06 de agosto de 2016 | 03h00
A mesma mão do cafuné é aquela que estapeia. A mesma canção capaz de iluminar um coração pode desferir o golpe de faca. Ao aceitar o carinho – ou apertar o botão do play de uma canção do Ventre, trio carioca que se apresenta em São Paulo neste domingo, 7, no festival Fora da Casinha –, não se sabe o que vem depois. É angustiante, de um jeito bom.
Às 17h, os três cariocas subirão ao palco montado no teatro do Unibes Cultural, sede da segunda edição do evento que amplia a proposta dos shows na Casa do Mancha, simpático espaço para apresentações de bandas independentes na Vila Madalena. Ventre, banda com apenas um disco lançado, que leva o nome do grupo e chegou no fim do ano passado, é dos nomes mais frescos de uma programação antenada com o movimento underground da música brasileira. Integra uma escalação que tem, entre as novidades, nomes como do paraense Jaloo, da cantora Luiza Lian e do grupo efervescente As Bahias e a Cozinha Mineira, e outras figuras veteranas e sempre imperdíveis, caso de Cidadão Instigado, Anelis Assumpção e o grupo instrumental Hurtmold. As 11 atrações (cujos horários podem ser vistos ao lado) se dividirão em três espaços no Unibes (teatro, lounge e auditório), a partir das 16h.
Há três anos, nascia essa força distorcida vinda do Rio de Janeiro com um nome que diz muito sobre o som originário da união dos seus três integrantes. É a saída do ventre o primeiro trauma, o primeiro rompimento com aquilo que o bebê conhece. As 11 canções de Ventre, o disco, se erguem de rompimentos e descobertas. São um punhado de questões levantadas a respeito do início da vida adulta – fim da adolescência, descobertas amorosas, desilusões, despedidas, solidão. Ganhos e perdas que são escarrados para fora em cusparadas de guitarras distorcidas, um baixo bastante presente e uma bateria intensa. Tudo fervilha ali.
As faixas desse primeiro álbum, cuja gestação durou um par de anos, nasceram a partir de 2009. Gabriel Ventura (responsável pela voz e guitarra da banda) fez faculdade de Produção Fonográfica no Rio de Janeiro com Larissa Conforto (bateria). Eles haviam tocado juntos no Tipo Uísque, banda carioca que se apresentou na primeira edição do Lollapalooza Brasil, em 2012. Decidiram deixar o grupo às vésperas de uma turnê pelos Estados Unidos. Depois de se unirem para um projeto que não deu certo, Ventura, Larissa e Hugo Noguchi (baixo) criaram o Ventre.
Algumas das canções do disco criadas por Ventura em voz e violão em um gravador de fitas cassete foram mostradas a Larissa ainda nos tempos em que ambos frequentavam a faculdade Estácio de Sá, no Rio. Ele, tímido, relutou para levar adiante versos tão confessionais. “Olha, foi difícil convencê-lo, viu?”, brinca a baterista.
Ao longo dos últimos três anos, os três integrantes encontraram uma forma de convergir todos na mesma direção musical. Ventura até criou canções para seus companheiros de banda. Mulher, a quarta do disco, é criada para Larissa. A Parte, décima do trabalho, é para Noguchi. Por mais que grande parte daquelas palavras lamuriosas seja do vocalista, as histórias cantadas ali se tornaram dos três. E, com o disco lançado, são de todos.
Ventura, natural do município Miguel Pereira, localizado a 117 km da capital fluminense, reunia algumas dessas canções desde antes da mudança para o Rio. Aperto e um Beijo, faixa que encerra o disco, por exemplo, é uma canção criada para uma ex-namorada. Nela, ele canta sobre os encontros com a garota que morava em outra cidade. “O mesmo ônibus que a trazia, leva-a embora”, ele explica. Dor e amor estão perigosamente próximos no Ventre, desde a sua essência.
PROGRAMAÇÃO DO FORA DA CASINHA
Lounge
16h – Mauricio Pereira
17h30 – Kiko Dinucci
19h – Anelis Assumpção & Dustan Gallas
Auditório
16h30 – Luiza Lian
18h – Jaloo
19h30 – Maglore
21h – As Bahias e a
Cozinha Mineira
Teatro
17h – Ventre
18h30 – Hurtmold
20h – Juliana Perdigão
21h30 – Cidadão Instigado
FORA DA CASINHA
Unibes Cultural.
R. Oscar Freire, 2.500, Sumaré, telefone: 3065-4333. Dom. (7), a partir das 16h. Ingresso: R$ 70.
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