Após polêmica na TV, MV Bill encara o palco

Depois de impedir que o Fantástico exibisse seu documentário sobre o tráfico, rapper faz show em SP de seu disco Declaração de Guerra

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Por Agencia Estado
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O telefone da casa de MV Bill toca cinco vezes e quem atende é Tim Maia. Seu vozeirão canta No Caminho do Bem até que entra um sinal. A secretária eletrônica registra os recados, mas não há retorno. O "ex-soldado do morro" não quer falar com jornalistas e aposta no tempo para ver a poeira baixar. Seu documentário Falcão, impedido por ele e pelo produtor Celso Athayde de ser exibido pela Globo depois de já ter sido fechado acordo sobre a transmissão, criou-lhe uma aura sombria. Esteja onde estiver, MV Bill terá de deixar a toca amanhã para fazer seu primeiro show divulgado em São Paulo desde que a polêmica foi deflagrada. A apresentação será baseada no disco Declaração de Guerra, de pegada forte e com crônicas sobre a vida na Cidade de Deus, favela onde nasceu. O silêncio de Bill fica mais intrigante porque sabe-se que nunca hesitou em falar sobre a vida no morro, exclusão social, injustiça com os negros e poder dos traficantes. Em setembro de 2002, Bill concedeu uma entrevista ao JT numa escola pública de Cidade de Deus. "O tráfico de drogas não faz bem para a comunidade. Mas, por outro lado, são jovens como eu que estão envolvidos com ele. Moro aqui e sei que em Cidade de Deus não existe pé de fuzil nem plantação de coca. A força maior está fora da favela. E a polícia vira vítima também, só um órgão que reproduz o pensamento da elite." "Respeito pelo projeto" - Falcão, o documentário censurado por seus próprios criadores, narra a vida de garotos com idades entre 12 e 18 anos que trabalham para os narcotraficantes de várias favelas do País como "falcões" - nome dos soldados do morro que andam armados para defender suas áreas da polícia e de criminosos rivais. Dos 16 menores que aparecem no filme, apenas um não foi assassinado. "Há imagens de todos eles em ação e de seus respectivos enterros", disse o produtor Celso Athayde. Guri, o sobrevivente, serviu ao tráfico por seis anos até que conheceu Bill e lhe pediu emprego. É hoje seu ajudante de palco. Havia uma determinação de Bill e Athayde quanto à exibição do documentário: não deveria haver cortes. "Só vamos liberar se as empresas tiverem respeito pelo projeto", informou Athaíde em março. Bill gostaria de exibi-lo primeiro às comunidades carentes. Houve um acordo e a Globo se comprometeu a mostrá-lo na íntegra. Celso Athayde e MV Bill foram procurados pela reportagem, mas não retornaram nenhuma das oito ligações. Qualquer que seja a força suprema responsável pela inesperada censura de um filme que revelaria com ineditismo a vida dos "recrutas" do tráfico, espera-se que tudo esteja, como diria Tim Maia, no caminho do bem. MV Bill - Espaço Urbano (Rua Cardeal Arco Verde, 614. Tel.: 3085-1001). Amanhã, à meia noite e meia. Ingressos: R$ 15 e R$ 30.

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