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Alceu Valença para todos os gostos

Ele faz show de Alceu Valença Todos os Cantos domingo no Credicard Hall. No repertório, forró, frevo, canções urbanas e baião, "tudo executado de maneira bastante pessoal", diz

Por Agencia Estado
Atualização:

Alceu Valença refuta o título Todos os Cantos do Mundo, que em princípio foi divulgado para o show que ele realiza domingo, no Credicard Hall. "Que coisa mais pretensiosa, o nome do show é apenas ´Alceu Valença Todos os Cantos´", diz. O cantor e compositor pernambucano lembra que o álbum base para a apresentação é resultado de diversas viagens feitas pelo Brasil e por capitais européias. Ainda assim não se trata de todos os cantos do mundo e sim de ritmos interpretados por ele. "O repertório do show tem forró, frevo, canções urbanas e baião, tudo executado de maneira bastante pessoal; é para todos os gostos." Ele conta que esse ecletismo é reflexo de uma formação musical diversificada. A começar por São Bento do Una, cidade natal e limítrofe com o Recife, onde menino ele tomou conhecimento da cultura sertaneja. Mais tarde, morando na capital pernambucana, ficou maravilhado com o maracatu e em Olinda foi apresentado ao frevo. "Ouvia também rock, música árabe e portuguesa´´, continua. "Quero mais é transitar por todas essas culturas e agregá-las ao meu trabalho, minha cultura nacional não é nacionalista." A atitude antropofágica gerou frutos e pode ser observada como influência para o manguebit celebrizado pelos conterrâneos Chico Science & Nação Zumbi e mundo livre s.a. "Como eu, eles são artistas que conhecem bem a sua aldeia e usam esses conhecimentos como linha dorsal da própria produção artística, nosso talento está exatamente em transpor os limites da aldeia e transformá-la em liguagem universal." Ele diz que a similaridade de conceitos com a geração dos anos 90 está no equilibrio anárquico entre tradição e estrangeirismos. Uma fusão que deve ser pautada pela liberdade e pelo desejo de expressão. "As misturas dentro das culturas são salutares´´, comenta. O estilo libertário estende-se ao comportamento de Alceu Valença diante das distorções do mercado fonográfico. "Nunca baixei a cabeça para a indústria, meus discos sempre foram feitos sem nenhuma orientação mercadológica." No entanto, o músico não incorre nas reivindicações tão comuns aos seus companheiros de atividade. "Não fico reclamando da indústria, afinal ela visa ao lucro e tem pontos-de-venda; o artista deve ter ponto de vista e interesse pela arte." Dentro desse raciocínio, o selo independente do músico, Tropicana, é ilustrativo. O álbum Todos os Cantos está licenciado para a Abril Music pelo prazo limite de dois anos. Ao final desse período, as fitas masters das gravações voltam para as mãos de Alceu. Foi assim com o anterior Forró de Todos os Tempos (1998), que funcionou no mesmo esquema de licenciamento, à época com a gravadora Sony Music. "Vivo muito bem, não preciso ficar pensando em vendagens astronômicas.´´ A atual febre do forró entre a juventude é avaliada pelo artista como um fenômeno saudável. Ele próprio tem sido um dos beneficiados com a tendência chamada de forró universitário. Ele cita o sucesso de recentes apresentações em casas noturnas de Minas e São Paulo. "Lotação absoluta´´, informa. Porém faz ressalvas quanto aos aproveitadores de plantão. "Antes de tudo é necessário que as pessoas entendam que o forró é um ritmo que traz consigo toda uma raiz cultural, há a genealogia do forró que deve ser respeitada", continua. "Não se pode enganar o público com terminologias erradas; forró é forró, rock é rock, valsa é valsa e assim por diante." Segundo ele, é impossível executar o ritmo nordestino sem passar pelas composições de Zédantas ou pelo trabalho explosivo de Jackson do Pandeiro. "É a mesma coisa que fazer samba e ignorar Nelson Cavaquinho e Cartola", compara ele com o conhecimento de causa de quem era chamado por Luís Gonzaga de pífano moderno. "Na início da década de 80, eu estava fazendo um show na cidade do Crato, no Ceará, e o Gonzagão estava na platéia; quando terminei a apresentação, ele disse que eu havia ligado o forró na eletricidade.´´ Poesia e Jagger - Alceu Valença tem se ocupado de atividades literárias. Durante a última semana, tem escrito um longo poema que trata de sua relação com as cidades que foram importantes para sua trajetória dentro da música popular. "Em seis dias já escrevi 70 páginas´´, comemora o artista enquanto lê trechos dedicados a São Paulo, ao Rio e a Paris. O nome provisório do poema é Multiplicidades Alceu Valença e o escrito fará parte de um projeto que prevê o lançamento de um novo álbum acompanhado de um DVD. "Há em mim uma interrogação, faço projetos que nunca saem, de quaquer forma estou muito empolgado com o poema." Lê a parte referente ao estranhamento que suas composições causavam nos anos 70, tachadas de tradicionais pelos "malucos" e "doidas" demais pelos tradicionalistas. Em meio à leitura, chega por fax uma das críticas da turnê européia que Alceu Valença realizou no mês passado. Um crítico alemão elogia a apresentação. A animação é tanta que o crítico chega a derrapar, dizendo que o artista é uma espécie de Mick Jagger de Pernambuco. "Que loucura, justo eu que vi o Rolling Stones duas vezes na vida", diverte-se. Os músicos Paulo Rafael (guitarra), Lui Coimbra (celo), Ceceu (bateria), Edwin (percussão), Maurício (baixo) e Chico Ceará (sanfona) acompanham Alceu Valença neste domingo. Os grupos Rasta Pé e Tio Crispiniano participam também do espetáculo. Alceu Valença - Domingo, às 20 horas. De R$ 15,00 a R$ 50,00. Credicard Hall. Avenida das Nações Unidas, 17.955, tel. 5643-2500.

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