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Arnaldo Cohen toca no Municipal

O pianista apresenta-se na cidade interpretando Beethoven sob a regência do maestro alemão Konstantin Becker

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar das recentes mudanças e turbulências pelas quais tem passado o Teatro Municipal, reflexo das recentes alterações políticas no município, a Orquestra Sinfônica Municipal segue com sua programação anunciada no início do ano. Amanhã e domingo, o pianista Arnaldo Cohen apresenta-se ao lado da orquestra, que será regida, mais uma vez pelo maestro alemão Konstantin Becker. O programa das apresentações inclui o Concerto n.º 3 para Piano e Orquestra de Beethoven, e a peça Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, orquestrada pelo compositor francês Maurice Ravel. Para Cohen, a escolha da obra de Beethoven tem motivos sentimentais. "Esse concerto de Beethoven, o segundo que aprendi em minha carreira, tem um grande significado para mim: sempre me trouxe muita sorte e fluidos positivos", afirma Cohen em entrevista à reportagem. "Além disso, quando o toquei no Concurso Busoni, em 1970, Isaac (Karabtchevsky) estava no júri e gostou bastante da apresentação, então pediu que eu o apresentasse aqui, em São Paulo", complementa o pianista que tocou a peça pela última vez em 95, quando se apresentou em São Paulo com a Royal Philharmonic Orchestra, regida por Yehuid Menuhin. Composto entre 1800 e 1803, o Concerto n.º 3 foi o último escrito por Beethoven antes de seu rompimento com a estrutura formal de concerto. "Esse é o último concerto verdadeiramente clássico, os últimos 100 metros da ponte entre o classicismo e o romantismo", afirma Cohen. Rigor Cohen, além de ser considerado um dos principais pianistas brasileiros no exterior, é conhecido, também, pela sua visão um tanto quanto intelectual com relação a seu trabalho. Quando o assunto é Beethoven, a história não é diferente. As diversas maneiras como já foi interpretado o compositor, desde a ortodoxia da Escola de Viena até a liberdade interpretativa dos pianistas do fim do século 19, incitam, em sua opinião, uma discussão no que diz respeito à maneira ideal de se tocar uma peça. "Não me encaixo em nenhuma dessas idéias: o rigor rítmico é necessário, mas o fraseado e a cadência são influenciados por fatores como a diferença dos instrumentos das salas de concerto atuais em relação aos da época do compositor". Além disso, o músico está inserido em uma sociedade com características que influenciam diretamente seu trabalho. "Vivemos em uma configuração social, econômica e política que torna o entendimento da obra diferente em cada época", afirma. A verdade única que alguns músicos procuram nas partituras, para Cohen, não existe. "Não existe certo ou errado a verdade é mutável, acompanha a nossa evolução". A busca pela perfeição é, na sua opinião, fruto da necessidade do homem em se eternizar. "Vivemos como se fôssemos eternos, em uma luta constante contra nossa finitude", afirma. E completa: "A grande dificuldade do homem é viver seriamente a sua versão dos fatos". Cohen, que se apresentou com a Sinfônica Municipal há dois meses no Alfa, em um programa com Tchaikovski, explica que o rápido retorno se deve à grande quantidade de pessoas que ficaram sem ingresso. "Fiz questão de voltar e exigi que o preço dos ingressos fosse reduzido", indica. Filosofia Sobre as dificuldades pelas quais passa a Orquestra Sinfônica Municipal, Cohen acredita que falta ao grupo uma definição de uma concepção e de uma filosofia para o trabalho. "Cada orquestra precisa saber qual a sua função e, para isso, um conceito de trabalho é fundamental". Apesar das difíceis condições de trabalho, Cohen parece acreditar no potencial dos músicos, com quem tem muito prazer de trabalhar. "Eles procuram fazer um trabalho bastante digno e, sempre que toco com eles, percebo que procuram fazer o melhor possível". Outro aspecto que chama a atenção de Cohen na orquestra é o calor humano. "Prefiro tocar em um ambiente em que exista comunicação do que com um grupo que, mesmo mais preciso tecnicamente, seja frio no seu modo de executar as peças". Orquestra Sinfônica Municipal. Regência de Konstantin Becker. Solista: Arnaldo Cohen. Sexta, às 21h; domingo, às 11h. De R$ 9 a R$ 30. Teatro Municipal. Pça Ramos de Azevedo, s/n.º, tel. 222-8698

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