As Galvão festejam sete décadas de estrada na música caipira

Dupla pioneira na canção brasileira vai lançar documentário e livro biográfico

PUBLICIDADE

Por Matheus Mans Dametto
Atualização:

Foi há cerca de dois anos, no camarim de um show, que As Galvão descobriram que estavam prestes a fazer 70 anos de carreira. Na época, as irmãs Meire e Marilene estavam atarefadas e, confessam, não estavam prestando atenção na contagem de anos. “Somos loiras e idosas, não percebemos que a data estava chegando”, brinca Meire, de 77 anos, em entrevista ao Estado. Apesar da distração, porém, as comemorações estão prontas: só neste mês, a dupla vai lançar um livro biográfico chamado Dossiê As Galvão: As soberanas - 70 anos de estrada, de Maikel Monteiro, e um documentário para celebrar as sete décadas completas de música caipira.

“A Marilene tá aqui, mas eu posso falar por nós duas. Sei a nossa história tanto quanto ela”, diz Meire, quando a reportagem entrou em contato com As Galvão. Com a voz emocionada, mas sem deixar o bom humor de lado, a mais velha da dupla caipira não esconde que está entusiasmada com as comemorações. “Vamos lançar DVD comemorativo ainda neste ano, lançamos um documentário sobre nossa carreira e nossa biografia chega às lojas no final deste mês”, diz. “A ficha ainda não caiu. Mas é bom ver isso tudo acontecendo. Temos muita história para contar.”

Mary e Marlene. Início de carreira foi quando não havia outras mulheres cantando modas de viola no universo sertanejo Foto: Rafael Arbex / ESTADÃO

PUBLICIDADE

A cantora, é claro, não está errada. As Galvão começaram a tocar pelos idos de 1947, quando eram conhecidas como As Irmãs Galvão. Na época, Meire e Marilene, que tinham 7 e 5 anos, respectivamente, pegaram suas violas e foram tocar em uma rádio no interior de São Paulo, na pequena cidade de Paraguaçu Paulista. Eram músicas caipiras da época, mas que faziam sucesso no interior paulista. “Naquela época, caipira era deixado de lado, não recebia nem uma parte da atenção que o sertanejo tem hoje”, diz Meire. “A gente teve que batalhar para cantar.”

Assim, elas enfrentaram o preconceito nacional e se tornaram pioneiras. Menos de dez anos depois, gravaram o primeiro disco, um vinil de 78 rotações. A partir daí, não pararam mais. Chegaram a gravar quatro discos em único ano, divulgando músicas do interior paulista, compostas por nomes como Raul Torres e Nhô Pai. Isso até que elas estourassem com Beijinho Doce, o maior sucesso da dupla de irmãs e que as eternizou no cenário musical brasileiro para sempre.

Hoje, 70 anos depois das primeiras apresentações na rádio de Paraguaçu Paulista, porém, elas se sentem mais jovens do que nunca. Além da felicidade pelas comemorações, as duas afirmam que não estão atrás do que é visto no cenário musical brasileiro. “A gente faz um show para cima, não ficamos sentadas”, conta Meire. Além disso, elas estão sempre abertas às novas experiências no palco: no último sábado, fizeram show junto com a cantora de MPB, Tiê, no SESC Santo André. E dizem que não são contrárias aos novos movimentos da música caipira.

“O jovem de hoje quer dançar, participar do show, fazer as alegrias deles”, afirma Meire, ao ser perguntada sobre os novos rumos do sertanejo. “A música caipira se transformou. Passou pelo tempo de Raul Torres, Leo Canhoto e Robertinho, Milionário e José Rico. Depois veio o Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó. E agora, é o universitário, que só fortalece a música caipira. Se eu tivesse fôlego, cantaria sertanejo universitário”, diz Meire, aos risos. “No final, tudo é música caipira e só ajuda a gente.”

Sobre o futuro da dupla — e as comemorações de oito décadas de carreira —, Meire é sincera. Diz que está animada com seu trabalho, que gosta do que faz. Está feliz por ter levado a música caipira para todo o Brasil e diz que vai continuar com seu trabalho. No entanto, não esconde que, se algum dia precisar, vai deixar os palcos. “Agora, eu quero aproveitar nosso livro, nosso DVD, nosso documentário”, diz a cantora. “Mas, se algum dia eu ver que não dá mais, vou parar, olhar para Marilene e perguntar se valeu.” E quando a reportagem pergunta se valeu, ela nem respira antes de responder: “Valeu. E como valeu.”

Publicidade

AS GALVÃO 

Autor: Maikel Monteiro

Ed.: InVerso 

Lançamento: Livraria da Vila. R. Fradique Coutinho, 915. Dia 30/5. 18h30

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.