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Belo sai da prisão de dia, mas não trabalha

Associação de Músicos Arranjadores e Regentes nega informação dada a juiz de que o cantor tem emprego na entidade

Por Agencia Estado
Atualização:

O cantor Marcelo Pires Vieira, o Belo, não é funcionário da Associação de Músicos Arranjadores e Regentes (Amar), conforme seus advogados informaram à Vara de Execuções Penais (VEP), obtendo assim a progressão para o regime semi-aberto. "O juiz foi induzido a erro. Belo não pode ser funcionário porque os estatutos da associação não permitem que sócios trabalhem na Amar. E o Belo é mais um sócio como temos outros 15 mil", afirmou o vice-presidente da entidade, o compositor Paulo César Pinheiro. "O nome da entidade foi usado". Belo, condenado a 8 anos de prisão por associação para o tráfico, deixou a Casa do Albergado Roberto Lyra, no Centro do Rio, às 7 horas deste terça-feira. Deveria seguir para a Amar, mas não apareceu na sede da entidade. No escritório, funcionários eram evasivos e evitaram responder se o cantor era empregado da associação. Um homem que se identificou como assistente da advogada Sandra Regina Almeida, defensora de Belo, informou por telefone que o artista dava expediente normalmente no novo emprego. A advogada não atendeu o telefone celular ao longo do dia. Paulo César Pinheiro explicou que a cláusula que proíbe a contratação de associados da Amar, uma entidade arrecadadora de direitos autorais, é da época da fundação, há 25 anos. "Essa cláusula foi criada para evitar que a Amar se tornasse um cabide de empregos", disse. Segundo ele, o funcionário que assinou o documento informando que Belo trabalharia na instituição "foi um incauto" e agiu sem consultar a direção. "Se foi uma farsa, a advogada vai responder e o juiz vai cassar o benefício. Nós recebemos o documento com oferta de emprego em papel timbrado, com a cópia da identidade do gerente administrativo e as informações de que o cantor ocuparia o cargo de gerente operacional da entidade. Só soubemos que Marcelo Pires Vieira era o Belo no momento da fiscalização", afirmou a chefe do serviço de fiscalização da VEP, Marlúcia de Araújo. Intenção humanitária O documento encaminhado à vara foi assinado por Jonas Marques, que nesta terça-feira deixou a Amar antes das 14 horas e não foi localizado pelo Estado. Ele informou à VEP que Belo cumpriria jornada de trabalho das 9 horas às 18 horas, de segunda a sexta-feira, e receberia R$ 2.800 para trabalhar como gerente operacional. O cargo não existe na estrutura da Amar, informou Pinheiro. O presidente da Amar, Marcos Vinícius Mororó, disse que Marques não tem poder para fazer contratações. "Acho que ele quis ajudar, foi movido por intenção humanitária, mas não tem poderes para isso. Talvez tenha acreditado que nós não iríamos nos opor. Ele ultrapassou sua competência", afirmou. Marcos Vinícius informou que o advogado da entidade está acompanhando o caso junto à VEP, mas a associação só vai se manifestar depois que a advogada de Belo apresentar um novo contrato de trabalho. "Ele tem outras ofertas de emprego. Essa é uma situação chata. Compreendemos a importância da ressocialização das pessoas", afirmou. Na segunda-feira, dia em que Belo passou para o regime semi-aberto após um ano e meio de prisão, uma funcionária da Amar já havia avisado que ele não trabalhava na entidade e que havia ocorrido um engano. Mas a advogada disse que a associação não queria divulgar a contratação para evitar que as pessoas ficassem "ligando, incomodando". Ele chegou a ir à sede da Amar na segunda-feira, e passou menos de duas horas no local. O juiz Carlos Augusto Borges, titular da Vara de Execuções Penais, estava em audiência nesta terça-feira e não pôde atender ao Estado. Na segunda-feira, nota do Tribunal de Justiça informava que o "benefício do trabalho extra-muro" poderia ser revogado caso Belo não se apresentasse no emprego. "Caso ele não cumpra a determinação da VEP, ficarão caracterizadas a má-fé do cantor e a responsabilidade criminal da empresa que declarou a existência de vaga para trabalho extra-muro", dizia a nota. Belo foi condenado pela 34ª Vara Criminal do Rio em dezembro de 2003. Ele havia sido flagrado em conversas comprometedoras com o traficante Waldir Ferreira, o Vado, ex-gerente do tráfico na Favela do Jacarezinho. Vado pedia dinheiro emprestado a Belo. Em troca o cantor queria "tecido fino" e "tênis AR´", o que segundo a polícia significa cocaína e fuzil AR-15, respectivamente.

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