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André Abujamra lança disco inspirado em seu pai

Filho de Antônio Abujamra faz show neste domingo em São Paulo

Por Adriana Del Ré
Atualização:

Pareceu premonição. Ao menos, assim sente o músico André Abujamra. No início do ano, ele começou a se dedicar ao que seria seu quarto álbum solo, O Homem Bruxa, que será lançado hoje em show no Auditório Ibirapuera. Ou, como ele prefere definir, espetáculo. O disco vem inspirado no ‘bruxo’ Antônio Abujamra, seu pai, que, por sua vez, remete ao célebre personagem Ravengar, que ele eternizou na novela Que Rei Sou Eu?, de 1989.

Por ser peça importante no conceito desse novo trabalho, Abu pai também participa de uma das faixas, Espelho do Tempo, que faz uma analogia com a ideia da perpetuação ao longo das gerações – o brilho do olhar do tataravô é o mesmo brilho do olhar do tataraneto. “Olhe para o céu e veja a estrela mais distante. O que vemos dela é o passado refletido, o que existiu ainda existe. E o que existirá vai refletir no futuro, sendo o passado, vencendo o tempo, vencendo a morte”, recita Antônio Abujamra na música. O ator havia participado ainda da série de TV de André, Sonhos de Abu, exibido no Canal Brasil. E, no final de abril, cerca de duas semanas antes da estreia do show do filho, Antônio morreu, dormindo. “O disco já era uma homenagem ao meu pai”, conta André.

Bruxo. Músico faz homenagem ao pai, Antônio Abujamra Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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Impossível conversar com André e não falar de seu pai, que partiu há tão pouco tempo. Em um estúdio na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, na última quarta-feira, o músico, vestido de bruxo, ainda azeitava o formato do espetáculo que apresenta hoje. E muitas ideias brotaram de sua cabeça nesse processo. André não parece apenas fisicamente com o pai. O estilo libertário e a criatividade à flor da pele são outros traços que aproximam os dois Abus. Antônio sempre foi muito presente na vida de André, mas, nesses dois trabalhos do filho – a série de TV e o disco –, ele esteve especialmente atuante.

“O impacto de não tê-lo mais por perto é muito forte. A gente perdeu minha mãe faz dois anos e, desde então, para meu pai, a vida perdeu a cor. Ele perdeu a razão de viver, mas, como era um filósofo, um artista, se manteve durante dois anos. Trabalhou até o último segundo da vida dele, estava fazendo o Provocações”, diz André, trazendo em sua fala um misto de serenidade e saudade.

O músico conta que seu filho mais velho, José, não dimensionava o quão famoso era o avô. A perspectiva do garoto, no entanto, mudou com tamanha repercussão que teve a morte do ator. “Fizemos um velório no Teatro Sergio Cardoso, aquele foi o momento em que todo mundo apareceu lá, mas era uma multidão de gente, eu não conseguia respirar de tanto abraço, eu consolando as pessoas.”

Jerry Lewis. De certa forma, Abu pai estará no espetáculo do filho: ele surgirá numa projeção, dentro de uma espaçonave em 3D, num vídeo feito por André antes da morte do pai. Será uma apresentação de um homem só. André Abujamra comandará todos os instrumentos musicais no palco – os que sabe e também aqueles que ele não sabe tocar –, assim como ocorre no álbum O Homem Bruxa. Dentro desse formato dinâmico, ele promete conversar com os instrumentos, dançar, atuar e até levitar.

Haverá ainda eventuais interações com as projeções que ocuparão a parte de trás do palco – com direito a Jerry Lewis, numa cena de filme, tocando saxofone com André, numa divertida sincronia. Ao fim do espetáculo, os créditos finais irão subir, como se fosse um filme, e o público poderá conferir o bis no hall, com André, com sua estrutura de homem-banda (formada por bateria, violão e microfones), tocando repertório de seus outros álbuns e outros projetos, como Karnak e Os Mulheres Negras – nome este, aliás, que lhe serve de precedente para batizar seu novo trabalho de O Homem Bruxa e não de O Homem Bruxo e o dispensa de possíveis justificativas.

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"Esse disco foi pensado numa coisa meio egocêntrica minha, de fazer tudo, de tocar tudo”, explica. “Depois que meu pai morreu, vi o que ele tentava mostrar para as pessoas, de mexer com a cabeça delas, de provocá-las. Quero provocar com esse disco mesmo, você vê que tem coisas desajustadas lá: toco trompete, mas não sei tocar trompete, toco baixo acústico, mas não sei tocar baixo acústico. O que aprendi, o que veio do Abu é essa liberdade total, é se enforcar com a corda da liberdade.”

O Homem Bruxa, o disco, inicia sua odisseia com a faixa-título, numa levada salsa, e segue por experimentações que já são inerentes à obra de André, com incursões por sons árabes, camadas eletrônicas, entre outros elementos. As várias facetas de André se estendem às letras das canções, que vão da simpática Ovô à reflexiva 50, na qual faz ponderações sobre seus 50 anos, recém-completados, e conjecturando para, quem sabe, os próximos 50 anos. “Acho meio difícil viver até os 100 anos, mas vou tentar. Gosto muito de fazer arte, não quero me aposentar. Se eu não morrer dormindo, quero morrer em cima do palco.”

ANDRÉ ABUJAMRAAuditório Ibirapuera. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, Parque do Ibirapuera, 3629-1075. Hoje, às 19 h. R$ 20.

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