Biografia de Iggy Pop explora os detalhes sórdidos da carreira do mito do rock n' roll

'Open Up and Bleed', do jornalista britânico Paul Trynka, busca retrato equilibrado do músico; Iggy disse ter lido o livro

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

“Não foi um livro autorizado nem desautorizado. Fui neutro. Nunca permiti, mas também nunca o ajudei”, diz Iggy Pop ao Estado (clique aqui para ler), em um dos momentos da entrevista da última terça-feira, 6. “Ele ia com frequência até Miami para me visitar. Finalmente, depois de uma última e longa entrevista, ele me disse que tinha sido chamado para escrever minha biografia e perguntou se eu não queria fazê-la junto com ele. Eu disse educadamente que não, mas percebi que ele já tinha tudo o que queria de mim. Achei isso perverso. Mas, veja, eu acredito muito em carma, faço tai-chi. Então não me opus. Não liguei para os meus amigos e não disse para que eles não falassem sobre mim. Isso me traria uma energia ruim. Não queria ajudá-lo também porque seria muito bonzinho da minha parte. E você não quer um livro bonzinho sobre Iggy Pop, quer?”.

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Não, Iggy, ninguém quer.

E ninguém pode dizer que Open Up and Bleed, livro publicado agora no Brasil como A Vida e a Música de Iggy Pop (traduzido por Caco Ishak para a editora Aleph), é um livro bonzinho. “E como pode um homem ser tão inteligente e tão estúpido?”, diz o autor, o jornalista britânico Paul Trynka, na introdução.

“Mas é divertido”, continua Iggy. “Eu li. Metade das histórias são verdadeiras, metade ele errou completamente. Então é meio a meio.”

Também ao Estado, por telefone de Londres, o jornalista diz entender a reação do biografado, com o qual não mantém mais um contato direto.

“Ele já falou sobre o livro algumas vezes, e a reação é razoável. Também sei que ele tem um exemplar em Miami, e tira da prateleira de vez em quando, lê algumas páginas e coloca de volta. Acho que isso é bem doloroso. Ele teve uma vida e tanto. Não foi só show business. Ele estava no limite. Foi um milagre ter chegado até aqui. Não espero que ele leia e fique feliz. Ele se redimiu da vida por causa da sua música incrível, e pelo que ele dá para sua audiência. Mas foi uma vida difícil. Bem como várias mortes ao longo do caminho. Então, deve ser difícil mesmo.”

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Tudo o que um leitor procura numa biografia de rock está aqui: sexo, drogas, turnês, shows enlouquecidos, bastidores da produção dos discos e a frequente aparição de David Bowie. Iggy é o personagem perfeito e Trynka, ex-editor da revista MOJO, dedicou anos ao que ele considera a melhor história do rock n’ roll mundial.

“Você pode tocar o Funhouse para qualquer um e o disco ainda vai estourar seus miolos”, diz o autor. “Eles não sabiam como o rock ‘n’ roll deveria soar, então o inventaram. Tudo que eles fizeram ainda está aí, em qualquer banda de rock alternativo. E sempre vai ser assim.”

O livro explora fartamente a vida de James Osterberg Jr. (nome real de Iggy) – desde sua infância num trailer de uma cidadezinha entre Detroit e Ann Arbor, em Michigan, EUA, passando pelo ensino médio e universidade, a carreira com os Stooges, a ressurreição via David Bowie nos anos 1970, os discos duvidosos dos anos 1980, o relativo sucesso dos 90, e a reforma dos Stooges nos anos 2000. Ufa.

Iggy nasceu em 1947, e logo seus pais, da classe média trabalhadora, se mudaram para uma pequena vila de trailers numa cidadezinha próxima a Detroit. Ele foi um bom aluno e, durante o ensino médio e a faculdade, seus colegas realmente acreditavam na sua pretensão de ser um dos próximos presidentes dos Estados Unidos, tamanha sua eloquência e facilidade em construir relacionamentos. Mas, como diz Trynka no livro, “foi a bateria que puxou James Osterberg para longe da política”. 

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“Iggy sempre foi um herói para a minha geração, que cresceu no fim dos anos 1970. Ele era o ícone – não tão conhecido, mas a mensagem que ele carregava mudou a vida de muitas pessoas. Ele foi responsável num nível alto pelo movimento punk da Inglaterra”, observa Trynka, cujo livro sobre Iggy foi sua primeira biografia, lançada em 2007; depois, ele publicou livros sobre David Bowie e Brian Jones, dos Stones.

Depois do fim um tanto conturbado dos Stooges em 1974, Jim Osterberg passou meses numa vida meio sem chão que incluiu quantidades absurdas de drogas variadas, shows ao lado do tecladista do Doors, Ray Manzarek, e culminou na sua internação em um hospital psiquiátrico (período que pode ter salvado sua vida, segundo o biógrafo). Em 1975, o início da duradoura parceria musical com David Bowie renderia os dois melhores álbuns de sua carreira solo até hoje e o início de uma grande recuperação – com intensos altos e baixos – que chega, aos 68 anos, vivo e feliz, na próxima sexta-feira, 16, a São Paulo. / COLABOROU PEDRO ANTUNES

A VIDA E A MÚSICA DE IGGY POP

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Autor: Paul Trynka

Tradutor: Caco Ishak

Editora: Aleph (536 págs., R$69,90, capa dura)

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