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Beth Carvalho em roda de samba à luz de velas

A cantora lança o CD "Pagode de Mesa 2 - Ao Vivo". O show dura o disco e um pouco mais. Parados na mesa só vão ficar mesmo as velas, que mandou acender no Tom Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Fumante ou não, quem for ao Tom Brasil amanhã e sábado à noite deverá carregar no bolso, por segurança, uma caixinha de fósforos. É que em determinada altura do show que estréia às 22 horas, a cantora Beth Carvalho falará da comunidade que conheceu no bairro de São Mateus, na zona leste paulistana, e pedirá que seja acesa uma vela em todas as mesas da casa de espetáculos. Em São Mateus, a vela é acesa no começo de uma roda de samba - e a duração de sua chama indica quanto tempo vai durar a cantoria. O batuque à sombra da mangueira só acaba quando a vela se apaga. Lançamento do CD Pagode de Mesa 2 - Ao Vivo, o show dura o tempo do disco. Ou melhor, dura o disco e mais um pouco. Dirigida por Túlio Feliciano, craque em fazer de sambistas estrelas de belíssimos espetáculos, Beth desfila as 16 faixas do novo CD e acrescenta alguns sucessos de seu repertório - Coisinha do Pai, Vou Festejar, Camarão Que Dorme a Onda Leva e Dor de Amor, entre outras. No repertório ainda o excelente Bar da Neguinha, transplantado do CD anterior. Parada na mesa só vai ficar mesmo a vela. Oitenta mil - A estréia representa na verdade um retorno ao ninho. Pagode de Mesa 2 foi gravado em setembro na mesma Tom Brasil, num show especial que durou a noite quase toda. "Adoro a Tom, sou amiga do Paulo Amorim, que é dono, ali eu me sinto em casa", elogia Beth Carvalho, durante entrevista dada por telefone, de seu escritório, no Rio. Produzido pela própria cantora, o CD foi uma criação-foguete - "Escolhi o repertório em duas semanas, um recorde", lembra Beth - de lançamento rápido, no fim de outubro. De cara, emplacou um sucesso, Água de Chuva no Mar (Carlos Caetano, Wanderley Monteiro e Gerson Gomes), e vendeu 80 mil cópias em menos de três meses. Pagode de Mesa, o primeiro, lançado em 1999 pela Universal, vendeu 117 mil cópias. Mérito - "Fui a primeira sambista a fazer um ao vivo", orgulha-se Beth Carvalho, para corrigir-se, em seguida. "Nos anos 60, Elisete Cardoso gravou um LP ao vivo no Museu da Imagem e do Som, com o Jacó do Bandolim." A correção procede - mas não tira de Beth Carvalho o mérito de ter lançado ótimos registros de seus espetáculos, como o CD em que ela canta sambas de compositores paulistas e um outro, gravado na casa de espetáculos Olympia. De todos, no entanto, o que Beth mais gosta não existe em CD. "É o show que fiz em Montreux, no Festival de Jazz", lembra a cantora, que desembarcou na Suíça meio perdida. "O que é que eu poderia cantar depois de Ivan Lins e João Bosco?", perguntava-se. "No fim, foi o mais longo pedido de bis da minha carreira." Os direitos do álbum, lançado pela gravadora RCA, pertencem à cantora. "Só não relancei agora para não atrapalhar a carreira do Pagode de Mesa 2", diz ela. Desfiles - O CD de Montreux está na fila - com outros que fazem parte dos sonhos de Beth Carvalho. Há desde um songbook do compositor Nelson Cavaquinho, um dos ídolos da cantora, até um projeto que reuniria músicas revolucionárias e de protesto de toda a América Latina. "Recebi convite para gravar o CD em Cuba, mas cadê tempo?", interroga-se a sambista, espremida entre o lançamento do CD, a estréia do show e os preparativos para o carnaval. Na agenda, garantidos, dois compromissos: desfilar na Vai-Vai, em São Paulo, e na Mangueira, no Rio. Quase certo, outro desfile, na Império Serrano. "O samba é do Arlindo Cruz e o enredo, sobre os cariocas da gema", explica. "E eu sou da gema, né?" Enquanto o carnaval não começa, Beth vai fazendo seu batuque. Não pára de viajar - recentemente voltou da África do Sul, onde fez show - nem de lançar novos valores. Os afilhados mais recentes são os meninos do paulista Quinteto em Branco e Preto. Eles tocam e cantam no show de amanhã, depois de terem ido à África com Beth e de terem apresentado a ela a comunidade de São Mateus. Nesse contato, uma surpresa para a cantora. As rodas de samba são sempre realizadas na casa de dona Cida, filha de Blecaute, o primeiro cantor de sambas de quem Beth aprendeu a gostar e que o País inteiro conhecia como o General da Banda. "Quando eu era criança, era louca pelo Blecaute", lembra a cantora. "Ele ia de bloco em bloco e tirava foto com uma criança no cangote." O sonho da menina era tirar uma foto dessas. "Tirei, mas acabei perdendo", diz. Beth Carvalho agora usufrui do título de madrinha de toda uma geração de sambistas. Pense em quem quiser, de Arlindo Cruz a Zeca Pagodinho, passando por Jorge Aragão, e todos eles prestam reverência à sambista. "Todos viraram estrelas", orgulha-se. Quase todos; em 1996, Beth apresentou o grupo vocal Arranco de Varsóvia, que lançou dois CDs e só não passou em branco porque dele fazia parte a cantora Soraya Ravenle, revelação de atriz na peça Dolores e agora conhecida como Ivete, a amiga de Vera Fischer na novela Laços de Família. Madrinha generosa e satisfeita (a reverência dos afilhados fez com que ela renovasse seu público, atraindo hoje mais jovens que há alguns anos), a sambista não dá tréguas aos que considera valores nefastos. Ouvinte de tudo quanto é tipo de música - "Estava escutando a Barbra Streisand, que adoro, e achei um CD maravilhoso da Núbia Lafayette e outro da Dulce Pontes" -, Beth se arrepia ao ouvir falar em Guns N´ Roses. "Esse grupo deveria ser processado por racismo", ataca. "Eles têm uma música chamada One in a Million, na qual falam que negro fede e tem de morrer. Isso é crime." Beth Carvalho - Hoje e amanhã, às 22 horas. De R$ 25,00 a R$ 50,00. Tom Brasil. Rua das Olimpíadas, 66, tel. 3845-2326. Até sábado. Patrocínio: Volkswagen e O Site

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