<alt=Nana Caymmi lança seus Desejos - Arte e Lazer - Estadao.com.br>

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Por Agencia Estado
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Cantora de sorte é Nana Caymmi. Quando precisa de repertório para shows e discos nem sai de casa, recorre aos irmãos, Dori e Danilo, compositores de mão cheia, ou vai ao baú do pai, Dorival Caymmi, tirar preciosidades das quais quase ninguém se lembrava. Foi assim que ela escolheu as 14 músicas do CD Desejo, que está chegando às lojas, mas ela ainda ouviu mais de cem fitas, com o produtor José Milton e o arranjador e pianista Cristóvão Bastos. Também pediu músicas novas aos amigos e ainda descobriu uma da sobrinha, Juliana, filha de Danilo Caymmi, que se mostrou à altura do sobrenome que ostenta. "Sempre foi assim, desde os anos 70, quando eu viajava pelo Brasil no Projeto Pixinguinha. Chegava às cidades e pedia na rádio ou no jornal local que os compositores me mandassem músicas. Dessa maneira descobri muita gente boa", ensina Nana. "Minha vida é essa, meu prazer é esse, descobrir uma canção, aprendê-la e gravar. Se eu pudesse, vivia dentro de um estúdio com meus músicos, gravando discos meus e de gente boa que está por aí. No dia em que eu me cansar disso, paro com tudo, porque a vida terá perdido a graça." Desejo só tem canções de amor. Nana não entende música sobre outro assunto. "Vivemos disso. Nascemos pensando num vestido de noiva, em romance e só estamos completamentes felizes quando acontece. A virgindade e casamento estiveram fora de moda mas estão importantes de novo. Eu acho ótimo", filosofa a cantora. "Vejo minha neta, já namorando aos 9 anos e tomando iniciativa. Aprendeu comigo porque os homens estão tão assustados que, se a gente não for à luta, nada acontece. Disso entendo porque me casei 11 vezes." O disco fala de amor, mas o clima é de família. Da capa, com uma Nana sorridente, às fotos do encarte, nas quais está com músicos, sua família (inclusive o pai, Dorival, e a mãe Stella) e com amigos (Ivan Lins e Zeca Pagodinho), à ficha técnica, só um ou outro nome não está ligado há cantora há tempos. "Sempre vivi em função dos meus. O grupo é que aumenta", explica. "O José Milton, por exemplo, ficou no lugar do Dori, que mora nos Estados Unidos. E ouve música comigo, escolhe repertório, delira e me faz viajar juntos quando diz que chegaremos a 1 milhão de discos vendidos." Mas Dori não saiu da vida profissional de Nana. Tanto que a música que abre o disco, Saudade de Amar, que está na novela Porto dos Milagres, é dele, que assina o arranjo de seis faixas, as mais românticas e derramadas, como Fogueira (de Ivan Lins e Vítor Martins), Vinho Guardado (do também irmão Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós), a marcha-rancho Seus Olhos (de Juliana Caymmi, filha de Danilo e sobrinha de Nana, que estréia como compositora) e Só Prazer (música de Ivan Lins com letra sensual e triste de Celso Viáfora). Há também arranjos de Cristóvão Bastos, autor da faixa Esse Vazio, em parceria com Dudu Falcão, compositor descoberto por Nana. "O Cristóvão é meu companheiro de todas as horas. A gente conversa, ouve música e fala da vida, mesmo assuntos fora do trabalho", elogia Nana. E ela está aberta a novas descobertas. "Neste disco, por exemplo, fiquei encantada com o baterista Carlos Bala. Não o conhecia, ele entrava e saía calado, mas adorei." Entrar para a turma de Nana não é fácil e quem está dentro raramente sai. É o que acontece com Fátima Guedes, autora da música que dá título ao disco, e Suely Costa, que fez Fumaça das Rosas e trouxe o letrista Fausto Nilo para a turma. "Nunca tinha cantado nada dele. Gosto de seu jeito de casar palavras e notas", diz Nana. Já Ivan Lins, ia ter só uma faixa, mas chegou com Fogueira, a cara de Nana, como seus hits Mudança dos Ventos, Desenredo e outros, quando o disco estava pronto. "Quase briguei com ele porque tive de mudar tudo, mas essa música não ia ficar de fora. E o Zé Milton me proibiu ouvir qualquer outra fita para este disco, senão ia ter 25 faixas." Nana ainda conseguiu uma proeza de juntar Marcos Valle e Erasmo Carlos em Frases do Silêncio. Para quem nunca se preocupou em apagar fogueiras, não deixa de ser engraçado ser a primeira a juntar um dos papas da bossa nova com o Tremendão da jovem guarda, sob a batuta do maestro Lincoln Olivetti, que nos anos 80 foi o mago dos teclados, mas nessa faixa se esbalda em cordas de verdade. Chamar Zeca Pagodinho e seu maestro, Paulão Sete Cordas, para fechar o disco é outra surpresa. Difícil imaginá-la numa roda de samba? Então ouça Vou Ver Juliana, música de Dorival Caymmi que estava meio esquecida. "Sempre vou gravar alguma coisa do papai nos meus discos", garante ela. O disco vira show a partir do próximo mês, com estréia em São Paulo, e logo depois, temporada no Rio. "Vou cantar esse repertório e incluir músicas antigas que o público não me deixa sem cantar", promete Nana. A banda vai ser a mesma de sempre, com Cristóvão Barcelos à frente. "Ele me entende completamente no palco. Às vezes quando canto baixinho, tem músico que acha que a voz está falhando, mas ele sabe que é só um impulso para voar, como um avião que passa sobre a cidade."

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