Björk conspira contra a melodia em novo álbum

Em seu novo álbum, Vespertine, a cantora islandesa explora um mundo totalmente desvinculado do real e já livre dos ruídos incidentais de suas últimas músicas

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Por Agencia Estado
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Harpas, coros esquimós e um certo desejo de fazer música como quem faz preces que possam pairar acima do espaço e do tempo e do desejo humano. O mundo da cantora islandesa Björk - que entrou de sola no universo pragmático de Hollywood na cerimônia do Oscar, este ano, com a trilha e a atuação em Dançando no Escuro - é um mundo imaginado, totalmente desvinculado do real. Vespertine (Universal Music) é tão crepuscular quanto a trilha que Björk fez com Lars Von Trier para o filme Dançando no Escuro. Só que, livre dos ruídos incidentais do musical de Trier, o trabalho parece evoluir para algo que prescinde de imagens para existir. Envolta em coros de caixinhas de música (caso explícito da faixa Frosti), a arte de Björk é antimelódica, uma linha de cardiograma com ondulações suaves. Como as experiências de Laurie Anderson nos anos 80 e a poesia beatnik dos anos 50, a arte da islandesa quer ser representação sonora, antes de música. Não à toa, ela nos remete ao poeta americano e.e.cummings em Sun in My Mouth. Cummings explorava a sonoridade das palavras em poemas que aboliam métrica e arquitetura. Assim é a construção de Björk. Seu arsenal é que é diferente. Em Heirloom, a eletrônica cria dimensões em torno de um arcabouço de bossa, enquanto a cantora conspira contra a melodia com sua voz de fada. Nunca nos dá nada que se possa assobiar, mas não é por falta de generosidade. Björk é inteligente, única e abusada e ganhou o direito de destruir com seus esquis os nossos anjos de neve. Vespertine. Novo CD da cantora Björk. Lançamento Universal Music. Preço médio do CD: R$ 25,00. Nas lojas.

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