Braguinha comemora 95 anos e lança songbook

Será lançada amanhã no Rio coleção de livro de partituras e três discos em que a nata da música brasileira canta a obra do autor de Pastorinhas e Chiquita Bacana

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Por Agencia Estado
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Braguinha fez 95 anos na Sexta-Feira Santa. Comemorou em casa, com a família. Comemora novamente amanhã, com música, no Teatro Rival, no centro do Rio (Rua Álvaro Alvim, 33, telefone 0--21 2532-4192). No Rival, começa, às 20 horas, o show de lançamento do Songbook Braguinha. São três discos, com 43 músicas dele - sambas, valsas, marchas-rancho, cantigas de roda, canções infantis - interpretadas pela nata da música popular brasileira, de Chico Buarque a Alceu Valença, de Nana Caymmi a Beth Carvalho, mais um livro, com texto biográfico assinado pelo pesquisador Jairo Severiano, depoimento do compositor concedido à cantora Miúcha, fotos e 60 partituras. O álbum de partituras e os discos do Songbook Braguinha são da Lumiar Discos & Editora, especializada em música, a mais importante do País. A produção do trabalho é de Almir Chediak que, no início dos anos 90, começou a edição de songbooks. Imaginou um formato peculiar - em vez de concentrar a obra numa única voz, como Norman Granz fez com a música dos Gerswhin, de Cole Porter e de outros, dispersou-a por intérpretres diferentes, escolhidos na interseção da própria personalidade com o espírito da canção a ser abordada. Trabalho difícil que deu certo e rendeu obras-primas. O primeiro songbook foi dedicado a Noel Rosa. Seguiram-se os volumes da bossa nova, de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Marcos Valle, Chico Buarque e mais. As músicas selecionadas para os discos (e para serem partituradas, no livro) foram escolhidas entre as mais de 400 compostas por Carlos Alberto Ferreira Braga, carioca da Gávea crescido em Vila Isabel, nascido em 1907, que em 1929 gravaria sua primeira música. Na família de classe média alta, não queriam que Braguinha fosse músico e, no início, ele se escondeu sob o pseudônimo de João de Barro. Lembra-se das primeiras canções, feitas no fim da adolescência: "Eu fazia umas letrinhas para as músicas de um colega, o violonista Henrique Brito", contou a Jairo Severiano. "Um dia, experimentei fazer música, também. Deu certo." Ainda estudante, Braguinha formou seu primeiro grupo, o Flor do Tempo, que cantava e tocava em casas de amigos e em clubes. Mas as pessoas gostavam do conjunto amador - tanto que o Flor do Tempo acabou sendo convidado a gravar. Para tanto, mudou de nome - virou Bando dos Tangarás - e reduziu o contingente a cinco pessoas: Braguinha, Almirante, Brito, Alvinho e um menino magrinho e feio, um certo Noel de Medeiros Rosa. No Bando dos Tangarás, Braguinha era o solista vocal. O Bando gravou 38 discos e acabou em 1933. Braguinha começava a fazer sucesso no carnaval, especialmennte com marchinhas maliciosas, louvando a graça feminina. Nos anos 30, em parceria com Alberto Ribeiro, fez sucesso no carnaval com Linda Lourinha, Primavera no Rio, Linda Mimi, Cadê Mimi?, Pirata da Perna de Pau, Deixa a Lua Sossegada. Jairo Severiano estabelece que o auge dessa fase foi o ano de 1938, quando Braguinha virou a figura principal do carnaval do Rio - lançou, para a festa daquele fevereiro, Pastorinhas (com Noel Rosa), Touradas em Madri e Yes, Nós Temos Banana (com Alberto Ribeiro). Braguinha compunha, cantava, fazia roteiros e escrevia números musicais para o cinema (Alô, Alô, Brasil, de 1935, Banana da Terra, de 1939, Laranja da China, do ano seguinte). Em 1938, asumiu a direção artística da gravadora Colúmbia (herdou da família materna o temperamento artístico e do pai a sabedoria do negócio); traduziu para o português o primeiro desenho animado de longa-metragem, Branca de Neve, de Walt Disney, gostou da idéia de cantar para crianças e criou, na gravadora, a série Disquinho: Chapeuzinho Vermelho, O Casamento de Dona Baratinha - algo em torno de 50 títulos. Da série Disquinho sai uma das músicas do Songbook: uma gravação deslumbrante de Joyce e João Donato para Pela Estrada Afora ("eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha..."). Que muita gente pensa que é de domínio público. Não é, como Pirulito ("que bate bate, pirulito que já bateu") também é de Braguinha, e no Songbook vai interpretada por Chico César. Alguns destaques dos discos: Alceu Valença em Pastorinhas; Zélia Duncan, em Aqueles Olhos Verdes; Dominguinhos, em Urubu Malandro; Nana Caymmi, em A Saudade Mata a Gente; Zeca Pagodinho, em Linda Mimi; Luiz Melodia, em Laura; Lucinha Lins, em Chiquita Bacana.

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