Bruce Springsteen ensaia show da estreia da turnê sul-americana

'Estado' acompanhou chegada do Boss ao Chile

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Por Jotabê Medeiros e Santiago
Atualização:

A política ocupou grande parte da conversa no primeiro contato de Bruce Springsteen com a imprensa sul-americana. Uma instituição da música norte-americana, ele chegou ontem a Santiago, no Chile, onde se apresenta amanhã – chegou um dia antes de uma data de triste memória para o país, os 40 anos do golpe que derrubou Salvador Allende e colocou o ditador Augusto Pinochet no poder. “É muito importante estar aqui neste momento, muito poderoso”, afirmou o cantor.

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Havia 25 anos que Bruce Springsteen não pisava no continente para tocar. A última vez que esteve na América do Sul, em 1988, em Buenos Aires (no estádio do River Plate e em Mendoza, na Argentina) e em São Paulo (no velho Parque Antártica), Springsteen fez apenas um pocket show beneficente em prol da Anistia Internacional (numa comitiva composta ainda por Peter Gabriel, Sting, Tracy Chapman e Youssou N’Dour, entre outros).

“Era um momento muito forte nos países que visitei. Na Argentina, foi impressionante ter contato com o relato de mães e avós cujos filhos e netos foram levados pela ditadura. Aqui no Chile, também havia uma realidade muito dura, triste. Era uma época em que a música e a arte representavam muito, conseguiam falar por muitos. Cheguei aqui e fiquei impressionado com o quanto lembro das coisas”, afirmou.

Sobre a possibilidade de os Estados Unidos invadirem a Síria, aventada pelo governo americano, Springsteen foi menos contundente. “Não sei qual será a atitude correta. Os russos fizeram uma proposta (de negociação para a vistoria das armas químicas do governo sírio). Se for séria, pode ser uma saída. Os EUA fizeram muitas intervenções militares nos últimos anos, no Iraque e no Afeganistão, mas não sei o que dizer, ainda estou confuso”, respondeu à pergunta do Estado.

O artista desembarcou com o circo completo, a sua mitológica E Street Band, com 17 músicos no palco. O primeiro ensaio na Movistar Arena, onde tocará, já foi um show completo – o homem é obsessivo e perfeccionista. Em Santiago, Springsteen chegou preocupado com o make-up: pediu uma manicure, uma cabeleireira e uma massagista para seu camarim. Ele completa 64 anos no dia 23 de setembro: “Nunca imaginaria que, 50 anos depois, ainda estaria vivendo com a música. Vocês podem pensar que se trata apenas de tolas canções de rock, mas elas têm uma poderosa capacidade de transformação, de transfiguração”.

Bruce fará seu primeiro show da turnê sul-americana amanhã e promete honrar uma tradição: tocar em torno de 3 horas (para cerca de 10 mil fãs). Ainda havia ingressos no dia anterior. O repertório foi parcialmente composto por músicas escolhidas pelo Twitter. “Somos essencialmente uma banda ao vivo”, explicou.

Com mais de 40 anos de carreira e 24 discos, The Boss, como o músico é conhecido, traz ao Rock in Rio (e a São Paulo, no dia 18, no Espaço das Américas) seu mais recente disco, Wrecking Ball, cuja turnê foi considerada pela edição americana da Rolling Stone como o melhor da atualidade. Há violinos, seção de metais, acordeom, e o grupo invariavelmente tem um sabor de brass band sulista americana. Bruce está em forma física estupenda, nada de barriga, nada de cansaço.

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Curiosamente, Bruce chega na semana em que comemora os 40 anos do lançamento do primeiro (e crucial) disco com a E Street Band: The Wild, The Innocent and the E Street Shuffle, de 1973. Na época, contava com duas lendas na banda: Vini “Mad Dog” Lopez e David Sancious. Era então apenas um sonhador saído de uma vizinhança de baixa classe média de New Jersey. Músicas de mais de 5 minutos tornaram o disco um fracasso comercial, mas um artefato artístico sólido e influente pelos anos que se seguiriam.

Ainda ontem, Springsteen confirmou mais um show beneficente, o Stand Up for Heroes, que organiza com o baixista do Pink Floyd, Roger Waters, entre outros. Já é a sexta edição do evento, que levanta fundos para ajudar soldados que voltam feridos ou desajustados de intervenções militares dos Estados Unidos em países como Iraque e Afeganistão. Será no dia 6 de novembro, no Madison Square Garden.

Bruce Frederick Joseph Springsteen já foi declarado um “fenômeno nacional” dos EUA. Desde então, ganhou 19 prêmios Grammy e um Oscar (em 1994, pela canção Streets of Philadelphia). Habitou o topo das paradas de 16 países ao mesmo tempo.

Seu mais recente trabalho, Wrecking Ball, o 17.º disco de estúdio, é produzido por Ron Aniello e pelo próprio Springsteen. Trata-se de um álbum que analisa a desesperança de tempos duros na América, com crise econômica, desemprego, falta de perspectivas. A poética do Boss está dura e um tanto amarga. O disco traz convidados como o guitarrista Tom Morello, do Rage Against the Machine. Aos 63, The Boss também já olha para trás com nostalgia e revisita seus próprios clássicos, como Rosalita, que é rememorada na nova canção Easy Money.

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A E Street Band desembarca com ausências sentidas: em 2011, morreu após um ataque cardíaco o saxofonista Clarence Clemons, o The Big Man. Era um grande amigo de Springsteen que o acompanhava desde 1972. Bruce disse que Clemons é “insubstituível”, mas elogiou o sobrinho dele, que ocupou seu espaço na banda. Antes de Clemons, em 2008, já tinha morrido o tecladista e acordeonista Danny Federici, um dos fundadores do grupo.

Springsteen pediu desculpas por ter demorado tanto para voltar à região: “Depois daquela vez (a vinda com a Anistia Internacional), a banda se separou e tive filhos para criar. Isso levou 20 anos. Já será maravilhoso se os fãs ainda se lembrarem de mim”.

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