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Bob Dylan chega aos 60 anos

Dylan tornou-se uma referência cultural, e continua servindo de baliza histórica, com sua excentricidade e intensa criatividade musical e, de certa forma, também filosófica. Revitaliza sua arte nos anos 80 e ganha um Oscar no começo do novo século

Por Agencia Estado
Atualização:

Bob Dylan faz 60 anos nesta quinta-feira. Nascido Robert Allen Zimmerman em Duluth, Minnesota, em 24 de maio de 1941, o judeu de voz amarfanhada adotou seu codinome em homenagem ao poeta Dylan Thomas e, em 40 anos de carreira, tornou-se um dos maiores mitos da música popular americana no século 20. "Suas palavras sempre tiveram um certo sabor bíblico", diz Bono Vox, do U2, sobre o ídolo, em edição especial da Rolling Stone sobre a lenda folk - que traz ainda depoimentos de Tom Petty, Joni Mitchell, Scott Spencer e Jonathan Lethem. "Não importa em que ponto você está de sua vida, há sempre um disco de Dylan que ajuda a mapear o caminho" afirma o líder da banda irlandesa. Segundo a escritora e ensaísta Camille Paglia, Dylan é um produto total da cultura judaica, para a qual a palavra é sagrada. Ela considera que seus três surrealistas e elétricos álbuns de 1965-66 contêm maciças influências sobre meu pensamento e escrita. "E seus melhores trabalhos mostram de que forma opera a imaginação criativa - em uma corrente alucinatória de sensações e emoções que talvez mesmo os mais ensandecidos artistas não tenham entendido completamente." Dylan tornou-se uma referência cultural, e continua servindo de baliza histórica, com sua excentricidade e intensa criatividade musical e, de certa forma, também filosófica. O começo de sua história já é muito particular. No final dos anos 50, ele tocava em grupos de rock´n´roll na Universidade de Minnesota. Um desses últimos grupos, the Golden Chords, ele deixou com um recado no yearbook da turma: "Estou largando para seguir Little Richard." Em 1960, ele pegou a Highway 61 e foi para Nova York com a intenção de visitar seu mestre e preceptor, o músico folk Woody Guthrie, àquela altura sofrendo de uma espécie rara de paralisia que já o mantinha na cama por oito anos. Dylan nunca se manteve demasiado longe da influência de Guthrie nos anos seguintes. Sua primeira turnê começou em abril de 1961 no Greenwich Village, abrindo shows do bluesman John Lee Hooker. Naquele mesmo mês, ganharia US$ 50 tocando gaita no disco Midnight Special, de Harry Belafonte. Um produtor nova-iorquino, John Hammond Sr., vê Dylan tocando no Gerde´s Folk City do Greenwich Village e lhe oferece um contrato. Em outubro de 1961, Dylan gravaria seu primeiro álbum, Bob Dylan, com versões cruas de canções tradicionais, como House of the Rising Sun. Não emplaca nas paradas, mas uma de suas mais conhecidas canções, Blowin´ in the Wind ("Quantos caminhos um homem deve seguir até ser aceito como um homem?") é publicada pela revista Broadside e começa a ser forjada a lenda. Em 1963, Dylan - já com o nome famoso - gravaria The Freewheelin´ Bob Dylan, que trazia composições próprias (como A Hard Rain´s Gonna Fall e Masters of War) e o projetaria como um novo líder da canção de protesto antiburguesa. Suas atitudes ajudam a criar uma aura de resistência. Ele é convidado para o Ed Sullivan Show, mas como uma de suas canções é vetada (Talking John Birch Society Blues), Dylan recusa-se a ir. Ele surge na famosa marcha de Washington de agosto de 1963, na qual Martin Luther King pronunciou o seu famoso discurso (Eu tenho um sonho) e torna-se amigo dos beatniks, de Allen Ginsberg a Gregory Corso. Seu novo álbum, The Times They Are A-Changin, traz baladas políticas de inspiração brechtiana. Em 1965, Dylan começa a turnê desse álbum pela Inglaterra e a excursão é registrada no clássico documentário Don´t Look Back, dirigido por D.A. Pennebaker, que está sendo relançado agora em DVD por ocasião dos 60 anos do cantor. "Eu provavelmente tinha ouvido apenas uma canção dele e nunca o tinha visto antes", lembra Pennebaker. "Mas uma vozinha dentro de mim dizia: Isso é uma coisa boa, vá!" O diretor ficou três semanas atrás de Dylan, produzindo um filme que estabeleceu novas regras para o documentário musical. Dylan massacra jornalistas que lhe pedem para explicar suas letras, ignora sua namorada Joan Baez e fala de seu então rival na época, Donovan, "o outro cantor folk". Segundo Pennebaker, a idéia não era narrar alguma coisa, nem dizer o que pensava sobre aquilo, mas apenas "mostrar o que víamos". Segundo ele, recentemente Dylan viu o DVD, veio até sua casa e perguntou: "Como conseguiu aquele som esplêndido?" Pennebaker respondeu. "É mono." Dylan disse então que gostaria de gravar de novo, do mesmo jeito, com a mesma banda, aquelas 24 canções. Apenas não gostou da própria performance. "É um grande filme, eu só sinto que seja sobre mim", diz Pennebaker. É uma história muito movimentada para ser contada de um só impulso. Dylan tornou-se religioso extremista nos anos 70 e é "homenageado" por Lennon na canção God ("Eu não acredito em Zimmerman"). Revitaliza sua arte nos anos 80 e ganha um Oscar no começo do novo século. O tempo está em suave mutação para esse bardo esquisito.

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