Bossa nova lança Victoria Abril como cantora

Cantando Jobim, Chico, Caetano, Caymmi e Vinícius, o álbum Putcheros do Brasil acaba de sair na Argentina e está entre os mais vendidos na França

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Por Agencia Estado
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A atriz espanhola, que ficou conhecida como a garota de Almodóvar, estréia como cantora em um disco que reúne clássicos de Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso e diz que "a bossa nova foi feita para mim". Para divulgar sua incursão pela música, a atriz concedeu uma entrevista por telefone a Gabriel Plaza para a versão online do jornal argentino lanacion.com.ar, enquanto participava, em Madri, da promoção de seu novo filme, Tirant lo Blanc, de Vicente Aranda. Seu disco Putcheros do Brasil acaba de sair na Argentina e está entre os mais vendidos na França. "Quarenta anos tem a bossa nova... como eu. Por isso sinto que a bossa foi feita para mim, para um cavalinho tão pequeno como o meu", disse Victoria ao lanacion.com.ar A atriz deu uma reviravolta na sua vida e entrou em um estúdio de gravação para cantar canções de Jobim, Chico, Caetano, depois de muitos anos conquistando o público do cinema e o apelido de "garota de Almodóvar", por seu papel em Ata-me, do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Sobre a entrada de Putcheros do Brasil na lista dos mais vendidos da França, Victoria disse: "Estamos em terceiro lugar, e muitas vezes é preciso esperar meses para que ocorra algo assim...". A atriz-cantora vive em Paris desde os 22 anos, junto com seus filhos Martín e Félix. Na Espanha, seu país de nascimento, é recebida como uma atriz consagrada - condecorada com a Medalha de Ouro do Mérito das Bellas Artes -, mas seu disco não é ouvido. "O disco não fez sucesso, na Espanha, porque não é ouvido. Aqui as coisas são complicadas e é preciso ter paciência". Novata nos estúdios de gravação, a atriz de mais de 20 filmes foi a produtora do CD e gravou Tom Jobim (Água de Beber, Samba de Uma Nota Só e Águas de Março), Dorival Caymmi (Doralice), Jorge Ben (Mais que Nada) Roberto Menescal (O Barquinho), Caetano Veloso (Desde que Samba). Há também uma canção de Chico Buarque em versão francesa (Tu Verras) e uma canção inglesa (Bubbles) da dupla George Forrest & Robert Wright. "Isto é um scanner de minha alma, toda minha experiência, o dinheiro para fazê-lo, meu passado, meu presente... Isto não é um capricho, foi uma terapia depois de parar de atuar durante dois anos. Perdi nove quilos e foi como ver nascer um bebê lindo, lindo...", disse Victoria, falando sem respirar, orgulhosa de seu "primogênito musical". "Isso é muito diferente do cinema, em que a gente termina uma cena, deixa a peruca no camarim e vai embora. Com a música, não é assim. A gente fica 24 horas com a música na cabeça e ela nos persegue mesmo quando estamos dormindo, comendo, com os filhos, e ela ali, grudada, sempre", disse. Victoria elegeu Javier Limón como produtor e músicos como Rosa Passos, Buika, o menino Josele, Jerry González, Javier Colina, Tino Di Geraldo, El Piraña e Antonio Serrano, entre outros. "É a primeira vez que sou inteiramente responsável pelo que fiz, porque no cinema eu sou um veículo para o diretor, uma peça de xadrez. Aqui fiz de tudo e foi muito divertido, porque foi como fazer muitos papéis", declarou na entrevista que reproduzimos em parte: O que você esperava de sua estréia como cantora? Começar a cantar sendo atriz é lento. É como se os 30 anos dedicados à interpretação não tivessem servido para nada. Mas, enfim, cantar é interpretar. Que personagem você inventou para cantar? Aqui sou Victoria de corpo e alma. Por que você decidiu encarar um ritmo tão difícil como a bossa nova? A bossa se canta com um perpétuo fio de voz que vai fazendo pequenos desenhos rítmicos, entende? Eu me diverti fazendo de tudo com este álbum, música africana, flamenco, jazz, swing, hip hop, tudo. A bossa permite fazer tudo em cima desses textos feitos por filósofos e poetas. O flamengo e a bossa se parecem em duas coisas muito importantes, pode-se cantá-la somente com um violão e sentir. O que te lembram essas canções? Aos primeiros amores. Canta-se como dizia Jobim, "olhando nos olhos". A bossa não deve ser cantada afinada, mas com o coração e suavemente desafinada. Jobim foi o Eminem de meus 12 anos, ele revolucionou a música com 25 anos. O seja, tenho tudo para adorá-lo. Acima de tudo, foi uma das coisas que Franco não nos censurou: a bossa nova.

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