05 de julho de 2015 | 01h00
Russo e Cazuza surgem no contexto de frouxidão da Ditadura Militar, mas encararam a liberdade de formas distintas. Russo tinha seu jeito sisudo e letras mais afiadas, apontadas diretamente para cada político do País. Cazuza, não. Pedia para o Brasil “mostrar a tua cara”, mas essa não era a praia daquele menino do Leblon. “Meu partido é coração partido”, justifica ele em ‘Ideologia’. Era um carioca sorridente, de classe média (como Russo, aliás) e boa pinta. Agenor de Miranda Araújo Neto, "mas pode chamar de Cazuza", como diz no filme, sabia como levar a vida no Rio de Janeiro. Viveu intensamente, escreveu intensamente e, quando respondeu a um anúncio de banda que procurava vocalista, cantou intensamente. Era o encontro de um grupo que ansiava pela ebulição de Cazuza, enquanto ele precisava aprender a se construir como artista. A partida para a carreira solo, como os anos seguintes nos ensinaram, era inevitável. Necessária até.
ESPECIAL: Os 25 anos sem Cazuza
Cazuza não tinha gogó dourado. E não chegava perto disso. Era cheio de seus maneirismos, exagerava neles - até nisso! Evocá-lo como cantor é quase um menosprezo ao que ele sabia fazer com as palavras. Vinte e cinco anos após a sua morte, é fácil encontrar nas redes sociais algum apaixonado em busca de um “amor com gosto de fruta mordida”. Cazuza era bom, mesmo, em porres. E escrever deles, fossem eles etílicos, amorosos ou ambos, numa mistura fatal. Cazuza sabia viver, cantava isso, mas partiu cedo demais. Há 25 anos, derrapou nas curvas da estrada que manobrava com tanto arrojo.
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