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Brasileiros levam diversidade ao Midem

Organização da feira considerou sofisticada e abrangente a apresentação dos artistas brasileiros, entre eles o grupo de percussão corporal Barbatuques e o violonista gaúcho Yamandú Costa

Por Agencia Estado
Atualização:

O compositor Tom Zé foi o mestre-de-cerimônias do show de abertura do Midem, na noite de gala do Mercado Internacional da Música, que abriu suas portas no domingo, no Palácio dos Festivais, e encerra as atividades na quarta-feira. O Brasil foi o país-tema da 37ª edição da feira. Trouxe para a França, pela primeira vez, artistas que fazem seus discos por gravadoras independentes. Os espetáculos foram realizados em duas salas. No Salon Ambassadeurs, apresentaram-se o grupo de percussão corporal Barbatuques, o violonista Yamandú Costa, a dupla Veiga & Salazar e o grupo Cabruera. O menor Salon Méditerranée abriu palco para o cavaquinhista elétrico Armandinho, para a cantora Márcia Salomon, que tocou acompanhada por Roberto Menescal e trio de teclados, baixo e bateria e para o projeto Bossacucanova, que oferece uma visão lounge da bossa. O Bossacucanova é formado pelo mesmo quarteto que acompanhou Marcia, acrescido de um DJ. No sábado, informou-se que o ministro da Cultura, Gilberto Gil, faria breve apresentação, antes do início do espetáculo dos brasileiros, a convite de Eduardo Muszkat, da gravadora MCA Records e um dos diretores da Associação Brasileira dos Músicos Independente (ABMI). Foi uma gafe. Os coordenadores da delegação brasileira não queriam que Gil se apresentasse. Inicialmente, ponderavam que sua participação no Midem tinha caráter oficial. Gil estava lá como ministro, não como artista. A verdade era mais terra-a-terra. Se Gil se apresentasse antes dos artistas novos, o público assistiria à sua apresentação e iria embora sem esperar os show dos artistas novos. E a participação brasileira tem como objetivo divulgar o trabalho dos artistas novos. Afinal, Gil não cantou. Esteve no Ambassadeurs para assistir ao show de Márcia Salomon e Menescal, em companhia do ministro da Cultura e das Comunicações da França, Jean-Jacques Aillagon. Sempre de terno, o ministro brasileiro da Cultura ouviu a bossa nova clássica do roteiro da dupla, de pé, como todos. Tom Zé, na qualidade de mestre-de-cerimônias, foi inteligente e irreverente, como sempre. Fez as vinhetas faladas das apresentações de todos os artistas, indo de uma sala para outra. Usava um avental de cozinha estampado com o mapa da França. "Há um erro no texto que prepararam para mim", disse, num inglês propositadamente estropiado, misturado com francês mais estropiado ainda. "Dizem aqui que a música brasileira está vindo para Cannes. Na verdade, ela está voltando, depois de sete séculos. Porque todo compositor, cantador, do nordeste, da Bahia, do Recife, do Rio, todo músico brasileiro é filho dos trovadores provençais. Aqui, estou grávido da Provence." Nos intervalos entre os shows, dispostos nas laterais do palco, telões mostravam imagens da Copa do Mundo do pentacampeonato. A música de fundo era sempre Canta Brasil, de Alcyr Pires Vermelho e David Nasser, na voz de Gal Costa. De vez em quando, os telões mostravam paisagens brasileiras ao som do Hino Nacional, cantado e com legendas em inglês. Os franceses são famosos por não gostar que se fale inglês. Orgulham-se de sua língua. Foi outra gafe, ainda que a feira seja um evento que acolhe representações do mundo inteiro. Nos seus quarto dias de duração, gravadoras, produtores de disco, editoras musicais, produtores e outros da área negociam licenças de seus títulos, das músicas que editam, etc. É o maior e mais tradicional evento do gênero. Foi importantíssimo para a divulgação internacional da música brasileira (e não só dela), nos anos 60 e 70. Perdeu importância nos anos 80, quando as gravadoras multinacionais se fundiram num grupo de cinco, que comanda o mercado e tem representação em todos os países do mundo. A feira deixou de ser interessante, como ponto de negócios, para esses cinco. Com o surgimento do CD, no fim dos anos 80, e o desenvolvimento também internacional da produção independente, o surgimento de selos alternativos, de capital pequeno e preocupação com qualidade e diversidade, o Midem retomou sua relevância. O elenco brasileiro, nesta edição dedicada ao Brasil, primou pela diversidade, mostrando do grupo de percussão corporal Barbatuques, que tinha como solista o cantor Marcelo Pretto, finalista do último Prêmio Visa de MPB, ao funk-rap da dupla Veiga & Salazar; do regionalismo nordestino do grupo Cabruera ao violão vigoroso do gaúcho Yamandú Costa; da bossa nova clássica à bossa eletrônica que é febre na Europa e ao cavaquinho eletrificado do baiano Armandinho. A organização do Midem considerou a apresentação dos brasileiros especialmente sofisticada e abrangente. Hoje, o ministro Gilberto Gil voltou ao Palácio dos Festivais, para encontro com o ministro da cultura francês e com a diretoria da Radio France International, que tem escritório no Brasil e divulga música brasileira na França. Falaram de colaboração da música de um país no outro. O repórter viajou a convite do festival

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