Boteco do Cabral revê repertório de Aracy de Almeida

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Boteco do Cabral - evento mensal liderado pelo jornalista Sérgio Cabral - homenageará amanhã Aracy de Almeida, outrora conhecida como "o samba em pessoa". Para lembrar seus grandes êxitos, foram convidadas as cantoras Cristina Buarque e Márcia, conhecidas pelo seu trabalho de preservação da memória do samba. O show ocorrerá às 21 h, no teatro do Sesc Ipiranga. Quem conheceu Aracy de Almeida (1914-1988) nos seus últimos anos de vida, quando trabalhava como jurada no Show de Calouros, apresentado por Sílvio Santos, tem a desagradável lembrança de uma mulher mal-humorada e ranzinza, cuja função parecia ser apenas desqualificar impiedosamente qualquer aspirante a cantor que ali se exibisse. Porém, essa imagem não condiz com aquela guardada por aqueles que puderam vê-la atuando como cantora, sobretudo na sua fase mais brilhante (do final dos anos 30 ao começo dos 50). Aracy foi quem eternizou uma série de clássicos da MPB, a exemplo de Último Desejo (de seu amigo e protetor Noel Rosa) e Tenha Pena de Mim (de Cyro de Souza e Babaú), lançadas em 1937. Ela foi uma das primeiras vozes femininas a conseguir destaque no Brasil. Aracy nasceu no subúrbio de Encantado, no Rio, e teve dificuldade para consolidar sua carreira artística. O compositor e pianista Custódio Mesquita foi quem a levou para a Rádio Educadora, em 1933, onde conseguiu seu primeiro emprego como cantora. Porém, vinda da periferia, com uma educação pouco refinada e com uma maneira de cantar suingada e com uma impostação mais leve, bem mais próxima das rodas de samba suburbanas do que dos teatros e rádios da cidade, Aracy foi recebida com certa desconfiança. Quem primeiro percebeu a potencialidade de sua voz e apoiou os seus primeiros passos foi o já respeitado Noel Rosa. Além de garantir o emprego de Aracy, Noel foi fundamental em sua carreira por dar a ela a chance de gravar, em primeira mão, algumas jóias de seu repertório, como Triste Cuíca (1935), O X do Problema (1937) e Palpite Infeliz (1936). Embora tenha se destacado como intérprete de Noel - talvez, tenha sido a mais importante, pela grande quantidade de clássicos do compositor que lançou -, Aracy também obteve muito sucesso cantando obras de outros autores célebres de seu tempo, como a saborosa Camisa Amarela (1939), de Ary Barroso - que Ary acreditava ser a melhor gravação já feita no Brasil até então -, o bom samba Fez Bobagem (1942), de Assis Valente, e o sofisticado samba-canção Saia do Caminho (1946), de Custódio Mesquita e Evaldo Rui. Depois de sua fase de maior sucesso, que durou até a primeira metade dos anos 50, Aracy de Almeida continuou tentando manter seu trabalho artístico, mas no início dos anos 70, cansada, deixou de cantar para ser jurada da Buzina do Chacrinha, na TV Globo. A partir de então, criou-se aquela imagem antipática que ficou marcada na memória das gerações mais novas. A Aracy doce, que acompanhava o amigo Noel Rosa em suas peregrinações pelos cabarés da Lapa, servindo-lhe como sua porta-voz nas cantorias, ou que gostava de cozinhar para Antônio Maria, de quem cuidava com zelo quase maternal, ficou irremediavelmente perdida. Cristina Buarque e Márcia - Boteco do Cabral. Amanhã, às 21 h. Sesc Ipiranga (R. Bom Pastor, 822 - 3340-2000. De R$ 6 a R$ 12.

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