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Andy Summers, ex-guitarrista do The Police, inicia turnê com repertório da antiga banda em São Paulo

Músico se apresentará ao lado de Rodrigo Santos (do Barão Vermelho) e João Barone (Paralamas do Sucesso)

Por Pedro Antunes
Atualização:

Orfeu e Eurídice, mortos, mas ainda juntos. A história de um amor que sobreviveu até à própria finitude humana deixou a Grécia e foi reviver em pleno carnaval carioca, entre morros, favelas e tamborins pela lente de Marcel Camus (o irmão do escritor Albert), em 1959. Orfeu Negro ganhou a Palma de Ouro, o prêmio mais importante do festival de cinema de Cannes. Levou também o Oscar de melhor filme estrangeiro – embora filmado no Brasil e com a participação de atores locais, a estatueta foi para a França. Então com 15 anos, Andy Summers não imaginava que se tornaria guitarrista. Não passava pela sua cabeça integrar o trio The Police e, com seu estilo que fundia bossa, reggae, new wave, influenciaria uma geração de instrumentistas que nasceriam a seguir. 

Rodrigo Santos, João Barone e Andy Summers Foto: MAURO PIMENTEL/ESTADÃO

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Afinal, Summers, hoje com 74 anos, tinha 15 na época. E, aos 15, sabemos bem pouco da vida. Ele tinha essa certeza, entre algumas outras possíveis na idade. Ao deixar uma sala de cinema, após assistir a Orfeu Negro, sabia que queria conhecer o Rio de Janeiro, cenário de fundo do filme de Camus que tanto o impressionou. “Acho que foi assim que começou a minha história de amor com o Rio”, ele conta, ao telefone, da casa onde mora, em Los Angeles. 

Inglês da fria Lancashire, Estado que fica no noroeste da Inglaterra, Summers deixou a ilha britânica e se mudou em busca dos ares mais quentes da Califórnia. Mesmo calor que ele busca em suas visitas ao Rio de Janeiro. O número exato de vezes em que esteve na cidade, ele mesmo não sabe. Calcula ter vindo de 35 a 40 vezes. E lá está, mais uma vez. Desta vez, ele circulará ainda por São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio e Teresópolis com a turnê Call the Police, um manifesto em homenagem à banda que Summers integrou de 1977 a 1986 – e reencontrou outras vezes em tours de reunião e despedida. 

A apresentação em São Paulo é a primeira delas. O show será realizado no Tom Brasil, localizado na zona sul da cidade, a partir das 22h desta sexta-feira, 31. Para acompanhá-lo no palco, Summers terá o Barão Vermelho Rodrigo Santos no baixo e voz, o posto de Sting, e João Barone, do Paralamas do Sucesso, que fará as vezes de Stewart Copeland no comando das baquetas. 

São, ambos, Santos e Barone, fãs de The Police. E, invariavelmente, as duas bandas deles, Barão e Paralamas, beberam da fonte de Sting, Summer e Copeland, às vezes de maneira discreta, noutras, escancarando a influência do reggae rock sem qualquer restrição. As duas bandas brasileiras são fruto do BRock, movimento do rock brasileiro que estourou a bolha dos inferninhos e chegou às rádios de todo o País depois do Rock in Rio de 1985. São de uma geração criada diretamente na sequência do estouro do The Police, que, em 1983, já tinha ganho seis gramofones do Grammy e não saíam das rádios com Every Breath You Take, Don’t Stand So Close to Me, entre outras tocadas à exaustão. Summers conhece Santos por intermédio do empresário que agencia os dois, brasileiro e inglês. 

“Não deixa de ser lisonjeiro saber que a banda influenciou outras bandas. Que a influência atravessou o (oceano) Atlântico. Eles (Santos e Barone) são ótimos músicos e pessoas incríveis”, elogiou o guitarrista. No domingo, 26, Summers chegou ao Rio de Janeiro. Na segunda, 27, ele se reuniu com o restante do trio para dar início aos ensaios em um estúdio no Jardim Botânico. Barone e Santos já vinham ensaiando antes da chegada do ex-The Police. Summers, bom, não precisa praticar tanto assim o repertório que ele mesmo ajudou a criar. Os três, juntos, terão somente três tardes de ensaio até a estreia da turnê, que passa também por Ciudad del Este, no Paraguai. 

