BMG comemora centenário com coleção de CDs

A gravadora relança títulos raros como The New Sound of Brasil, de João Donato, e faz compilações duvidosas de artistas como Fafá de Belém, José Augusto e Eliana

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Por Agencia Estado
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A gravadora BMG, ex-RCA (Radio Corporation of America) Victor completa, neste ano, 100 anos de existência. Para comemorar, vem tirando dos arquivos e reeditando, digitalmente remasterizados, 100 discos - boa parte deles nunca antes ouvida em CD. O projeto 100 Anos de Música tem um lado bom e um nem tanto. O lado bom é o que recupera títulos originais, com capas originais, obediente à intenção do protagonista. O lado nem tão bom é o de coletâneas, CDs duplos que misturam faixas de discos diversos, transformando a obra na costumeira salada característica das coletâneas. Da parte boa, saíram, até agora, 20 CDs, de gêneros diversos, da bossa de João Donato (The New Sound of Brasil, de 1965) ao soul de Cassiano (Imagem e Som, de 1971). Da outra parte, coletâneas tão díspares como as de Fábio Júnior, Martinho da Vila, José Augusto, Pato Fu. Ao todo, 45 CDs, em que se contemplam todos os gostos. Mas antologias são artigos de qualidade sempre duvidosa. Os destaques da parte boa são muitos. Alaíde Costa Canta Suavemente (1960), João Bosco (1973), O Romance do Pavão Mysteriozo (de Ednardo, 1975) e A Bossa do Gordurinha (1962) são quatro títulos que seguramente estão entre os mais importantes. Estão entre os que não tinham mercido anteriormente edição digital. Sumidades - Alaíde Costa canta - suavemente, como sempre -, com arranjos do maestro Nelsinho, alguns compositores que já eram conhecidos naquele 1960, e outros que, como diz Elmo Barros, no texto da primeira contracapa, ela foi buscar no anonimato, "sumidades composicionais" do calibre de - exclamação - Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli (Jura de Pombo) e Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini (Chora Tua Tristeza). Habitam o universo sonoro, ainda, Tom Jobim e Newton Mendonça (Discussão), Marino Pinto e Aluísio Barros (História de Nossa História), Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim (O Nosso Olhar). João Bosco é o primeiro disco do compositor. Os arranjos são de Luiz Eça e Rogério Duprat. As parcerias, quase todas com Aldir Blanc (Paulo Emílio co-assina com a dupla Quem Será e assina sozinho a letra de Amon Rá e O Cavalo de Tróia; Claudio Tolomei é o letrista de Bernardo, o Eremita. O grande clássico é Bala com Bala, que Elis Regina gravaria com imenso sucesso. São fantásticos Fatalidade (Balconista Teve Morte Instantânea) e Alferes. O Romance do Pavão Mysteriozo é primeiro solo e o melhor disco do químico cearense Ednardo, que já havia gravado em discos coletivos com o assim chamado Pessoal do Ceará - Fagner, Belchior e cia. Além da música-título, que seria tema de abertura da revolucionária novela global Saramandaia (de Dias Gomes), tem preciosidades como o bolero Dorothy Lamour, uma versão de A Palo Seco, de Belchior, a canção Ausência, de Ednardo, mesmo. A Bossa do Gordurinha é disco do baiano - ídolo de Gilberto Gil - Waldeck Artur de Macedo, que trocou a medicina pela música sempre engraçada, gaiata. Esse disco tem cocos, sambas, rojões, chá-chá-chás, rumbas, quase todas de autoria do cantor. Músicas menos conhecidas do que outras que compôs ou interpretou, como Súplica Cearense, Vendedor de Caranguejos ou Chiclete com Banana, todas, aliás, regravadas por Gil. Os outros títulos dessa parte boa são Fruto e Raiz, de Alcione; Gafieira Universal, da Banda Black Rio; Ziriguidum no Sambão, de Carmem Costa; Cartola - 70 Anos; Modo Livre, de Ivan Lins; Capim Novo, de Luiz Gonzaga; Miúcha e Antoniio Carlos Jobim; Cauby Canta para Ouvir e Dançar; Quatro Grandes do Samba, com Nelson Cavaquinho, Candeia, Guilherme de Brito e Elton Medeiros; Carinhoso, de Orlando Silva; O Samba É a Corda, os Originais a Caçamba, dos Originais do Samba; Quinteto Ternura; e Se Todo Mundo Cantasse Seria bem mais Fácil Viver, de Wilson Simonal. Coletâneas - Talvez nem todo o público amante de música saiba, mas um dos itens importantes na feitura de qualquer disco é a ordenação das faixas, que obedece ao conceito geral daquelas 12 ou 15 músicas selecionadas entre centenas - no caso dos intérpretes, dos não-compositores, sempre centenas. Uma coletânea desfaz o arranjo. Por melhor que seja, ofende o princípio que norteou a feitura dos discos. Portanto, cabe aqui apenas mencionar quais são os artistas de obra compilada (ainda que alguns deles possam ter gostado das reedições, pelo menos aqueles que estão fora de mercado). Aos nomes: Fafá de Belém, Antônio Marcos, Alcione, Gian e Giovani, Renato Teixeira, Maria Bethânia, João Bosco, Roupa Nova, Joanna, Pholhas, Os Incríveis, Luís Gonzaga, Martinho da Vila, Sérgio Reis, Pato Fu, Dominguinhos, Zeca Pagodinho, Só pra Contrariar, Sá & Guarabira, Beth Carvalho, Lulu Santos, Orlando Silva, Bezerra da Silva, José Augusto, Fagner, Nenhum de Nós, Amado Batista, Alceu Valença, Leandro e Leonardo, Altemar Dutra, Elba Ramalho, Lobão, Bebeto, Fábio Jr., Gal Costa, Sandra de Sá, Engenheiros do Hawaii, Toquinho, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Chiclete com Banana, Escolas de Samba (a BMG edita anualmente os discos com os sambas-enredo do grupo principal do Rio), Eliana, Zé Ramalho e Chrystian & Ralf.

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