Aretha Franklin ainda reina no soul

Cantora de 73 anos continua em plena forma e, como prova, lança seu 38º disco em que retrabalha antigos sucessos; ouça versões

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Por Scott Mervis
Atualização:

Recentemente, Aretha Franklin esteve na Casa Branca, em Washington, onde cantou para o presidente Barack Obama. Ela está acostumada a este tipo de apresentação. Já cantou para Jimmy Carter e para Bill Clinton, e recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade do presidente George W. Bush.

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Nem é preciso dizer que, aos 73 anos, Aretha é uma das artistas mais condecoradas da história. Ela foi a primeira artista aceita no Hall da Fama do Rock and Roll. Foi a primeira na lista da Rolling Stone das 100 Maiores Cantoras de Todos os Tempos. Recebeu 18 Grammys (para artistas mulheres, superada apenas por Beyonce), e é doutora Honoris Causa por Yale, Princeton e pelo Berklee College of Music, de Boston, entre outros.

Mas o título mais importante é talvez com que foi coroada quase no começo de sua carreira, e que será sempre seu: o de Rainha do Soul. Ela tinha então por volta de 25 anos. 

Queen. Aretha já cantou para presidentes e é doutora Honoris Causapor várias faculdades Foto: Owen Sweeney/Invision/AP

“Aconteceu quando eu estava no Royal Theatre de Chicago, uma espécie de The Apollo de Nova York”, afirma. “Um dos DJs de lá, Pervis Spann, uma noite veio até o palco com uma coroa na mão e eu pensei: ‘Uau, o que será isto?’” Ela gostou muito: “Quem não gostaria de ser chamada de Rainha?” Isto aconteceu em 1967, quando Aretha, que ainda adolescente cantava em “turnês com as caravanas gospel”, fez um sucesso espantoso com o álbum que é considerado por muitos o maior dela, I’ve Never Loved a Man the Way That I Love You

Ela estreava na Atlantic Records, gravado em Muscle Shoals, Alabama, com a famosa Muscle Shoals Rhythm Section, e a faixa principal foi um cover da canção de Otis Redding, Respect, com alguns pequeno acréscimos, porque se tratava da versão para a cantora de uma música cujo autor era um homem. “Minha irmã Carolyn e eu trabalhamos a música”, disse. “Carolyn era uma artista da gravadora RCA Victor, e também cantou comigo por muitos anos, no back vocal. Naquela época, a frase ‘sock it to me’ era muito popular, e decidimos colocá-lo na música. Em seguida, veio a comédia para a TV, Laugh In, que aproveitou o nosso ‘sock it to me’ (slogan de campanha de Richard Nixon na época), transformando-a uma música tocada em todo o país. Ela tornou-se viral”.

Respect, graças a uma das suas interpretações mais fogosas, tornou-se seu primeiro grande sucesso na juventude (ela voltou a ter o mesmo sucesso em 1987 com um dueto com George Michael, I Knew You Were Waiting for Me). Respect também se tornou seu prefixo musical, e desde então o hino do movimento feminista.

Ela não o achou que fosse tanto assim na época, mas, afirma: “Certamente era apropriado. E então foi promovido a hino do movimento pelos direitos civis. Mulheres e crianças são as pessoas menos respeitadas. Agora estamos conseguindo o que nos é devido – indubitavelmente, as mulheres estão se destacando em muitos campos”.

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Respect abriu a porta para outros clássicos: You Make Me Feel Like a Natural Woman, Think, Chain of Fools, Spanish Harlem, etc.

Naquele tempo, ela já era uma experiente veterana do palco e pronta para usar a coroa. Já havia sido mentora de cantores no programa de calouros American Idol, contudo, está feliz porque, no seu caso, o seu sucesso não veio por este caminho.

“O que mais me agrada é que saí lá de baixo – não foi uma coisa que aconteceu da noite para o dia, por isso foi extraordinário. Aconteceu um pouco de cada vez. Eu estava lá naquele universo inferior que Lou Rawls chamava o Chitlin’ Circuit (somente para artistas e público negro). Eu tinha o menor camarim da história, com uma cadeira, um espelho e algumas caixas atrás de mim. Se você pisasse um pouco mais à direita, já estava fora do camarim.” 

Quando sua carreira teve uma queda no final dos anos 1970, conseguiu voltar a fazer sucesso sob a direção de Clive Davis, na gravadora Arista. Depois de uma pequena participação como convidada, em que roubou o show no filme The Blues Brothers, ela continuou e ganhou seu primeiro álbum de platina, Who’s Zoomin’ Who?, em 1985, e uma série de sucessos, inclusive Freeway e Sisters Are Doin’ it for Themselves (com os Eurithmics). 

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À pergunta se há uma canção em seu repertório que considere a mais importante, diz: “Elas são como meus filhos; todas são importantes para mim”. No seu álbum mais recente, o de número 38, são os filhos dos outros.

Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics traz sucessos retrabalhados como Midnight Train to Georgia, I Will Survive e Nothing Compares 2 U.

Ela tem uma fórmula simples para abordar uma canção que alguém já tornou famosa, como Rolling in the Deep, da cantora Adele. “Eu gosto de cantá-la. Gostava de como ela a cantava; assisti a um dos seus vídeos onde um monte de crianças no ônibus a cantava e se divertia imensamente. Pensei: ‘É esta, vou me divertir um bocado porque gosto realmente dela’”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA 

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