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Anna Tomowa-Sintow volta ao Brasil depois de 30 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Aos 3 anos, Anna Tomowa-Sintow interpretou o papel da criança em Madama Butterfly, de Puccini, na Ópera de Stara Zagora, sua cidade natal, na qual sua mãe fazia parte do coro. Foi lá, no ambiente da mais antiga casa de ópera da Bulgária, que ela começou a esboçar a intenção de se tornar cantora lírica, sonho que se concretizaria anos mais tarde, quando venceu o 1.º Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro, em 1971. Quase 30 anos depois, ela, considerada uma das principais cantoras líricas da segunda metade do século 20, volta ao País para dois recitais ao lado do pianista Helmut Oertel. Para suas apresentações em São Paulo, a soprano escolheu um programa bastante variado. Na primeira parte, ela interpreta canções de Johannes Brahms e Richard Strauss. Em seguida, na segunda parte, árias de ópera de compositores como Verdi, Cilea e Wagner. "Para a primeira parte escolhi dois compositores dos quais gosto muito, desde pequena ouvia as canções de Brahms e, à medida que minha carreira ia se desenvolvendo, entrei em contato com Strauss e tive um intenso relacionamento com sua obra", explica ela em entrevista exclusiva à Agência Estado. "Já na segunda parte, minha preocupação foi criar um contraste em relação às canções e escolhi árias de óperas das quais gosto muito, afinal de contas, antes de tudo, sou uma cantora de ópera", afirma. Curiosamente, a carreira de Ana Tomowa-Sintow teve início no Brasil, em 1971. "Desde pequena eu sabia que iria me tornar uma cantora, mas estava vivendo um momento de indefinição e resolvi participar do 1.º Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro, do qual saí vencedora", lembra. Dois anos após vencer a competição no Rio, tinha início sua colaboração com o maestro alemão Herbert Von Karajan, com quem a soprano trabalhou durante 17 anos, até a morte dele, em 1989. "Devo dizer que tenho orgulho e agradeço profundamente por ter encontrado e trabalhado tantos anos com esse verdadeiro fenômeno". Indagada sobre o que fazia do trabalho com Karajan algo tão especial, Anna afirma não ter palavras. "É difícil descrever experiência tão rica; foi simplesmente fantástico". Na falta de palavras, ela faz uso de exemplos. "Quando chegávamos de apresentações em casas como o Metropolitan, o Scala, o Covent Garden, nos sentíamos como grandes estrelas, verdadeiras primas-donas e, como num passe de mágica, começávamos a trabalhar com ele e todas essas coisas superficiais desapareciam e restava apenas a música". E completa: "Com ele, voltávamos à verdadeira fonte da música, do trabalho do compositor, e experimentávamos a mais alta satisfação artística; ele me ensinou que, não importa o que eu faça ou cante, devo fazer com todo o meu coração, concentração, disciplina e devoção". É essa, na sua opinião, a fórmula para se alcançar um melhor desempenho, tanto técnico como dramático, em cena. "Como Verdi disse certa vez, quando há um completo envolvimento do coração, a técnica surge naturalmente". A gravação que ela fez com Karajan do Requiem de Verdi no Musikverein de Viena, ao lado da meio-soprano Agnes Baltsa, do tenor José Carreras e do baixo-barítono José Van Dam é, para ela, um dos momentos inesquecíveis de sua carreira. "Foi uma das mais inspiradoras experiências musicais de minha carreira, além de um momento espiritual que não vivemos todos os dias". Domingo - Outro momento de sua carreira que a soprano relembra com bastante carinho é a montagem de Otello, de Verdi, regida por Carlos Kleiber em Tóquio, na qual ela tinha a seu lado o tenor Placido Domingo. "Ele é um dos meus mais adorados colegas, juntos tivemos um intenso período criativo". De fato, os dois participaram de novas produções de óperas como Aida, Tosca, Manon Lescaut, Un Ballo in Maschera, Andrea Chenier, Lohengrin, só para citar alguns exemplos. "Nós sempre soubemos que sentíamos a música de modo muito parecido e, além disso, nossas vozes combinavam muito bem; trabalhar com ele sempre é uma experiência espontânea e preenchedora". Anna Tomowa-Sintow também recorda com gosto a gravação, que lhe rendeu o Grammy, feita por ela da ópera Ariadne auf Naxos, sob a regência do maestro James Levine. "Já havia trabalhado intensivamente com ele no Metropolitan de Nova York e durante as gravações, nos entendemos muito bem musicalmente, o que possibilitou que uma grande interpretação surgisse à medida que a orquestra se combinava com a voz humana". Canto - Anna não vê muitas diferenças entre a arte do canto nos dias de hoje em comparação com os grandes nomes do passado. "A técnica mudou, é verdade, mas não gosto dessa tendência atual de relegar a ela importância capital, esse tipo de interpretação se torna muito superficial". Técnica e devoção - O ideal, para ela, é encontrar um meio-termo. "A técnica pode ser um elemento básico, mas uma vez incorporada, o cantor deve saber ´voar´, se soltar no papel, pois, quando se canta com devoção, a técnica correta aparece automaticamente". Em sua opinião, é essa perfeita combinação entre a técnica e a emoção que a audiência espera. "É engraçado, mas percebo que o público sempre é reflexo da mentalidade e do temperamento de uma nação, mas há algo em comum, as pessoas sempre querem se emocionar e no que diz respeito ao público brasileiro, que eu conheci logo no início da carreira, guardei uma sensação muito boa, porque é uma platéia que sabe ouvir música com o coração, coisa que não é muito comum de ser encontrada pelo mundo afora". Serviço - Anna Tomowa-Sintow. Amanhã e quinta, às 21 horas. Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/n.º, em São Paulo, tel. (11) 222-8698. De R$ 30 a R$ 120

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