Alceu Valença encerra turnê de "Todos os Cantos"

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Por Agencia Estado
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O cantor e compositor Alceu Valença encerra sexta-feira, no Espaço Dançante do Sesc Belenzinho, a bem-sucedida turnê do álbum Todos os Cantos. A série de shows durou exatamente um ano e um mês e passou pelo Brasil e pela Europa. Um dos detalhes mais inusitados foi a crítica de um grande periódico alemão acerca da passagem do músico pelo país. No artigo, entre outros elogios mais apropriados, o empolgado escriba dizia que o cantor era uma espécie de Mick Jagger de Pernambuco. "Que loucura, justamente eu que vi o Rolling Stones duas vezes na vida", diverte-se o autor de Morena Tropicana. Comparações estapafúrdias à parte, Alceu Valença lembra que Todos os Cantos é resultado da extensa gama rítmica que ele vem explorando nas últimas três décadas. "O repertório do show tem forró, frevo, canções urbanas e baião, tudo executado de maneira bastante pessoal. É para todos os gostos." O artista conta que esse ecletismo é reflexo de uma formação musical diversificada. A começar por São Bento do Una, cidade natal e limítrofe com o Recife, onde menino ele tomou conhecimento da cultura sertaneja. Mais tarde, morando na capital pernambucana e estudando os fundamentos do Direito, ficou maravilhado com o maracatu e em Olinda foi apresentado ao frevo. "Ouvia também rock, música árabe e portuguesa", continua. "Quero mais é transitar por todas essas culturas e agregá-las ao meu trabalho, minha cultura nacional não é nacionalista." A atitude antropofágica produziu frutos e pode ser observada como influência para o manguebit celebrizado pelos conterrâneos Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. "Como eu, eles são artistas que conhecem bem a sua aldeia e usam esses conhecimentos como linha dorsal da própria produção artística, nosso talento está exatamente em transpor os limites da aldeia e transformá-la em liguagem universal." Ele diz que a similaridade de conceitos com a geração dos anos 90 está no equilíbrio anárquico entre tradição e estrangeirismos. Uma fusão que deve ser pautada pela liberdade e pelo desejo de expressão. "As misturas dentro das culturas são salutares." O estilo libertário estende-se ao comportamento de Alceu Valença diante das distorções do mercado fonográfico. "Nunca baixei a cabeça para a indústria, meus discos sempre foram feitos sem nenhuma orientação mercadológica." No entanto, o músico não incorre nas reivindicações tão comuns aos seus companheiros de atividade. "Não fico reclamando da indústria, afinal ela visa ao lucro e tem pontos-de-venda. O artista deve ter ponto de vista e interesse pela arte." Dentro desse raciocínio, o selo independente do músico, Tropicana, é ilustrativo. O álbum Todos os Cantos está licenciado para a Abril Music pelo prazo limite de dois anos. Ao fim desse período as fitas masters das gravações voltam para as mãos do compositor. Será assim também com o novo trabalho que ele está finalizando no estúdio Rio Mix, no bairro carioca do Flamengo. O registro, ainda sem nome, sairá em março com esquema de licenciamento com a gravadora Sony Music. "Vivo muito bem, não preciso ficar pensando em vendagens astronômicas". A atual febre do forró entre a juventude é avaliada pelo artista como um fenômeno saudável. Ele próprio tem sido um dos beneficiados com a tendência chamada de forró universitário. Porém, faz ressalvas quanto aos aproveitadores de plantão. "Antes de tudo é necessário que as pessoas entendam que o forró é um ritmo que traz consigo toda uma raiz cultural, há a genealogia do forró que deve ser respeitada. Não se pode enganar o público com terminologias erradas". Nesse sentido, Todos os Cantos presta uma homenagem aos verdadeiros patronos da música nordestina, Jackson do Pandeiro e Luís Gonzaga. A banda que acompanha Alceu Valença é formada por Paulo Rafael (guitarra), Lui Coimbra (celo), Ceceu (bateria), Edwin (percussão), Maurício (baixo) e Chico Ceará (sanfona). Alceu Valença - Somente sexta-feira, às 22h30. De R$ 5,00 a R$ 15,00. Sesc Belenzinho, Avenida Álvaro Ramos, 991, tel. 6096-8143

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