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Biografia vai fundo na importância do Pink Floyd para a música mundial

Assinada pelo crítico inglês Mark Blake, 'Nos Bastidores do Pink Floyd' chega às livrarias neste mês

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Por Redação
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Admiradores do Pink Floyd e de sua perene obra-prima têm muito com que se divertir. No fim de março, Roger Waters, baixista, compositor e ex-líder do grupo, traz ao País a turnê de The Wall, chance única de conferir a exibição completa da lendária ópera rock, que terá shows em Porto Alegre, Rio e São Paulo. Além disso, chegam às lojas esta semana os boxes The Wall - Experience Edition, e The Wall - Immersion Edition (este, só importado), parte final do projeto Why Pink Floyd?. Juntos, resgatam uma quase imensurável memorabilia (não apenas musical) de um dos álbuns mais seminais da história do pop. Ao mesmo tempo, sai no Brasil Nos Bastidores do Pink Floyd (Editora Évora, R$ 59,90), biografia do grupo assinada pelo crítico inglês Mark Blake, que lança luz na história da banda como poucas fizeram até aqui.Editor-chefe de edições especiais das revistas Q e Mojo, Blake já assinou biografias de Bob Dylan, Queen e Keith Richards, além de um volume sobre a história do punk rock. A chama pelo Pink Floyd, ele diz, foi acesa a partir de um show no Earls Court de Londres, em 1980. Lançada originalmente em 2007, a obra até peca por certo formalismo, mas Blake se sai bem ao costurar apuração e processo investigativo espartanos em texto de bom ritmo. Outro mérito seu foi esquadrinhar exaustivamente o início da banda. Por conta disso, a primeira parte debruça-se sobre a formação do grupo, no fim dos anos 60. Nas entrelinhas das entrevistas com um sem-número de amigos de infância, parentes e ex-colaboradores dos tempos em Cambridge, emerge um Syd Barret (1946-2006, fundador e líder do grupo em sua primeira fase) comparável ao Dorian Gray de (Oscar) Wilde, tamanho o magnetismo de sua estranha personalidade. Na outra ponta da tabela, no auge do sucesso, Blake desnuda um Roger Waters duro, irascível e pouco tolerante com meio mundo, capaz de evidenciar seu completo desprezo à imprensa para depois mandar cartas de próprio punho a jornalistas em que se desculpa por tratar mal "os membros de sua horrível profissão". Fica claro ao longo da leitura que as antigas feridas que impedem um retorno do grupo provavelmente nunca cicatrizarão. Nos anos 80, durante a batalha legal pelo nome da banda, David Gilmour (guitarra), Rick Wright (teclados) e Nick Mason (bateria) saíram vitoriosos; Waters levou os devidos direitos por The Wall, desde então associado umbilicalmente a seu nome. "Nas últimas décadas, o Pink Floyd tem sido o bebê de David", ironizou o baixista. Em 2005, no evento Live8, em Londres, os quatro músicos remanescentes dividiram um mesmo palco após hiato de 24 anos. O set foi curto, apenas quatro canções. Ainda assim, os bastidores foram tensos - ressentimentos e a queda de braços entre Waters e o guitarrista David Gilmour reapareceram, especialmente quando o primeiro quis executar os sucessos do grupo com os arranjos diferenciados que costuma fazer em seus shows solos. Gilmour contemporizou, dizendo que as pessoas esperavam ouvir as músicas exatamente em suas versões originais. E assim foi feito. Foram apenas 18 minutos. "Mas foi estranho e desconfortável", declararia a amigos, mais tarde. Passagem das mais aguardadas, um dos highlights do livro é a fase das complicadíssimas gravações de The Wall, com a banda praticamente desfazendo-se no estúdio. Em meio ao clima carregado, e a contragosto dos demais, Waters assume as rédeas, a ponto de despedir o tecladista e cofundador Rick Wright para depois recontratá-lo como músico freelancer. Os poucos shows de The Wall quase levaram a banda à falência, gerando um rombo de perto de US$ 600 mil. Um promotor ofereceu US$ 2 milhões para shows no JFK Stadium, em Nova York, mas Waters recusou, com base em suas convicções de que os resultados artísticos de The Wall ao vivo eram decepcionantes. De acordo com Blake, este foi mais um fator a explicar o apagar das luzes.Entrevista - Mark Blake - BIÓGRAFO DO PINK FLOYDÀ altura de Beatles e StonesPor e-mail, de Londres, onde mora, o jornalista Mark Blake comenta ao Estado o lançamento no Brasil de Nos Bastidores do Pink Floyd.O que diferencia seu livro das muitas biografias?Meu livro atualiza a história do Pink Floyd. Há nele uma infinidade de pessoas que nunca haviam sido entrevistadas antes para falar de sua relação com a banda.Syd Barret emerge na obra como um dandy, cujo carisma influenciava todos ao seu re-dor, não?Barrett era um jovem com um imenso e estranho carisma. Quando saiu da banda, inicialmente seus amigos acharam muito difícil continuar sem ele.O que faz do legado do Pink Floyd tão influente hoje, se comparado aos demais grupos de sua geração?É tão importante, mas não maior, que o dos Beatles e dos Rolling Stones. É verdade que nunca se tornou um monstro sagrado como esses, mas o que faz com que sucessivas novas gerações descubram o apelo de sua música é o fato de ela lidar com temas universais: medo de crescer, medo de envelhecer, sentimentos de não pertencimento, de ser um outsider. Esse tipo de assunto nunca sai de moda.The Wall até o último tijolo. Música em profusão, e ainda filmes, documentários, livros de fotos, figurinhas e objetos customizados, como canecas e bolinhas de gude. Difícil imaginar um projeto que saciasse mais a sede de fãs de bolsos, digamos, confortáveis, do que Why Pink Floyd?. A festa começou em setembro de 2011, com a reedição de todo o catálogo do grupo em versões Discovery (remasterizadas) e edições digitais, acompanhados de álbuns de fotografia. Depois vieram a coletânea A Foot in The Door - The Best of Pink Floyd, e edições Experience (remasterizações + extras) e Immersion (discos remasterizados + extras + itens para colecionadores) dos clássicos Dark Side of The Moon e Wish You Were Here. Agora, o ciclo se fecha com o lançamento de The Wall, também em versões Experience e Immersion, lançados mundialmente esta semana. O primeiro, a R$ 89; o segundo, em versão apenas importada, a R$ 860 - com direito a uma infinidade de brindes. As duas novas edições de The Wall somam nada menos que nove CDs e um DVD. Se por um lado as atuais remixagens elevam a qualidade sonora à estratosfera, difícil é separar o joio do trigo, entre incontáveis demos, esquetes de canções e versões inéditas. Por outro lado, esse cancioneiro revela o grupo em ebulição, em pleno processo criativo, lapidando suas crias até dar-lhes versões definitivas. Há também muito material ao vivo, quesito na qual a versão Immersion é generosa.

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