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Aos 83 anos, Tony Bennett ainda é o tal

Veterano crooner faz turnê por 6 cidades e anuncia novo disco com Stevie Wonder

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

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O pintor Tony Bennett fez três livros só com os óleos que produziu durante suas viagens pelo mundo nos últimos 60 anos. O primeiro desses livros traz quatro pinturas sobre o Brasil, terra que visitou algumas vezes cantando - Tony Bennett, além de pintor diletante, também é o maior crooner vivo da América do Norte, talvez do mundo inteiro (pelo menos era isso que Frank Sinatra dizia).

 

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"Amo o Brasil, é um país lindíssimo, cheio de gente afável, feliz. É uma alegria que Deus tenha me dado saúde suficiente para voltar a cantar aí, aos 83 anos", disse Bennett ao Estado por telefone, há alguns dias. Os ingressos para o show de Tony Bennett no HSBC Hall, em São Paulo, têm preços bem salgadinhos, de R$ 400 a R$ 1 mil. Mas ainda assim deve lotar, prevê a organização.

 

Anthony Bennedetto, o Tony Bennett, emplacou seu primeiro hit, Because of You, em 1951, há 58 anos. No mesmo ano, gravou Boulevard of Broken Dreams, com uma pegada autobiográfica. "Quando nasci, vivíamos na Grande Depressão, havia pouca comida na mesa. Apesar de tudo, havia muita amizade, solidariedade. Aquele ambiente me tocava. Essa canção era uma espécie de manifesto daquela condição e resolvi que seria a primeira."

 

Desde então, tornou-se vencedor de 15 prêmios Grammy e tem mais de 50 milhões de discos vendidos na carreira. No atual show, que a reportagem viu em julho, em New Orleans, ele canta vários hits: For Once in My Life, The Best Is Yet to Come, Shadow of Your Smile, The Good Life (que, entertainer de primeira, dedica a Britney Spears) e, claro, I Left My Heart in San Francisco.

 

Ele e Frank Sinatra, ambos de ascendência italiana, encarnaram como ninguém mais o ideal do intérprete do songbook americano, e suas vozes estão na origem de boa parte dos standards americanos. Sinatra dizia que Bennett era o maior, mas Bennett devolvia sempre o elogio. Quando Sinatra morreu, Bennett disse: "Uma das piadas preferidas que Sinatra contava com um copo na mão era: ‘Talvez você viva até os 100 anos, e talvez a última voz que você vá ouvir seja a minha’. O mestre se foi, mas sua voz vai viver para sempre."

 

Vi uma foto do sr. assistindo ao Aberto de Tênis dos Estados Unidos dias atrás, de boné. Parecia muito à vontade.

Amo o tênis, costumava jogar quando tinha físico para isso. Não jogo mais, mas adoro assistir às partidas. É parte da minha rotina. Eu hoje vivo perto do Central Park, em Nova York, tem bastante natureza ali. Nada que se compare ao Brasil, às florestas do Brasil, mas tem bastante passarinho, plantas, flores. É um lugar muito tranquilo.

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O sr. pretende cantar aqui em São Paulo o repertório do seu disco The Ultimate American Songbook, em que o sr. interpreta Cole Porter, Harold Arlen, Johnny Mercer?

Não, vou fazer um show diferente. Estou escoltado dessa vez por músicos extraordinários, vou explorar essa nova formação. Mas certamente cantarei todas as músicas que os admiradores do meu trabalho esperam, não vou decepcionar ninguém.

 

Aos 83 anos, o sr. ainda está gravando discos. Tem planos para um novo trabalho?

Eu assinei um contrato de US$ 10 milhões com a Sony para fazer quatro discos, e eles me deram US$ 1 milhão só para a promoção desses álbuns. Um deles foi o disco de duetos, que lancei quando fiz 80 anos. Em janeiro de 2010, começamos a trabalhar no último desses discos, que devemos lançar em abril ou maio. É um álbum de jazz, que farei em parceria com Stevie Wonder, com produção de Quincy Jones e com a participação de alguns músicos extraordinários, como Herbie Hancock.

