Brasileira disputa Grammy

Ithamara Koorax está em terceiro lugar na lista dos melhores cantores de jazz da revista Down Beat, já conquistou ingleses, americanos, japoneses e acredita que o mercado brasileiro ainda não tem condições de absorver seu trabalho

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Por Agencia Estado
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Ela já conquistou o interesse de ingleses, americanos e japoneses e prepara-se para se apresentar na China, em fevereiro. Figura também em terceiro lugar na lista dos melhores cantores de jazz, elaborada pela conceituada revista Down Beat. E ainda está na luta por um prêmio Grammy, já aparecendo entre os 50 pré-indicados como cantora de jazz. Tantos feitos, porém, não impedem Ithamara Koorax de ser pouco conhecida no Brasil. "Nessa terra de bunda-music e de breganejo meu trabalho só poderia ser degustado se houvesse uma mudança completa de valores, o que é uma utopia", reage, indignada, exibindo voz e garras afiadas. "O curioso é que meus shows no Brasil estão sempre lotados (fiz mais de 50 só no Rio) e os discos vendem bem nas importadoras." Uma das vozes marcantes que surgiram nos anos 90, Ithamara Koorax caminha segura pela trilha da contemporaneidade. Primeira brasileira a ser votada entre os melhores intérpretes de jazz pela Down Beat (atrás apenas de Santana e Sting e à frente de Tom Waits e Steve Wonder) desde Flora Purim, nos anos 70, ela sabe que suas chances de ficar entre as cinco finalistas no Grammy são pequenas. "Mas não trocaria minha indicação como cantora de jazz por uma vitória na categoria world music, um saco de gatos em que colocam brasileiros, africanos, cubanos, o Andrea Boccelli, enfim, qualquer um que não cante em inglês", comenta. "Americano não aceita competir com o restante do mundo tanto que o Tom Jobim só foi premiado postumamente." Ithamara concorre com o CD Serenade in Blue, indicado também como melhor álbum vocal de jazz, produção e arranjo, no caso o de Eumir Deodato para a faixa Aranjuez. Serenade foi o resultado positivo da aposta na expansão das fronteiras de seu trabalho. Lançou-se no mercado externo com Bossa Nova Meets Drum´n´Bass, que saiu em 1998. Aposta certeira: fez sucesso nas paradas inglesas, ávidas por novas sonoridades, e, especialmente no Japão, onde o sucesso foi impulsionado pela regravação do standard Cry me a River. "Já fui cinco vezes ao Japão, um mercado em que meu prestígio está consolidado", conta. A cantora também esteve na Coréia, onde seus discos são lançados desde 1995, período em que recebeu diversos prêmios. Um dos motivos que justificam tamanha aceitação, segundo Ithamara, foi sua opção por ser uma cantora sem rótulos. Se seu nome fosse associado à MPB, por exemplo, o mercado seria restrito. "Com exceção da Joyce, que todos os anos toca no Blue Note, os brasileiros se apresentam no Japão em churrascarias, o que é quase patético", comenta. "A minha concepção, que é a mesma do Hermeto Paschoal e de bandas como o Sepultura, é a da música universal; sou uma cantora que, por acaso, é brasileira e que canta, além da música do meu país, a francesa, a italiana, o jazz." Velhos amigos - Uma das chaves do sucesso é a escolha dos músicos que a acompanham. Em seu mais recente CD, Ithamara promoveu um reencontro com velhos amigos - nas nove faixas do disco, ela é acompanhada por nomes como Gonzalo Rubalcaba (piano), Dom Um Romão (bateria), Marcos Valle (piano), Eumir Deodato (piano) e o grupo Azimuth, entre outros. "Escolho os músicos que vão tocar em uma determinada faixa, pensando na afinidade deles com aquela música", explica a cantora, nascida em Niterói, no Estado do Rio, onde começou a carreira tendo como madrinha ninguém menos que Elizeth Cardoso. Ithamara conta que foi sondada por gravadoras brasileiras, que pediram cópias de seus discos anteriores, especialmente Wave 2001 (clássicos da bossa nova com arranjos acid-jazz) e Bossa Nova Meets Drum´n´Bass. Não passou disso: "Ninguém nunca mais me ligou e vi várias das minhas idéias absorvidas e utilizadas, tempos depois, por um monte de gente", critica a cantora, acreditando que o mercado brasileiro ainda não tenha condições de absorver seu trabalho. Depois dos shows de divulgação de Serenade in Blue, Ithamara pretende voltar ao estúdio. Dessa vez, vai gravar obras do compositor Dave Brubeck, que lhe enviou mais de 20 músicas inéditas, provando estar em boa forma, apesar dos 80 anos. "Em 98, fiz uma gravação muito louca de uma música dele, Broadway Bossa Nova, e fiquei com medo que ele odiasse", conta. "Mas Dave não só adorou, enviando-me um cartão com elogios à minha interpretação e ao arranjo, como estabeleceu um elo importante." Ithamara pretende convidar o casal Alan e Marylin Bergman para fazer as letras, apesar de incentivada por Brubeck para escrever os próprios versos. "Nunca gravei minhas composições porque tenho autocrítica, algo que falta à maioria das cantoras brasileiras."

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