Análise: lutar contra o contra o streaming é como achar que a Terra não é redonda

Serviço já bate arrecadação de vendas físicas e digitais

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Por Pedro Antunes
Atualização:
Thom Yorke Foto: Marko Djurica/Reuters

Tudo não passa de uma luta contra o inevitável, tal qual aquele senhor de idade, que insiste em reclamar do trem que passa veloz ao lado da sua casa: “Por que as pessoas não usam mais carroças?”. Porque não é mais necessário levar dias para fazer essa viagem, meu caro. É bem simples: a tecnologia está aí e é estupidez ir contra ela. Thom Yorke, líder do Radiohead, é ativamente contra o streaming, atualmente a maior fonte de receita do mercado mundial da indústria fonográfica. Setor dado como morto há uma década e meia, aliás. Morto pela pirataria digital e justamente esse universo cibernético tem sido a sua salvação. Yorke se torna, assim como alguns outros, o velhinho da vez. 

A música, entre as artes, foi a mais impactada pelo meio digital. Definhou antes de todos, quando o compartilhamento de arquivos em MP3 arruinou com vendas já em queda. Na época, Lars Ulrich, baterista do Metallica, encabeçou a luta e ganhou. A própria banda aprendeu a jogar o novo jogo. Nunca mais lançou discos com a mesma frequência – foram dois deles, de inéditas, desde 2010. O dinheiro deixou de vir das vendas de discos, mas continuou enchendo as carteiras nos shows. O mundo se adaptou. 

 

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O streaming, que chegou há pouco, é a opção de se fazer algum dinheiro com a audição de cada música. Os artistas ainda recebem pouco – e esse é o maior desafio do serviço: se mostrar sustentável para todas as partes, principalmente àqueles que produzem a arte. Discutem-se os valores ínfimos recebidos pelos músicos. O alvo não deveria ser a ideia do streaming em si. Gravadoras, contratos antiquados e falta de legislação no ambiente digital são os grandes vilões por abocanhar o dinheiro alheio. 

Não há, contudo, nada mais contemporâneo no consumo da arte do que isso. O serviço é o reflexo do mundo interligado e conectado. Neil Young e a trupe de puristas reclamam da falta de qualidade das canções (algo que, com uma conexão melhor, será ajustado), outros que amam o disco de vinil e CD (o que tem seu valor e fetiche, mas se trata de uma comunidade menor e restrita). Lutar contra a tecnologia (e a ciência) nunca foi um bom negócio. Que o digam aqueles que insistiam que a Terra era plana. 

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