Alice Haines, a cinderela australiana, faz show em SP

Com muito pop, soul e uma linda voz, ela mostra hoje e amanhã o show Alice, a história de sua vida de menina pobre que venceu graças à música

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Por Agencia Estado
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A história parece ter sido tirada de uma novela mexicana: a menina pobre, abandonada à própria sorte nas ruas, consegue vencer na vida por meio da música. Mas poucos conseguem fazer com que esse enredo pareça tão autêntico e emocionante quanto a australiana Alice Haines, que cantará a sua história no show autobiográfico Alice no 6.º Cultura Inglesa Festival. "Pode parecer piegas, mas a música realmente salvou a minha vida", diz a cantora, com um brilho nos olhos que cativa qualquer espectador. "A arte me deu esperança e cicatrizou todas as feridas que eu ganhei durante a minha vida nas ruas da Austrália." Com muito pop, soul e uma linda voz, Alice protagoniza no palco a viagem pela própria vida, abordando suas dores - o divórcio dos pais, a violência da mãe, a vida nas ruas e o preconceito contra os aborígenes. "Não tenho nenhuma vergonha de contar o meu passado", diz Alice. "Quero que as pessoas ouçam o meu relato para se conscientizarem de que as mudanças só dependem delas mesmas." Alice nasceu há 29 anos na Tasmânia (uma ilha ao sul da Austrália), filha de pai aborígene e mãe branca. O primeiro choque veio ainda na infância, quando as outras crianças caçoavam da cor de sua pele. "Nunca fui branca ou aborígene o bastante para me encaixar em grupos determinados". Com 14 anos de idade, apanhando todo dia da mãe, Alice era freqüentadora vip dos bares próximos de sua casa. Um ano mais tarde, fugiu dos maus-tratos domésticos e começou a morar nas ruas de Sydney. "Os primeiros seis meses na rua foram os piores da minha vida", diz a cantora. "Era uma pessoa muito triste, deprimida mesmo, e não tinha forças para reagir." O único dinheiro que Alice teve nas mãos durante os cinco anos em que viveu em casas abandonadas veio de pequenos furtos. Mas ela não se lembra quantas vezes teve de roubar para comer, e muito menos, quantos abusos sexuais sofreu naquela época. "Em um único dia, cheguei a ser molestada três vezes", diz. "Eu estava realmente ficando louca, mais algumas semanas na rua e estaria morta." Alice começou a estudar música há oito anos A vida começou a mudar em 1994, da maneira mais inusitada. Alice costumava mendigar nos arredores da Universidade de Perth, até que resolveu assistir a uma aula de música que ocorria ao ar livre. Depois de algumas semanas só observando, o professor deixou que ela participasse das aulas. "Acho que foi um acidente ser aceita nessas aulas", brinca. "Mas foi uma acidente que salvou a minha vida. O mais importante que aprendi nessas aulas não foram relacionadas à musica, mas sim à minha existência. Percebi que sempre temos de ser gratos pelo que temos e aproveitar as chances que a vida proporciona. Tudo veio rápido depois dessa lição, quase não deu tempo de assimilar." Poucos anos depois, Alice já estava ganhando elogios, muitos aplausos e vários prêmios graças ao seu talento musical. Fã das grandes cantoras negras americanas e mãe de três filhos (de 10, 7 e 4 anos), a australiana canta como se fosse uma Alanis Morissette mais melodiosa e mais afinada. Durante os 72 minutos do seu espetáculo autobiográfico, Alice interpreta suas próprias composições, divide suas experiências com a platéia e domina o palco com uma desenvoltura impressionante. Não há nenhum traço daquela garota que sofreu tanto nas ruas. O sonho ainda não realizado é gravar um disco, o que deve acontecer nos próximos meses graças aos inúmeros convites que tem recebido. "Não quero parecer uma pastora da música, só quero passar a minha mensagem. Não sei se as pessoas gostam da minha música e do meu show, mas espero que elas se lembrem de uma única coisa, que eu canto na última música (´Freedom´): ´Se não é possível mudar o ambiente ao seu redor, mude a sua própria atitude. Vai fazer uma diferença enorme´." Alice Haines - Sexta e sábado, às 21h, e domingo às 19h, na Cultura Inglesa de Pinheiros (R. Deputado Lacerda Franco, 333, tel.: 3814-4600). R$ 20.

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