Botando a cara para bater

Tributo à Legião Urbana coloca Wagner Moura no papel mais difícil de sua carreira: assumir o lugar de Renato Russo

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Por Emanuel Bomfim
Atualização:

Fã algum, em sã consciência, poderia pensar em reviver a Legião Urbana sem a presença de Renato Russo. Nem mesmo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá cogitaram tal possibilidade. Desde que o cantor morreu, em outubro de 1996, nenhum movimento em torno da banda foi tão ousado quanto este que se sucederá na terça e na quarta, no Espaço das Américas. Por mais que se reforce o tom de tributo, no palco estará a formação original do grupo, só que desta vez acompanhada de um único e novo vocal - não de vários, como foi a apresentação com a Orquestra Sinfônica Brasileira no Rock in Rio. Todo foco estará em Wagner Moura, eleito para interpretar os hinos de um dos fenômenos mais importantes do rock brasileiro nos últimos 30 anos.

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A ideia, aparentemente inusitada, partiu do ex-presidente da MTV, André Waisman, que é próximo a Dado. Desconfiado, o guitarrista não vetou a proposta logo de cara, disse que “até torceu para que Wagner dissesse não”, mas foi surpreendido com a reação empolgada do ator. “A resposta dele foi tão entusiasmada e esfuziante que eu pensei: ‘Cara, a gente vai fazer’”, contou o músico durante uma pausa dos ensaios no Rio de Janeiro no início do mês. “Depois que a gente falou com ele, a gente chegou a uma conclusão: esse cara é corajoso pra caramba!”, emenda Bonfá. 

Wagner estava participando do Festival de Berlim quando recebeu o convite e não hesitou em abraçar o projeto, mesmo diante do desafio de cumprir o papel de um de seus ídolos na juventude. “Eu não tinha como não aceitar. Eu sou muito fã da Legião Urbana. Se alguém te liga em casa e diz: ‘Quer fazer um show com Dado e Bonfá?’ O que você vai responder? É claro que sim!”, explica. 

Apenas uma homenagem. A primeira preocupação dos responsáveis, tanto da MTV, quanto dos três artistas, foi deixar claro que se tratava de uma homenagem e não de uma retomada da banda, evitando, assim, reações mais indignadas de fãs. “É um negócio muito arriscado para todos nós. Todo mundo está botando a cara para bater”, admite Moura. “Eu vou funcionar como um porta voz dessas milhões de outras vozes que precisam ouvir essas músicas, que precisam ver esses caras juntos no palco de novo.”

Não é só o sucesso e ampla projeção nos cinemas que credenciou Wagner Moura para a difícil tarefa. Quando não está em cena, o ator canta com sua banda da época de colégio, Sua Mãe. O talento musical ainda permitiu que demonstrasse sua veneração pela Legião nos filmes Vips e Homem do Futuro, onde interpretou Será e Tempo Perdido, respectivamente. 

Todo mundo. “O Wagner está cantando as músicas da forma que ele entende. Está sendo interessante de se acompanhar. Ele se coloca ali dentro, emana toda aquela força que a canção representa”, elogia Dado. “Tem essa coisa da Legião ser meio de todo mundo. A gente quer que a galera cante também e ele é o cara que vai fazer isso”, completa Bonfá.

O tributo vai virar CD e DVD, parte da série MTV Ao Vivo, além de ser exibido ao vivo na programação da emissora, na terça-feira à noite. No repertório, não faltarão hits que tocam e fazem sucesso até hoje nas rádios, além de alguns lados B e faixas dos últimos dois álbuns da Legião (A Tempestade e Uma Outra Estação), jamais executados ao vivo pela banda. Por sugestão de Wagner, o diretor teatral Felipe Hirsch assumiu a direção cênica e também ajudou na escolha das 25 músicas previstas para a noite. “Eu sugeri a entrada de cinco ou seis canções”, revela. 

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Com ele, o projeto ganhou recentemente outro chamariz: o guitarrista Andy Gill, do Gang of Four, irá se juntar ao grupo para tocar faixas da Legião e de sua banda de origem. O objetivo é apresentar ao público algumas das influências na formação do trio brasiliense. “Podia falar do Clash, dos Pistols, até do Buzzcocks, mas o Renato Russo falava muito era do Gang of Four. É uma banda extremamente sofisticada dentro do punk inglês”, avalia Hirsch.

Segundo Dado, Bonfá e o próprio Wagner, os shows funcionarão como uma espécie de “último ato” neste resgate da Legião Urbana, ainda que no plano comercial a banda nunca tenha deixado de mostrar sua força. São, afinal, mais de 15 milhões de discos vendidos, entre os de estúdio e diversas coletâneas feitas posteriormente. “É um fenômeno extraordinário. Os artistas que eu mais gosto são os que conseguem ser populares e ao mesmo tempo muito coesos com a natureza de sua arte. A Legião conseguia este equilíbrio de uma forma muito bonita”, define Moura.

TRIBUTO À LEGIÃO URBANA

Espaço das Américas. R. Tagipuru, 795, Barra Funda. 3ª e 4ª, às 21 h. R$ 200 (dia 29, esgotados)

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