PUBLICIDADE

Bob Dylan estreia na China aos 69 anos e sem músicas de protesto

Cerca de 10 mil pessoas assistiram ao primeiro show do cantor no país

Por EFE
Atualização:

PEQUIM - Foi preciso esperar 50 anos de carreira, mas nesta quarta-feira, 6, Bob Dylan pôde finalmente se apresentar na China comunista, embora sem cantar seus hinos políticos mais famosos, The Times They Are A-changin e Blowin' In The Wind.

 

PUBLICIDADE

O público de Pequim, no entanto, pareceu não se importar. Vibrou emocionado e respondeu com aplausos, especialmente quando Dylan tocou outra de suas músicas mais populares, Like A Rolling Stone.

 

Cerca de 10 mil pessoas, aproximadamente 90% da capacidade máxima, assistiram ao histórico show no Ginásio dos Trabalhadores de Pequim, que não via tanta animação desde quando acolheu as disputas de boxe nas Olimpíadas de 2008.

 

O público, formado em sua maioria por jovens e estrangeiros, também se entusiasmou com outro de seus clássicos, A Hard Rain's A-Gonna Fall, embora tenha se mostrado um pouco frio no início do show, quando Dylan tocou alguns de seus trabalhos mais recentes.

 

O artista, que no dia 11 de abril comemorará 50 anos de carreira, preferiu em boa parte da apresentação desviar o centro das atenções para seus companheiros de banda, tocando quase sempre o teclado em uma das laterais do palco, embora em algumas ocasiões tenha prendido o violão no pescoço e lançado mão de sua inseparável gaita, obtendo as mais entusiasmadas palmas do público.

 

Tudo isso em um cenário austero, no qual a longa sombra do cantor e seu chapéu foram, na maior parte do tempo, a única decoração.

 

Dylan quase não falou com o público entre as músicas, mas compensou dando o máximo de sua rouca voz em cada canção e pondo a plateia de pé no final da apresentação, algo raro em um país onde en todos os shows o espectadores ficam sentados.

Publicidade

 

No fim do espetáculo, ao contrário do que aconteceu em sua performance anterior - em Taipé, capital da ilha de Taiwan - Dylan não recitou sua ode contra a guerra, Blowin' In The Wind. Optou por uma canção sem conotações políticas com a qual se declarou disposto a continuar na estrada por muitos anos: Forever Young.

 

A ausência de canções como The Times They Are A-changin', que nos anos 1960 alimentou os sonhos revolucionários ocidentais, faz pensar se a censura chinesa, como ocorreu há meia década com os Rolling Stones, não teria enviado aos organizadores uma lista de canções 'não permitidas', embora a pergunta a esta dúvida, como diria Dylan, está pairando no vento.

 

Contudo, a apresentação do antigo 'rebelde', que será repetida dentro de dois dias em Xangai, é um detalhe, embora simbólico, da abertura do país ao exterior, em um momento especialmente difícil para as liberdades no gigante asiático, devido à perseguição e à dissidência elevada com a prisão do mais famoso artista nacional, Ai Weiwei.

 

O show desta terça-feira, 6, unido a outros apresentados recentemente em Pequim por artistas veteranos como The Eagles, levanta a hipótese de que as autoridades culturais chinesas abandonaram o receio sobre as estrelas de rock estrangeiras gerada depois de 2008, quando a islandesa Björk pediu a independência do Tibete em Xangai.

 

Dylan, por sua vez, tem nos próximos dias outro evento de grande importância simbólica para sua carreira: um show marcado para o próximo dia 10 de abril em Ho Chi Minh, a antiga Saigon.Será sua primeira atuação no Vietnã, um país cuja guerra foi condenada pela juventude americana enquanto ouvia as canções deste pai do rock alternativo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.