Austin, a cidade dos sonhos

Por uma semana, capital do Texas vira a meca do som independente

PUBLICIDADE

Por Roberto Nascimento
Atualização:

Começou ontem a programação musical do festival South by Southwest, em Austin, no Texas. Trata-se do maior evento de música independente do planeta, onde já foram coroados nomes como White Stripes, The Strokes, Amy Winehouse e Lilly Allen. Este ano, a bola da vez é o coletivo de jovens rappers Odd Future, grupo batizado de "terroristas do rap" pela crítica norte-americana. Rimas violentas (circulam boatos de que a mãe de um dos integrantes o mandou para um internato depois de ouvi-las), apresentações agressivas e video clipes escatológicos, todos inteligentemente arquitetados, dão ao coletivo um status de aberração semelhante ao que Eminem ostentava no início de sua carreira. Estômagos à parte, o Odd Future é uma aposta emblemática dos novos tempos da indústria fonográfica. Amparados apenas por um blog e um punhado de mixtapes, o grupo californiano driblou todo o sistema de gravadoras - independente e major - em sua ascensão.

PUBLICIDADE

Se há algum efeito do declínio dessa indústria no South by Southwest, festival que tem sido criticado por ter abraçado o mainstream nos últimos anos, este é inversamente proporcional ao número de participantes. A 25.ª edição trará mais bandas do que nunca, o que obrigou os organizadores a adicionarem um dia à parte musical da programação. Os mais de 2 mil grupos tocarão em teatros, casas de shows, livrarias, restaurantes e festas espalhados pelo centro de Austin. Além da programação oficial, com shows de Kanye West, TV on the Radio, The Strokes e outros que podem ser acompanhados ao vivo pela rádio pública norte-americana (http://www.npr.org/), há centenas de shows e festas extraoficiais que acontecem simultaneamente, transformando a cidade, que se tornou a Nova York do Sul dos EUA na última década, na meca do rock por uma semana.

"Não há glamour nenhum. No fim de cada show você tem de pegar o equipamento, sair correndo, atravessar uma cidade completamente caótica, com poucos táxis disponíveis", conta Sérgio Sayeg, da banda de funk soul Garotas Suecas, que caiu nas graças da crítica do New York Times ao se apresentar no festival em 2009. O feito da banda é o sonho do punhado de grupos brasileiros que vai ao Texas todo ano, mesmo sabendo das chances: "É como apostar na loteria. A chance é uma em um milhão, mas o que importa é experiência de tocar lá fora", conta a cantora Rosanne Machado, do Rosie and Me, que foi selecionado, mas não conseguiu bancar os custos da viagem. De acordo com Rosanne, a taxa a ser paga por um despachante para conseguir um visto de trabalho, mais passagens e acomodações (o festival só contribui com simbólicos US$ 200) chega a mais de R$ 20 mil para uma banda de cinco músicos, o que não impediu os grupos e artistas Some Community, Tiê, Holger, Constantina, Thiago Pethit e Nana Rizinni de se arriscarem. "O SXSW (abrevia-se assim) é um panorama do que está rolando em 2011, um caldeirão de tendências musicais", explica Pethit, que até o fechamento desta edição não havia conseguido seu visto. "A ideia é fazer contatos, conversar com donos de selos, managers. Isso é até mais importante do que fazer o show", explica.

Para arcar com os custos, Pethit, Tiê e Nana (pronuncia-se Naná) Rizzini bolaram um jeito inteligente de ir ao SXSW: vão dividir a banda. Nana tocará bateria para Tiê, que emprestará um guitarrista, que também acompanhará Pethit.

 

 

O HYPE

Odd Future

Fenômeno da internet, o perturbante coletivo de hip-hop californiano encabeçado por Tyler the Creator procura firmar-se como o destaque de rap este ano.

Publicidade

Yuck

Londrinos nostálgicos pelo rock alternativo criado por Pavement e Dinossaur Jr. no início da década dos anos 1990.

The Vaccines

O grupo inglês de indie rock espera fazer jus ao hype fomentado pela BBC este ano.

James Blake

Dono de uma mistura intimista de dubstep, voz e piano, o produtor busca emplacar sua melancolia moderna em Austin.

Das Racist

Publicidade

Outro coletivo de rappers, este com rimas menos agressivas que tratam de questões raciais com humor e inteligência.

Baths

Mescla de indie com hip-hop.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.