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Análise: Skank fez a mais bem sucedida mutação no rock dos anos 90

A partir da virada dos anos 1990 para 2000, grupo incorpora às informações de reggae e reggamuffin nostalgias de um rock inglês melodioso e nostálgico, de onde vão sair suas melhores canções

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Por Julio Maria
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Havia algo de eufórico naquele 1993. Eufórico até demais, depois da derrocada de Fernando Collor de Mello da presidência da República. A última década do império do disco começava com os baianos em expansão territorial. A Banda Cheiro de Amor tinha seis músicas entre as mais tocadas nas FMs; Netinho da Bahia vinha com duas e a Timbalada, de Carlinhos Brown, uma. Em abril, uma nova informação surgia entre as frequências moduladas do verão. Um baixo volumoso de movimentos ondulares envolvia guitarra e teclado de marcação hipnótica e uma bateria hiperativa de raggamuffin caminhava entre a levada real e a eletrônica. Sax, trompete e trombone estavam livres para a festa.

Samuel Rosa durante show em São Paulo, em 2014 Foto: CARLA CARNIEL

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O Skank de 1993 era só parte do Skank que se conhece hoje. Ao lado de Jota Quest, O Rappa, Charlie Brown Jr e Planet Hemp, eles estiveram na última fornada das gravadoras antes da grande diáspora internética de 2000. Chegaram a vender 1.250 milhão de discos com Calango, de 1994, e tiveram execuções em níveis estratosféricos, a ponto de criar resistências mesmo a músicas que o tempo colocaria na história. Idiossincrasias de um mundo ainda sem internet.

A segunda e melhor parte do Skank viria mais tarde, contrapondo ou complementando ao reggae do início (a banda vai dizer que é a segunda opção) uma carga de rock inglês melodioso, de tirar belezas da melancolia. É a grande virada de chave de Samuel Rosa e seu grupo, que vão usar a receita em Maquinarama (2000), Cosmotron (2003), Carrossel (2006) e Velocia (2014). A beatleniana Dois Rios, de Samuel e Nando Reis, se sobrepôs, em 2003 (Cosmotron), a tudo o que a banda havia feito antes e se tornou uma das maiores canções do período. A parceria volta vitoriosa em canções como Sutilmente (Estandarte, 2008), outra para a coleção das melhores. De todas as bandas parceiras dos anos 90, ou mesmo as de uma década anterior, nenhuma outra conseguiu fazer um movimento artístico tão bem sucedido, uma mudança de norte que não soaria estratégico e não desprezaria os fãs de origem ao mesmo tempo em que atraía novos admiradores. 

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