PUBLICIDADE

Análise: Em show tocante em BH, Chico Buarque ganha apoio incondicional do público

Na estreia da turnê 'Caravanas', no Palácio das Artes, ele ainda brincou com os ataques que recebe quando caminha pelo bairro onde mora: ‘viado, vá pra Cuba!’, ‘viado, vá pra Paris!’. “O único consenso é o viado”, disse, bem-humorado

Por Adriana Del Ré
Atualização:

BELO HORIZONTE - Nesses (estranhos) tempos atuais, um show de música pode não ser apenas um show de música. Atacado nas redes sociais e mesmo nas ruas, Chico Buarque foi acolhido pela plateia lotada do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde ocorreu a estreia nacional de sua nova turnê, Caravanas, na quarta, 13, de uma maneira mais fervorosa do que a se viu em temporadas anteriores. E não foram só os habituais gritos de ‘eu te amo’, ‘lindo’ ou ‘casa comigo’ que costumam brotar da plateia. Foram vários momentos em que o público ficou de pé para aplaudi-lo, inclusive assim que as cortinas se abriram no começo do show. 

PUBLICIDADE

Da plateia, também partiu o coro ‘Fora, Temer’. “Falaram ‘Fora, Temer’?”, perguntou Chico. E, com a afirmativa, ele disse: ‘É pouco”. Chico demorou um pouco para entender o que era aquela manifestação, por causa dos fones de ouvido que estava usando. Ele brincou dizendo que usaria permanentemente aqueles fones no bairro do Rio onde ele gosta de caminhar. Lá, ouve gritos endereçado a ele, como ‘viado, vá pra Cuba!’, ‘viado, vá pra Paris!’. “O único consenso é o viado”, disse, bem-humorado, o que fez o público cair na gargalhada.

E cantar Geni e o Zepelim, do musical Ópera do Malandro, dos anos 1970, e que atualmente, vira e mexe, é criticada pelo teor de sua letra? Foi apenas uma vontade de Chico de incluir um clássico de sua obra no repertório do show? Seja qual for a motivação dele, a plateia, com 1.600 pessoas, o acompanhou em coro.

Chico Buarque durante ensaio do espetaculo 'Caravanas', no Grande Teatro do Palácio das Artes, na terça, 12. Foto:Pedro Vilela/Estadão 

Falando ainda sobre repertório, Chico fez uma saborosa seleção de canções de outros trabalhos e as colocou para dialogar com as nove canções de seu novo disco, Caravanas, lançado em agosto, criando pontes temáticas e afetivas, como quando canta Outros Sonhos, de 2006, e, logo na sequência, a nova Blues Pra Bia – as duas falam de amores que ficam no campo do sonho, do desejo. Apesar da poética perpassar a obra de Chico como um todo, é possível senti-la de forma diferente a cada música cantada.

Tua Cantiga, do novo disco, por exemplo, remete automaticamente à produção atual do compositor, enquanto clássicos como Gota D’Água, As Vitrines e Futuros Amantes, também presentes nesse set list, nos conduzem ao reconfortante campo da familiaridade.  Esse repertório está estreitamente conectado com elementos cênicos do show.

Chico se posiciona estrategicamente no meio do palco, ora de pé, ora sentado, cercado pelos músicos de sua banda. Atrás deles, o cenário ganha vida própria. A cenografia é novamente assinada pelo célebre Helio Eichbauer, que criou uma escultura suspensa que flutua no ar, em sintonia com a iluminação artística, viva e multicolorida de Maneco Quinderé.

O show Caravanas fica em temporada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, até dia 17. As apresentações no Vivo Rio e no Tom Brasil, em São Paulo, ocorrem no ano que vem, com ingressos concorridos – por isso, serão abertos mais oito shows em cada cidade, neste sábado, 16, a partir das 10h, na bilheteria e nos canais online.

Publicidade

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.