Billy Paul cantou e gravou com os grandes do jazz, ganhou Grammy e virou lenda do soul

Cantor morreu neste domingo, 24, nos EUA

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Por Julio Maria
Atualização:

A voz de veludo, o homem que, ao lado de Marvin Gaye e Billy Joel, aumentou a taxa de natalidade pelo mundo a partir dos anos 1960 apenas com o ato de cantar. Billy Paul, de 81 anos, morreu na manhã deste domingo (24). A notícia foi primeiro contestada nas redes sociais, mas confirmada depois em seu site billypaul.com e veiculada pelo site NBC, da Filadélfia, que entrevistou a empresária do cantor, Beverly Gay. 

O músico já havia recebido um diagnóstico de câncer de pâncreas e tinha sido hospitalizado na semana passada. Billy Paul morreu em casa, em New Jersey. Um comunicado apareceu em seu site no início da noite: “Lamentamos anunciar, com o coração partido, que Billy faleceu hoje em casa depois de enfrentar uma grave condição médica. Nós gostaríamos de estender nossas mais sinceras condolências à sua mulher Blanche e à sua família pela perda”.

Billy Paul Foto: AFP PHOTO | GETTY IMAGES NORTH AMERICA | Noel Vasquez

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Billy cultivou no Brasil uma imagem ligada sobretudo ao sucesso de sua recriação de Your Song, de Elton John, uma gravação de 1973. Mais que uma versão, ele conseguiu, de fato, criar uma outra música com sua interpretação de divisão rítmica mais solta, um feito raríssimo entre canções consagradas. Mas lembrar da lenda da soul music apenas por esse episódio é reducionista. Billy escreveu uma história bem mais longa e importante.

Um dos artistas que mais devotaram suas vidas ao Brasil – ele vinha para se apresentar em São Paulo uma vez por ano, desde a década de 1980, e declarou sua paixão pelo Corinthians assistindo aos clássicos do time em pleno Itaquerão. Seu suingue já era latente aos 11 anos, quando começou a dar sinais de vida criativa em uma rádio da Filadélfia. 

Nascido na Pensilvânia, em 1.º de dezembro de 1934, sua carreira rendeu algo depois de muito suor. Antes de os anos 1970 chegarem para abraçar seu estilo, ele peregrinou pelos clubes de jazz e festivais universitários nos Estados Unidos. Conseguiu assim, por meados dos anos 1950, viver o ambiente de Charlie Parker, Nina Simone, Miles Davis e Roberta Flack. O jazz, no entanto, seria apenas uma de suas referências, e não falaria mais alto do que a soul music.

Depois de uma temporada nas Forças Armadas, ele chegou com um disco que poucos ouviram, Felling Good At The Cadillac Club. Apenas uma década depois, em 1972, o sucesso chegaria com a gravação da música que seria para sempre seu cartão de visitas: Me and Mrs Jones. A música ficou em primeiro lugar nos Estados Unidos durante todo o mês de dezembro e ajudou a vender dois milhões de discos, seu primeiro estouro comercial.

Em 1985, Billy seguiu a fórmula de Marvin Gaye e tentou fazer sua Sexual Healing gravando Sexual Therapy. Não foi processado por plágio, mas também não chegou aos pés de Gaye. A canção, no entanto, o manteve vivo e suingando nas pistas de dança. Um de seus poucos episódios polêmicos se deu com a gravação do disco Am I Black Enough for You? (eu sou negro o bastante para você?). Lançado em 1974, o disco foi boicotado pelas rádios e acabou marcando um de seus maiores fracassos. Ele voltava ao topo de sua montanha-russa, no entanto, um ano depois, com o novo petardo: Thanks for Saving My Life, um feito para ficar entre as dez mais tocadas nas rádios de soul dos Estados Unidos.

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Foi no fim dos anos 1980 que Billy Paul anunciou sua aposentadoria. A partir dali, passou a lançar mais coletâneas e a se apresentar apenas em lugares dos quais gostava. Foi quando o Brasil passou a fazer parte de seu roteiro anual. A Lapa, no Rio, era um de seus destinos favoritos. Seu último ganho volumoso com direitos autorais se deu em 2003, quando Billy levou à Justiça a dupla de ex-amigos Gable e Huff pelas reproduções de Me and Mrs. Jones. Billy reclamou de que não recebia o que lhe era de direito e ganhou a parada, sendo ressarcido em US$ 500 milretroativos à época de lançamento da canção.

O público brasileiro se acostumou a recebê-lo como um quase nativo. Suas apresentações por aqui ganhavam um tom espirituoso e com canções generosamente estendidas. Ele se apresentava frequentemente ao lado de cantores brasileiros, como Ed Motta, e fazia shows fora de palcos usuais, como em comunidades do Rio, em 2010, e no Parque Madureira. 

Músico tinha estreita ligação com o Brasil

Billy Paul esteve várias vezes no Brasil. A última foi em agosto do ano passado. Em São Paulo, ele foi uma das principais atrações do Soul Mates Festival, que ocorreu na USP. A frequência de apresentações no País aumentava à medida que seu prestígio no exterior diminuía. Desde 1988, quando gravou o álbum Wide Open, ele estava fora dos estúdios. 

No Brasil, Billy Paul conseguia lotar shows com seus grandes clássicos. Era sempre atração no Nordeste e declarava gostar do clima e das praias de Fortaleza. O artista não se cansava de afirmar a admiração que sentia por Tom Jobim, Elis Regina e Jorge Ben Jor. 

Paul também era corintiano fanático. Influência de Decio Cotomacio, seu empresário nos anos 1980. Colecionava itens do clube e chegou a entrar no campo com o time.