Na corrida contra o tempo, para evitar perder preciosos minutos no estúdio, Summers preferiu que a foto que estampa esta página do Estado fosse feita já no espaço para ensaio e um pedido para que nada atrasasse. “Será apertado”, avalia Summers. “Vou revisar algumas das músicas no fim de semana. Vai que surjam uma ou outra que não estou esperando?”, brinca.

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O guitarrista garante, contudo, que não haverá espaço para canções desconhecias ou mais sombrias da obra criada por ele, Sting e Stewart Copeland. “Um show como esse, é preciso tocar os hits”, ele diz. “Para mim, é um show estranho. Engraçado, também. É uma apresentação em tributo ao The Police, sendo que eu sou do The Police”, ele ri da sua própria constatação. “É divertido tocar esse repertório. Existe menos restrições em uma apresentação como essa. Ainda que exista uma bagagem emocional muito grande para mim, é divertido.” 

Fora do The Police, Summers segue lançando discos experimentais solos – o mais recente, Triboluminescence, sai ainda este ano. Em 2012, lançou Fundamental, um álbum de bossa com levada inglesa e cantada pela mineira Fernanda Takai. “Acho que posso dizer que o Rio de Janeiro é a minha segunda casa”, afirma ele, por fim. “Estou feliz em voltar.” 

CALL THEPOLICE Tom Brasil. Rua Bragança Paulista, 1.281, telefone 4003-1212.  6ª (31/3), às 22h. R$ 100 a R$ 200

Grupo tinha um caso de amor com o Rio de Janeiro 

Andy Summers, em ação no ginásio Maracanãzinho, em fevereiro de 1982 Foto: IARLI GOULART

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“O grupo faz um tipo de som direto, sem grandes efeitos, mas de empatia com o público jovem, principalmente os adeptos da chamada new wave.” Assim a edição do Estado do dia 17 de fevereiro de 1982 resumiu o som do The Police ao informar que, naquele dia, a banda faria sua segunda e última apresentação daquela turnê no Rio de Janeiro, no ginásio do Maracanãzinho. Era a primeira vez que a banda formada por Sting (baixo e voz), Andy Summers (guitarra) e Stewart Copeland (bateria) e apenas a capital fluminense havia sido incluída na turnê mundial ancorada pelo álbum Ghost in the Machine. O trabalho, lançado no ano anterior, viria a ser o penúltimo da banda e tinha, como maior sucesso, a música Every Little Thing She Does Is Magic. 

Ao se despedir no segundo show consecutivo na cidade, o Police não voltaria tão cedo. Não com a banda em atividade, de forma propriamente dita. O retorno ocorreria 25 anos depois, no estádio do Maracanã, para a turnê que marcava a reunião e a despedida da banda. Aquele giro, encerrado em 2008, foi o último do trio – e, ao arrecadar US$ 358 milhões e ter vendido 3,7 milhões de ingressos, se tornou a mais bem-sucedida turnê da época. 

Curioso que o caso de amor do Police com o Brasil tenha se restringido apenas ao Rio de Janeiro – hoje em dia, é algo inimaginável, com exceção de algumas atrações do Rock in Rio que, por contrato de exclusividade com o festival, são impossibilitadas de se apresentarem em outras cidades do País. 

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Mas o ano era 1982 e o mercado do show biz brasileiro era outra coisa – e o Rio de Janeiro enfeitiçava os três integrantes do grupo inglês. Alguns artistas internacionais já haviam pisado em solo brasileiro. Alice Cooper, Genesis e, principalmente o Queen, já haviam aberto à foice esse caminho até o Brasil. Com o Police, contudo, fora diferente. O trio surfava na crista da popularidade como poucas bandas naquele início da década de 1980. Era a banda do momento, que reunia influências do além-mar. Ingleses recriando o reggae. Canções solares para uma década que, depois, ficou marcada pela escuridão dos versões de um rock quase gótico de The Cure e The Smiths. 

No Brasil, na época do Police, por aqui se alardeavam os feitos enfileirados pelo trio. “Atualmente, o The Police é o único grupo da música popular a ter conseguido, em apenas quatro anos de carreira, nada menos do que 10 discos de ouro e 12 de platina”, elogiava o Estado. Quatro anos depois, o Police se deteriorava. Um sexto disco teve sua feitura cancelada. Sting decidiu perseguir uma carreira solo. “Estava claro que o Sting não tinha interesse em compor músicas para o Police”, escreveu Summers, na caixa de discos do Police Message in a Box.