Barbara Hendricks canta pela paz

Americana naturalizada sueca, a soprano vem com um trio para apresentar peças camerísticas de Schubert, Beethoven, Brahms e Schostakovich na série de concertos BankBoston 2003

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Levemente gripada, a diva Barbara Hendricks desembarcou na terça-feira no Brasil para mais uma temporada em palcos nacionais. Americana naturalizada sueca, a soprano vem com um trio para apresentar esta noite peças camerísticas de Schubert, Beethoven, Brahms e Schostakovich na série de concertos BankBoston 2003 (Espaço Cultural BankBoston, Av. Chucri Zaidan, 246). Gentil, atenciosa (comportamento em contraste com o temperamento habitual das divas), ela falou ao Estado já em São Paulo, buscando recuperar-se do resfriado para subir ao palco inteira, esta noite. O trio que a acompanha é formado pelo pianista Love Derwinger, pelo violinista Christian Bergqvist e pelo violoncelista Torleif Thedéen, todos suecos e com os quais ela trabalha já há uns três anos. "Já é uma equipe familiar", ela disse. Nascida no Arkansas, nos Estados Unidos (mas naturalizada sueca), Barbara é uma das principais cantoras líricas do planeta, artista exclusiva da EMI Classics. Ela canta os lieder alemães e também em francês, inglês e nas línguas escandinavas. Já fez concertos com acompanhamento de pianistas (e gravou) como Radu Lupu, Maria João Pires, Dmitri Alexeev, Michel Béroff, Yefim Bronfman, Michel Dalberto, Youri Egorov, Ralf Gothoni, Roland Pöntinen, Staffan Scheja, Andras Schiff e Peter Serkin. Também foi solista em orquestras regidas por nomes como Barenboim, Bernstein, Karajan, Mehta, Maazel, Solti e Sawalish, entre outros. Estado - A sra. esteve no funeral do embaixador Sérgio Vieira de Mello, em Genebra. Era amiga dele? Barbara Hendricks - Era, uma amiga muito próxima. Foi uma grande tragédia, perdi um grande amigo. Ele ia certamente ser o próximo Secretário-Geral das Nações Unidas, era o mais forte diplomata para o cargo. Além de tudo, era uma pessoa discreta, dedicada à causa da pacificação. Ele acreditava que as nações podiam viver juntas, em paz e era por conta disso que sempre estava em lugares de risco. Ouvi dizer que a sra. cantou no funeral. Não, durante o funeral, não. Cantei nas Nações Unidas, na homenagem a Sérgio. Nós nos conhecemos há 10 anos, no Camboja. Ele foi um dos meus maiores apoios no trabalho que desenvolvia nas Nações Unidas (Barbara Hendricks é embaixadora da Boa Vontade no Alto Comissariado Pró-Refugiados da ONU, que se dedica à campanhas contra a utilização de minas, visitas a campos de refugiados e organização de concertos beneficentes. Ela também criou a Fundação Barbara Hendricks pela Paz). Sua morte foi um baque para mim. Tinha conseguido algo raro para alguém na sua posição. Tinha respeito e admiração. Como foi cantar no ano passado para quase 100 mil pessoas, no Parque do Ibirapuera? Foi muito bom, eu senti uma grande afeição da platéia. Acho que os helicópteros das TVs atrapalharam um pouco, mas no fim creio que as pessoas que foram até lá se divertiram e foi uma platéia quente, amorosa. A música é uma forma de arte intermitente, que requer uma grande atenção. Talvez a TV pudesse ter trabalhado mais silenciosamente, mas foi legal ter sido capaz de cantar para um público tão grande. Foi o seu maior público na carreira? Eu costumava cantar nos festivais de verão da Europa e Estados Unidos, e sempre tinha muita gente. Eu não diria que foi o maior público, mas foi um dos maiores. Agora, a sra. está de volta para cantar música de câmara. Como define o desafio da música de câmara para uma cantora lírica? Canto música de câmara desde que dei os primeiros passos na carreira. Ela está presente em todas minhas temporadas. É interessante porque a música de câmara permite mostrar o processo musical, e é uma experiência que exige que se ouça um ao outro - os músicos ouvem uns aos outros, assim como a audiência. Acho que a música é melhor quando a experiência de ouvir é suficiente. Esse trio que a acompanha é uma companhia nova em sua carreira? Nós fizemos esse mesmo programa do BankBoston no ano passado, em turnê na Suécia. Fizemos também alguns festivais europeus. Alguns músicos, eu já conheço há mais tempo, há uns três anos. Outros há menos tempo. Mas para mim já é um grupo familiar. Barbara Hendricks. A soprano apresenta-se acompanhada por Love Derwinger (piano), Christian Bergqvist (violino) e Torleif Thedéen (violoncelo). Sexta, terça e quarta, às 21 horas. R$ 80,00. Espaço Cultural BankBoston. Avenida Chucri Zaidan, 246, Informações e vendas, tel. 3081-1911

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.