Aos 25 anos, pianista russa Daria Kiseleva vence concurso no Rio

O Concurso Internacional BNDES de Piano reuniu 27 candidatos; vencedora vai ganhar R$ 92 mil, além de vários contratos

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Por João Luiz Sampaio
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RIO - A pianista russa Daria Kiseleva, de 25 anos, venceu a quarta edição do Concurso Internacional BNDES de Piano do Rio de Janeiro. A final foi realizada no final da tarde de sábado, no Teatro Municipal do Rio. Como prêmio, ela receberá R$ 92 mil. O ucraniano Dmitry Shishkin, de 22 anos, foi o segundo colocado e levou o Prêmio do Público, ficando com R$ 63.800 e R$ 9.280, respectivamente. No terceiro lugar está a ucraniana Dinara Klinton, de 25 anos (R$ 40.600). O brasileiro Leonardo Hilsdorf foi escolhido para o Prêmio de Melhor Intérprete de Música Brasileira, pelo qual receberá R$ 17.400.

O concurso reuniu 27 candidatos ao longo da última semana, no Rio - e homenageou a pianista Magda Tagliaferro (1893-1886) e o compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). As provas eliminatórias e as semifinais foram realizadas na recém-reaberta Sala Cecília Meireles. O júri foi presidido por um dos grandes mestres do piano atual, o norte-americano Stephen Kovacevich, e tinha nove membros: a brasileira Fanny Solter, o americano Alan Weiss, a russa Oxana Yablonskaya e o suíço Rico Gulda, entre eles.

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Tocar para um grupo como esse não deve ser das tarefas mais fáceis - e, na prova final, soma-se ainda o olhar atento sobre os candidatos de personalidades do mundo musical e artistas, como pianista brasileiro Nelson Freire, presente ao Municipal no sábado. Também pela primeira vez na competição, os três finalistas iriam se apresentar com orquestra - a Sinfônica Brasileira, regida por seu titular Roberto Minczuk. 

O primeiro a subir ao palco foi Dmitry Shishkin, o mais jovem dos finalistas. Ele interpretou o Concerto para Piano e Orquestra n.º 1 de Tchaikovsky, destacando-se em especial no segundo movimento. Fez uma boa prova que, no entanto, seria eclipsada pela subida ao palco, logo em seguida, de Daria Kiseleva. Ela optou pelo Concerto n.º 3 de Prokofiev. E foi ovacionada pelo público após uma leitura pautada não apenas por enorme virtuosismo, mas, principalmente, pela sua concepção musical. Após o intervalo, mais um n.º 1 de Tchaikovsky, agora com a sonoridade de Dinara Klinton, capaz talvez, nas especulações de corredor, enquanto o júri deliberava, de fazer frente ao Prokofiev de Daria.

O júri, no entanto, pensou de maneira diferente - e surpreendeu com o destaque dado a Shishkin. Não foi uma escolha fácil. “Para você ter uma ideia, houve um empate na votação”, contou a diretora artística do concurso, a pianista Lilian Barreto. “Há sempre algo imponderável nessas escolhas, o julgamento é pautado por questões muito subjetivas dos jurados. O que nos deixa contentes é ver o alto nível, não apenas do três finalistas, mas dos dez que chegaram às semifinais.” Para Lilian, é preciso ressaltar também as escolhas de repertório dos pianistas. “Muitos tocaram peças de Scriábin, fugindo de escolhas mais óbvias de Chopin ou de Liszt, por exemplo. Da mesma forma, quase todos tocaram peças contemporâneas, sem que isso fosse exigido. Fico com a sensação de que está surgindo uma nova geração com um alcance diferente.”

Após o anúncio do resultado, alguns rituais são cumpridos. O mais importante deles é a reunião do júri com os três finalistas, realizado em um das salas privativas do Municipal, longe dos olhos do público. Para os candidatos preteridos, é a primeira chance de trocar ideias sobre o desempenho na competição, ouvir conselhos e também palavras de incentivo. Já para a vencedora, é momento de receber cumprimentos, posar para fotos, ainda sob o impacto da divulgação do resultado.

O Estado teve acesso à conversa. E falou com Daria. “A sensação é muito especial”, ela diz. E conta que escolheu o concerto de Prokofiev para a prova final primeiro porque queria tocar um compositor de sua pátria. E, em segundo lugar, porque se sente bastante próxima da música do autor. “É algo que se concretiza no palco. Quando estou tocando este concerto, há uma energia crescente, que me envolve.” E quais os planos agora? “Parar de competir um pouco, estou cansada. Espero que a vitória me dê a chance de realizar aquilo que é importante para mim: fazer música, sempre.”

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