. 

O funk voltou ao mainstream. Há um ressurgimento?  Tinha sumido, sim. Mas acho que, para quem é do Rio de Janeiro, o funk nunca desapareceu. É uma coisa muito presente aqui. Esse novo funk está rompendo mais barreiras. 

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