Baterista do Grateful Dead lembra em livro os 30 anos com a banda

Bill Kreutzmann fala das suas experiencias com as drogas

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Por Redação
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Bill Kreutzmann passou 50 anos conhecido como o “quieto” da banda Grateful Dead. “Sou uma espécie de esponja”, disse ele numa entrevista por telefone da sua casa na Califórnia. “Fui absorvendo tudo para colocar no livro.”  No início de maio os “Deadheads” (os ardorosos fãs da banda) de todo o mundo aguardavam para saber se teriam a sorte de conseguir um bilhete “de loteria” para assistir ao concerto do grupo, Fare Thee Well, em Chicago e Santa Clara, na Califórnia.  Kreutzmann publicou Deal: My Three Decades of Drumming, Dreams and Drugs with the Grateful Dead (St. Martin’s Press, 2015). Escrito em colaboração com Benjy Eisen, é um livro de memórias franco, revelador e muitas vezes divertido sobre a mitologia da banda e seus fanáticos fãs, as complexidades das polêmicas personalidades do grupo e o seu trabalho musical, como também a história pessoal de Bill, de abuso de drogas e álcool - ele finalmente abandonou o vício em 1990 - e o suicídio da sua mãe. 

Grateful Dead Foto: Divulgação

“Levou três anos para escrever, mas 40 anos para viver”, disse o baterista de 69 anos. E quanto a isto, ele diz ser indiferente quanto a se vai pisar nos calos ou ferir sensibilidades dentro e fora dos membros sobreviventes da banda. “Não me arrependo de nada do que escrevi”, disse, nesse livro que leva o título de uma música do primeiro álbum solo de Jerry Garcia. “Confirmo tudo o que escrevi ali. Escrevê-lo foi uma libertação, contar todas aquelas histórias e traçar uma perspectiva de tudo.”  Kreutzmann nasceu em Palo Alto, Califórnia e é neto de um famoso treinador de futebol universitário, Clark Shaughnessy. Quando estava na sexta série, seu professor disse que ele não tinha nenhum ritmo, mas, mesmo assim, começou a tocar bateria aos 13 anos e foi até incentivado por Aldous Huxley, quando o escritor fez uma palestra na escola em que estudava. Bill acabou participando de um grupo chamado Warlocks, que se transformou no Grateful Dead. Estava com apenas 19 anos quando a banda começou, e ele teve de usar uma carteira de reservista falsa para entrar em bares e clubes onde o grupo se apresentava.  Sozinho, e mais tarde com um segundo percussionista, Mickey Hart, foi parte fundamental da exploração artística do Grateful Dead e da sua abordagem mais expansiva da música, baseada na improvisação e no desejo de ampliar os limites convencionais do rock’n’roll. Como afirmou, nasceu assim o chamado “acid rock” e este nome tinha uma razão. “Quando criança, especialmente adolescente, sempre tive a sensação de que havia muito mais do que aparentava ou do que se falava ou se ensinava na escola, ou do que os meus pais diziam. Não que tenham falhado, eles também não tinham informação. A primeira vez que experimentei ácido disse para mim, ‘sim, você tem razão, existe muita coisa mais por aí. É infinito’. E quando me dei conta das infinitas possibilidades, foi aí que tudo começou.”  Mas Bill acrescenta que o LSD nunca foi a parte mais importante das interpretações da banda, pelo menos no palco. “Não é bom tocar depois de uma dose exagerada. Quando você está muito drogado e toca e os outros caras da banda também estão, você imagina que estão tocando juntos, mas a probabilidade é de que você está tocando com outra banda que está tocando na sua cabeça. E você, possivelmente, ouve 10 bandas de uma só vez. Fica tudo confuso. Mas no início, sim, abriu-me a cabeça no sentido de que existem muitas possibilidades. É apenas um modo de olhar as coisas de uma maneira diferente. É um bela ferramenta, é o que posso dizer.”  Isto ajuda a explicar por que Kreutzmann, ao contrário dos seus mais ardorosos fãs, tem poucas lembranças de momentos musicais específicos no histórico da carreira do grupo. “Bem, foi um turbilhão, com certeza. Tenho uma memória excelente, mas não me lembro dos concertos.” O Grateful Dead teve sua parte de vítimas ao longo do caminho. Três tecladistas morreram durante o tempo em que tocaram na banda. Entretanto a morte que mais repercutiu foi a do guitarrista e bandleader do grupo, Jerry Garcia, que morreu em 1995, aos 53 anos, em consequência de um ataque cardíaco, quando se encontrava numa clínica de reabilitação, na Califórnia.  Sua morte basicamente acabou com o Grateful Dead, embora durante anos os membros sobreviventes tenham se reunido, usando vários outros nomes, incluindo The Other Ones e The Dead. E se reuniram no fim de junho, dias 27 e 28, e começo de julho, dias 4 e 5, para cinco concertos em comemoração do 50.º aniversário de Fare Thee Well.  A morte de Jerry Garcia encerrou uma longa carreira que misturava livremente a genialidade musical e o abuso de drogas pesadas. “Insistimos para ele se internar em uma clínica de reabilitação uma vez, em Denver. Nós nos reunimos na clínica e tínhamos um terapeuta e estávamos todos prontos para ir. ‘Você tem de ir também’, eu disse. E ele respondeu ‘sim’, mas não foi, ou então frequentava algumas semanas e não permanecia.”  “Jerry conseguia argumentar e vencer qualquer terapeuta. Eles não o impressionavam a ponto de ele mudar seus hábitos porque acreditava profundamente que uma pessoa tinha o direito de fazer o que desejar, desde que não ferisse ninguém, o que é às vezes é muito difícil. Mas ele acreditava nisso. Foi muito frustrante.” Kreutzmann diz estar honrado com os muitos fãs apaixonados e o legado perene do Grateful Dead, mas que sua única expectativa no tocante aos próximos concertos é “divertir-se o máximo possível”. Ele, provavelmente, escreverá sobre eles no futuro.  O baterista, que atualmente também estará interpretando músicas do Grateful Dead com a própria banda, Billy & the Kids, termina o livro com uma promessa: “Continua”. “Há outros livros a serem escritos sobre o futuro e possivelmente o passado também”, disse o baterista. “É só o que posso dizer a respeito até que as coisas aconteçam.” / TRADUÇÃO TEREZINHA MARTINO

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