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Anderson Noise traz sutileza ao techno

DJ mineiro lança o disco Outubro pela Trama, uma estréia de peso e invenção

Por Agencia Estado
Atualização:

O techno é duro, sim, mas tem suingue quando sai da case de DJs como o mineiro Anderson Noise, que lança semana que vem seu segundo disco, Outubro (Noise Music/Trama), após quatro anos da estréia no mercado fonográfico. A compilação mixada traz o bom gosto e o estilo do DJ, reproduzindo um set numa pista já em plena madrugada. Nervoso, mas com rebolado. "Quando eu era menino saía num bloco de carnaval tocando tamborim", conta. "Sempre gostei de disco music e de funk." Noise é um dos mais requisitados DJs do Brasil, entra no line-up de todas as grandes baladas do País. Há dez anos produz as festas Noise, que nasceram em Belo Horizonte e hoje são realizadas em várias cidades. A Feel the Noise, no manicômio Raul Soares, é digna de ser lembrada. "O diretor não queria deixar, mesmo que a festa fosse só para convidados", conta. "Daí olhei por uma janela uns internos fazendo teatro, então tive a idéia de incluir o show deles na festa e ainda prometi levá-los em uma turnê." Com o sinal verde, a caravana Noise partiu num ônibus percorrendo cidades do interior de Minas Gerais com 12 pacientes, 2 psiquiatras, 3 drag queens, alguns hare krishnas e a equipe da festa. "Foi loucura", ele lembra, rindo muito. "Mas as drags deram mais trabalho que os loucos." Também foi ele quem popularizou na capital mineira outros nomes importantes das pick-ups. Entre eles, os brasileiros Marky, Mau Mau e Renato Lopes, o francês Laurent Garnier, o jamaicano Dave Angel (astro do Rock in Rio) e Kevin Sanderson, um dos três criadores do techno. Noise também lançou página na Internet (www.noise.art.br), oxigenou o conterrâneo Jota Quest num remix, colocou a eletrônica no carnaval fora de época de sua cidade, apresentou-se em raves na Alemanha e em Londres. E desde 99 mantém o selo Noise Music, que lançou disco de vinil tocado por gente como Funk D, Void e Marco Carola. Anderson Noise é um DJ que toca, pinta, borda, chuleia e caseia. E agora ele também produz. Em Outubro, assina com Renato Cohen a percussiva faixa-título. Outubro recria todo o bem-estar do DJ na cabine, misturando o som das festas e raves, em que ele toca para matar o povo de dançar, e o dos clubes, onde costuma criar momentos mais leves, usando até vocal. "Só preciso de um clima bom na pista e de retorno, já que sou meio surdo." O DJ abre o set Outubro com belíssima faixa do talentoso produtor Renato Cohen, do projeto Level 202, de São Paulo. Random Collection é vertiginosa, veloz, percussiva, mas incrivelmente suavizada por vocal feminino cantado em inglês que vai pontuando a batida feroz, criando contraponto à dureza do techno. Vai sair em vinil, com matriz inglesa e fabricação carioca, pelo selo Noise Music para outros DJs tocarem. Não se trata de techno traduzido para o português, nem de música eletrônica brasileira. Mas o suingue do DJ Anderson Noise é evidente nessa abertura e na seqüência de faixas percussivas como Afro Beatnik, de Steve D; Pneu, do Toneking, que vem remixada; e Six Drops of Poison, do Clay Ivet, com batidas concentradas que vão entrando em ebulição até explodirem alucinadamente. Outubro tem abertura envenenada e também fecha abatendo o dancefloor, com Pure, bis do Level 202, e resgatando Wexel, de Danny Casseau. Noise também gosta de criar seus momentos de beleza e graça. É a partir da quinta faixa que isso acontece. Searching, de Mr. C + Tom Parris, é a primeira de uma série que envolve também Birth, do Greenman, Three D-Knox, do Spirit Man, e Outubro, que é um pouco mais tensa. Searching é a mais longa do set e tão rica em texturas que cria por si mesma vários climas diferentes; em alguns deles até ´corta lenha´, como se várias músicas estivessem reunidas numa só. É o techno mais suave, que muita gente chama de tech house, mas de fato só diminui um pouco a velocidade do disco. A batida é a mesma 4/4 nesse tal de tech house. Outro destaque do recheio melodioso do disco é Force, da corporação asiática Technasia, que envolve selo e DJs. Force tem vocal do francês Charlie Siegling, uma das cabeças do grupo baseado em Hong Kong. Muito pop e bem suingada, bacana mesmo.

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