Análise: Lana Del Rey lança novo álbum com resgate dos anos 60 em meio à era Trump

Cantora norte-americana disponibilizou nesta sexta-feira, 21, seu quarto álbum de estúdio, ‘Lust For Life’

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Por Pedro Rocha
Atualização:
A cantora Lana Del Rey em imagem de divulgação da músicaCoachella - Woodstock In My Mind. Foto: Polydor/Interscope Records

A cantora norte-americana Lana Del Rey lançou nesta sexta-feira, 21, o seu novo álbum, Lust For Life, o quarto de estúdio da sua carreira. Além de estar disponível para compra, o disco já está também nas plataformas de streaming (e pode ser ouvido aqui). 

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O trabalho chega com uma mudança de comportamento gigante para a cantora. Conhecida por ter declarado que “queria estar morta” numa entrevista anos atrás, Lana Del Rey - nome artístico de Elizabeth Grant, 32 anos - agora mostra, com o Lust For Life, o seu desejo de viver e espalhar o amor, como já entrega o título do álbum, do primeiro single (Love) e o seu lindo e até então raro sorriso na capa do disco. 

Tal atitude não parece ser por acaso. Quem acompanha a carreira de Lana Del Rey sabe do apelo “vintage” da sua imagem, com várias referências às décadas de 1960 e 70. Só que, até agora, suas músicas traziam uma melancolia profunda que pouco refletiam uma parte importante dessa época passada, o Verão do Amor, que acaba de comemorar 50 anos, e o movimento hippie na música. 

Lana Del Rey sorri na capa do seu novo álbum, 'Lust For Life'. Foto: Polydor/Interscope Records

O movimento de encontro a esse período agora, no Lust For Life, não poderia ser mais explícito. Em uma das músicas, já reveladas anteriormente, Lana Del Rey compara a sua ida ao Coachella deste ano com o icônico festival de música e arte pela paz, Woodstock, em 1969. Coachella - Woodstock in My Mind veio a partir de uma declaração da Coreia do Norte, no fim de semana de realização do Coachella, de que uma guerra termonuclear poderia acontecer “a qualquer momento”. 

Em outra canção, Lana canta que “quando o mundo estava em guerra nós continuamos dançando”, em que questiona: “É o fim de uma era? É um fim da América?”. A resposta é que não, “se tivermos esperança, vamos ter um final feliz”. E, por fim, a referência mais escancarada aos anos 60: uma participação de Sean Ono Lennon, filho de John e Yoko, na música Tomorrow Never Came

A preocupação da cantora, declaradamente, é que os EUA retornem a tempos de guerra e de luta por direitos civis básicos, exatamente como era nos anos 60, em meio à Guerra do Vietnã. Não por acaso, também, o novo álbum canta bastante sobre as mulheres e o sexismo. Tudo, claro, tem a ver com a era Donald Trump. “Quando você tem um líder no todo da pirâmide que casualmente faz graça sobre coisas do tipo, traz defeitos de caráter em pessoas que já são propensas à violência contra a mulher”, declarou Lana, em entrevista ao site NME, sobre o medo de mulheres perderem direitos como o controle de natalidade, por exemplo. 

A insatisfação de Lana Del Rey com Donald Trump é tão grande que, em fevereiro, a cantora participou de um grande ritual de magia nos EUA na tentativa de retirar o atual presidente do poder. Ela própria convidou fãs a se juntarem a ela no ritual, numa postagem no Twitter na época.

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Apesar de, ao mesmo tempo, voltar à suas origens musicais, principalmente com a influência do hip-hop em suas colaborações com o rapper A$AP Rocky ("cresci no hip-hop", já cantava Lana em Blue Jeans), o Lust For Life representa uma nova era para Lana Del Rey. O culto aos EUA e à bandeira do seu país será, agora, revisto. “Eu não vou ter a bandeira americana balançando enquanto eu canto Born To Die. Não vai acontecer, prefiro que esteja estática”, revelou ainda em sua entrevista ao NME. “É um período de transição e eu estou consciente disso. Acho que seria inapropriado estar na França com uma bandeira dos EUA. Parece estranho para mim agora - não parecia em 2013.”

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