Amigos destacam criatividade de Sabotage, o "sangue bom"

Para MV Bill, Beto Brant e Paulo Miklos, Sabotage era um poeta com agilidade de raciocínio e versatilidade, qualidades que lhe garantiram sucesso na música e no cinema

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Por Agencia Estado
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Entre os manos do rap, Sabotage era conhecido como "sangue bom". Considerado mesmo. Os amigos, rappers ou não, são unânimes em ressaltar sua criatividade inquietante. Para eles, a perda é irreparável. "Entre os cinco melhores do rap no Brasil, Sabotage não falta. Ele tinha acabado de receber dois prêmios, o que imprime bem sua boa fase", comentou o rapper MV Bill, que falou pela última vez com o amigo, por telefone, no início do ano. Segundo ele, lhe causou espanto um rapper brasileiro morrer de forma tão violenta, algo visto até então apenas nos Estados Unidos. "Mas Sabotage deixou uma frase adiante: o rap é compromisso." Johnny MC, do grupo Posse Mente Zulu, também estava chocado com o caso. "Tínhamos gravado um CD juntos na quarta", afirmou ele. "Sabotage estava prosperando, não entendo o que aconteceu." Sabotage estava prosperando mesmo. Ele, que cresceu numa favela, viveu entre a bandidagem e foi um ex-detento da Febem, mostrava-se entusiasmado com os rumos que sua carreira tinha tomado no rap. Além da boa fase na música, ele colhia os louros por sua primeira aparição nos cinemas, no filme de Beto Brant O Invasor. Foi tão bem que recebeu outro convite, desta vez de Hector Babenco, para participar de Carandiru, novo filme do diretor. "Ele entrou para fazer uma ponta no filme", disse Beto Brant. "E quando viu uma oportunidade no cinema, ficou interessado, deu sugestões, propôs a trilha sonora. Ele esteve muito próximo do filme." Brant conheceu Sabotage quando fazia a seleção de seu casting e precisava de um rapper, mas que não fosse famoso. "Era muito respeitado no hip hop, um talento inquieto e autêntico", observou o cineasta, que lembra de Sabotage andando para lá e para cá, com um caderno embaixo do braço para escrever suas rimas. Paulo Miklos, dos Titãs, que também estreou nas telonas em O Invasor, recebeu dicas do próprio Sabotage para compor o personagem bandidão no filme. "Fiquei fã dele, era um poeta fantástico, com agilidade de raciocínio e criatividade. Sabotage se viu envolvido numa nova situação, a das filmagens, e colocou a veia de poeta a favor do filme", elogiou Miklos. A amizade dos dois acabou extrapolando os sets. "Fica a lembrança dessa vitalidade, da maneira criativa com que ele era ligado à vida."

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