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Alceu Valença lança disco nas bancas

O independente De Janeiro a Janeiro, seu 26.º álbum, é lançado esta semana, encartado na revista Música de Atitude

Por Agencia Estado
Atualização:

Desde 1998, Alceu Valença faz os seus discos de maneira independente. Escolhe o repertório, cuida dos arranjos, mete o bedelho na capa e, eventualmente, se alguma gravadora se interessar, negocia com ela a distribuição do trabalho. Foi assim com Forró de Todos os Tempos (lançado em 1998 pela Sony), Sertanejo e Forró (Klick Editora, 1998), Todos os Cantos (Abril Music, 1999), Forró Lunar (Sony, 2001). Abraçando de forma ainda mais radical o pressuposto da independência, Alceu lança, nesta semana, por seu próprio selo, o Tropicana, o 26.º álbum-solo. Chama-se De Janeiro a Janeiro e será vendido em bancas de jornais, encartado na revista Música de Atitude. Encartado em revista por razões práticas - um CD, ou DVD, não pode ser vendido em banca de jornal, a não ser como apêndice de alguma publicação impressa. Mas Música de Atitude não é só pretexto para o lançamento do disco. Trata-se de boa revista, com artigos diversos sobre (bons) discos e (boa) música, assinados por (bons) articulistas. Traz, na parte central, longo entrevista com Alceu, que fala detalhadamente sobre a vida e a carreira, sua discografia, depoimentos sobre ele. A revista com o disco custa R$ 14,90. Alceu Valença, figura da primeira linha dos compositores populares contemporâneos, há muito não toca no rádio ou aparece na televisão. Continua, no entanto, sendo bom vendedor de discos. Vende-os porque viaja pelo Brasil ("Conheço mais de 90% dos municípios brasileiros") tocando música nordestina, música de São João, música mais intimista, feita com voz e violão, música mais pesada, com uso de instrumentos eletrônicos. "Eu não sou um, eu sou quatro - e a indústria, que lida com segmentação, não sabe como lidar comigo", avalia. "Quando eu estava gravando, no Recife, para lançamento independente, o Forró de Todos os Tempos, a Sony inventou de comprar o disco", ele conta. "Não tocou em lugar nenhum, nem na Feira de Caruaru, nem na casa da minha mãe - ando pelo Brasil e vejo que não existem mais lojas de disco" - os dele vendem na esteira dos shows que faz. "Forró de Todos os Tempos vendeu 250 mil exemplares sem tocar", contabiliza. "Em seguida, veio a crise braba da pirataria, e as gravadoras mandaram embora mais da metade de seus elencos; ficou o pagode que não é samba e o sertanejo que não é caipira" - não há lugar para Alceu Valença, ele mesmo, como produtor independente, sofrendo na mão dos piratas: "Há pouco tempo, em Minas, fazendo o show relativo ao disco Todos os Cantos, tinha gente, do lado de fora do estádio, vendendo o disco pirata; e, em Brasília, noutro dia mesmo, uma moça belíssima, que não me reconheceu, abordou-me num bar oferecendo-me os meus discos a preço bem baratinho - tudo pirata." Foi aí que ele pensou: tem o escritório, que trata de seus shows, de sua divulgação; tem a estrutura; perto de casa, no Leblon, no Rio, está montado o estúdio de seu sócio e guitarrista Paulo Rafael. O acaso fez com que se encontrasse com o jornalista que pretendia editar Música de Atitude. Alceu agora é dono de seu nariz. Harvard - Alceu Paiva Valença nasceu em São Bento do Una, no interior de Pernambuco, no dia 1.° de julho de 1946. Formou-se em direito, fez curso de verão em Harvard, mas abandonou a banca logo na primeira causa - a cobrança de uma prestação não paga por um gari da prefeitura. Fazia música, participava de festivais locais. Em 1970, foi para o Rio. Inscreveu três músicas no festival universitário da TV Tupi. Uma delas era parceria com outro pernambucano, Geraldo Azevedo. Eles estreariam juntos, no disco, com Quadrifônico - Alceu Valença e Geraldo Azevedo, trabalho lançado em 1972, com arranjos de Rogério Duprat. Num outro festival, promovido pela Globo, em 1975, Alceu apresentou Vou Danado pra Catende, inspirado por versos de Ascenço Ferreira. A carreira decolava. Em 1980 veio o disco Coração Bobo, com pelo menos mais uma obra-prima - Na Primeira Manhã, que Maria Bethânia gravaria, mais tarde (aliás, os executivos da gravadora Arque, que lançou Coração Bobo, vaticinaram que a música seria um fracasso). Cavalo de Pau, de 1982, é seu disco mais importante. Incorporava, de forma mais evidente do que antes, alguns ingredientes da música pop internacional - e era mais e mais nordestina, regional, brasileira (coisa que o mangue beat, por desequilíbrio na mistura, não conseguiu ser). Alceu brilhou no cinema (em A Noite do Espantalho, de Sérgio Ricardo) e foi a grande atração do primeiro Rock in Rio, sem deixar de ser embolador interiorano, coqueiro de feira, modinheiro praiano, frevista das ladeiras recifenses. De Janeiro a Janeiro tem 14 faixas - cinco recriações (entre elas o formidável "Espelho Cristalino"), o resto de novos cocos, cirandas, maracatus, frevos, baiões, toadas, melodias sempre belíssimas, letras de surpreendente fluência e riqueza. Alceu diz que tem outras 300 músicas prontas e discos já gravados, esperando lançamento, outros esboçados, faltando entrar em estúdio. Aos 30 anos de carreira, com disposição de novato, o tabaréu bate o bumbo.

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