 

Recentemente, o show biz perdeu um grande entertainer, Michael Jackson. Como o sr. viu a notícia da morte dele?

Eu acho que ele jogou contra seus talentos. Aprendi, quando era muito jovem, a me manter afastado das drogas, marijuana, cocaína, essas coisas. Se você tem um talento, tem que cuidar dele. Eu me lembro do caso do comediante Lenny Bruce, que era extraordinário, mas afundou-se nessas coisas. Infelizmente, Michael seguiu o mesmo caminho. É uma tragédia, Michael Jackson matou seu talento. Era um artista extraordinário. Viver é bonito, e você tem que viver tanto quanto puder.

 

Assisti ao seu show em New Orleans, em julho, no festival de jazz da cidade. Vi que o sr. trabalha em família: seu filho é seu agente, e sua filha Antonia Bennett canta na abertura do show, fazendo o aquecimento do público.

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Antonia tem tido uma boa recepção crítica, seu estilo e sua voz são muito sofisticados. Eu tinha problemas em administrar minha agenda, meus compromissos, e meu filho foi gradativamente tomando conta disso. Hoje, posso dizer que não me preocupo a mínima, posso me concentrar somente no canto, sei que ele dá conta de tudo e nunca fico sobrecarregado. Quanto ao show em New Orleans, foi uma grande tarde, não? O pessoal lá até me convidou para fazer uma pintura para que possa ser utilizado por Louis Prima no pôster do festival.

 

A gravadora Fantasy acaba de relançar as gravações originais de suas parcerias com Bill Evans. Muita gente diz que esse é um dos melhores registros de voz e piano já feitos no jazz.

Bill era um gênio. Aquelas foram de fato gravações especiais, registraram um momento mágico de nossa parceria. É engraçado como a gente não tem noção da excelência de uma coisa, e depois, com o tempo, vai tomando consciência. Bill Evans foi um dos melhores.

 

Seu último show aqui foi em 2005. Nessas andanças todas, o sr. deve ter conhecido muito músico brasileiro.

Sim, e eu gostaria de destacar que, apesar de muita gente dizer que ele não tem uma grande voz, o cantor que eu mais admiro do Brasil é João Gilberto. Ele tem uma técnica impecável. Eu o encontrei uma vez, é um homem gentil e agradável. Dizem que é excêntrico? Bom, acho que nós todos somos um pouco excêntricos, não? (Durante o show, quando Tony canta All of You, de Django Reinhardt, dedica a canção à bossa nova e especialmente a João Gilberto, que considera como um amigo.)

 

Serviço

Porto Alegre

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Teatro do Sesi (1.790 lug.). Av. Assis Brasil, 877, (51) 3347-8636. Hoje (21/10), 21 h. R$ 200/ R$ 500

Brasília

Centro de Convenções Ulysses Guimarães (1.790 lug.). Eixo Monumental. 6.ª (23/10), 21 h. R$ 300/500

Belo Horizonte

Chevrolet Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, (31) 2191-5700. Sáb. (24/10),

21 h. R$ 250/R$ 1.000

São Paulo

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HSBC Brasil (1.800 lug.). Rua Bragança Paulista, 1.281. Informações: 4003-1212. 2.ª (26/10), 20h30. R$ 400/R$ 1.000

Rio de Janeiro:

Vivo Rio. Av. Infante Dom Henrique, 85. Informações: 4003 -1212. 5.ª (29/10), 20h30.

R$ 400/R$ 900

Recife

Chevrolet Hall. Avenida Agamenon Magalhães, s/n.º, Complexo Salgadinho, (81) 3427-7500. Sáb. (31/10), 21 h.

R$ 400/R$ 2.000

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