Análise: Nave-mãe do Recôncavo, ela diluiu fronteiras

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Por Jotabê Medeiros
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No matriarcado da MPB, a mãe de Caetano Veloso compôs uma tríade de mentoras culturais de filhos talentosos com Maria Amélia (mãe de Chico Buarque) e Laura Braga (mãe de Roberto Carlos). Todas foram colocadas no centro da ribalta pelos filhos famosos, mas Dona Canô foi além em seu papel múltiplo: estabeleceu diálogos culturais e políticos em torno da corte caetânica, aproximando opostos (de Antônio Carlos Magalhães a Lula, seus amigos pessoais), diluiu barreiras, congregou intuições, aplacou ânimos exaltados.

 

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"Quem não rezou a novena de Dona Canô?", canta Caetano, em Reconvexo. Daniela Mercury cantou, Gil cantou, Bethânia cantou, Neguinho do Samba cantou. Em Santo Amaro da Purificação, ela abraçou as causas sociais e empenhou-se na disseminação da rica cultura local, que conhecia profundamente - uma rica tradição de sambas-de-roda, pontos de terreiro e cantos folclóricos. A cidade terminou por dar seu nome ao imponente teatro que foi inaugurado em 2007.

 

Abria sua casa aos visitantes, durante as festas de São João, deixando uma mesa farta de comidas típicas para a recepção. Sempre se preocupava se o caruru daria para todos. Era amiga da talentosa Dona Edith do Prato, que foi mãe-de-leite de Caetano (Edith amamentou o tropicalista quando a mãe foi tomada por forte gripe).

 

Repreendeu o filho Caetano publicamente, em 2009, quando este chamou o presidente Lula de "analfabeto". Até a relação de Gil e Caetano tem a mão da matriarca. Gil contou que participava, na TV baiana, do programa de Jorge Santos, que Caetano assistia em Santo Amaro. Era Dona Canô que chamava o filho quando o programa começava. "Caetano, venha ver aquele neguinho que você gosta!", disse Gil, imitando divertidamente a imortal Canô.

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