Banda The 1975, que vem ao Brasil em setembro, não tem medo do pop

Grupo se apresenta no dia 23 de setembro, em São Paulo

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Por Pedro Antunes
Atualização:

A estética andrógina iniciada pelo New York Dolls é jogada em um caldeirão cheio do despojamento de The Kooks. Ali eles ficam, em fogo baixo, enquanto pitadas de James Brown e Prince são jogadas eventualmente. Por fim, tempere com pitadas a gosto da esquisitice do The Talking Heads e Sigúr Ross e do electropop de Passion Pit e derivados. Se o resultado for esquisito, porém viciantemente dançante, pode ser que você tenha conseguido chegar perto do som produzido pela banda britânica The 1975 – algumas de outras referências não são assim tão escancaradas. 

Maior nome do rock inglês, em popularidade, desde a descoberta do folk rock do Mumford and Sons, o grupo liderado por Matthew Healy aos poucos desbravou os Estados Unidos em uma turnê de arena iniciada com o lançamento do segundo disco de nome quilométrico, I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It, nas lojas físicas, digitais e por streaming desde fevereiro. 

Banda The 1975 Foto: Divulgação

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Foram, até o último domingo, 7, 104 apresentações ao longo de 2016. E, em setembro, o quarteto de garotos que nem sequer chegou aos 30 anos desembarca pela primeira vez no Brasil para uma apresentação única, em São Paulo. O show ocorrerá na Audio Club, na zona oeste da cidade, no dia 23 de setembro. 

Quando lançado, I Like It When You Sleep... foi direto para o primeiro posto da parada Billboard 200, a mais importante e disputada arena de vendas de discos dos Estados Unidos, na qual rock, pop, música eletrônica, country e o que mais você puder imaginar disputam para saber quem vendeu mais discos, ao longo da primeira semana. Não é pouca coisa para uma banda comum, mas esperado quando o assunto é o The 1975. Os rapazes, veja só, já foram escalados para ser a banda de abertura dos Rolling Stones em uma das mais icônicas apresentações da turnê de Mick Jagger, Keith Richards e companhia daquela turnê comemorativa de 50 anos de carreira, em 2013.

Estar diante daquela imensidão de gente, garante o vocalista Healy, ajudou o grupo que havia, naquele ano, lançado o disco de estreia, a entender a sua pequenez, embora rodeado de expectativa e hype. “As pessoas podem pensar que ser escalado para aquela oportunidade poderia ser capaz de inflar o nosso ego, tirar os nossos pés do chão, mas o que aconteceu foi bem diferente disso”, explica, ao telefone. “Foi um choque de realidade. Estávamos bem-sucedidos e, de repente, vimos o que era realmente o sucesso. Sabíamos que não tinha ninguém, naquela multidão toda para nos assistir ou prestar atenção na gente. Não existia competição, sabíamos o nosso lugar.”

Desbocado, desleixado e adoravelmente impertinente, Healy é a versão roqueira, “badass” e estranha de Harry Styles, o queridinho e ícone fashion do grupo pop One Direction. Compartilham o gosto por calças jeans de alta-costura rasgadas e grudadas às pernas, camisetas de golas esgarçadas e cabelos meticulosamente bagunçados. São reflexos opostos. Referências para uma jovem geração já acostumada a smartphones, gadgets, internet banda larga sem fio e à música que já não se prende à física. 

Quando criança, em casa, na pequena cidade de Wilmslow, a 11 km de Manchester, contudo, Healy gostava mesmo é de imitar Brown, Prince e Michael Jackson. Aprendeu a soltar o corpo com os mestres. Depois, veio o rock dos Rolling Stones e toda a inclusão pelo gênero nascida com as pedras rolantes. O The 1975 começou quando Healy, Adam Hann (guitarra e teclado), George Daniel (bateria) e Ross MacDonald (baixo) entravam na adolescência, entre os 14 e 15 anos. “Quando se monta uma banda com essa idade, não se está pensando em ser cool ou coisa parecida”, explica o vocalista. “Tocar música era tão divertido quanto jogar videogame. Fazíamos isso pela diversão, pela brincadeira.” 

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I Like It When You Sleep... é, evidentemente, mais seguro de si do que a estreia do The 1975. “Entendo quando falam sobre a pressão de se gravar um segundo disco, depois de ter uma estreia bem-sucedida”, ele analisa. “Existe o medo de ser julgado. Mas tudo depende do que você quer ser. Quer ser a banda definida por uma música? Boa sorte. Não queremos isso para nós.”

Construído em intervalos de horas e dias na turnê do álbum de estreia, o disco flerta com um tipo incontável de gêneros. O rock ainda é a força guia ali, mas está diluído. “Já disseram que fazemos um guitar R&B”, conta Healy, divertindo-se com o rótulo que une a guitarra do rock e o pop do R&B. “Não sei o que a gente é. Ou melhor, nós somos o nada. Somos dessa geração que é difícil ser uma coisa só.” 

THE 1975 Audio Club. Av. Francisco Matarazzo, 694; tel. 3862-8279, Água Branca. 6ª (23/9), às 23h. R$ 180 a R$ 280. 

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