PUBLICIDADE

Álbuns do grupo Os Tincoãs serão relançados

Além de uma caixa com a discografia do trio surgido no Recôncavo Baiano no início dos anos 60, um livro vai contar a história da trajetória de seus integrantes e grupos como Bixiga 70 e Meta Metá farão shows interpretando suas músicas

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Um elo perdido no Recôncavo Baiano tem sido descoberto pela música brasileira. O grupo Os Tincoãs, um trio que fez carreira entre os anos de 1960 e 1984, é um dos contemplados no projeto Natura Musical, que vai anunciar na noite de hoje (8) os artistas que vai patrocinar na temporada de 2017. Além da discografia, será produzido um livro chamado Do Recôncavo a Angola, com as histórias do grupo narradas por sua voz mais ativa nos dias de hoje: Mateus Aleluia. Outra frente do projeto será a realização de shows para lançamento da caixa, com artistas novos como Bixiga 70, Metá Metá e Márcia Castro interpretando as músicas do trio.

Mateus Aleluia, o remanescente Foto: Vinicius Xavier/ Divulgação.

PUBLICIDADE

Os Tincoãs são um dos mais fenomenais grupos vocais surgidos no Brasil, e sua pouco abrangência territorial é uma injustiça histórica e também um flagrante de seu vanguardismo. As mentes que configuravam os gêneros musicais no início do termo MPB não entenderam como é que três homens saídos dos terreiros de candomblé do interior da Bahia poderiam surgir com um trabalho de vocalização sublime com um repertório de boleros. “Os africanos não chegaram ao Brasil como adidos culturais, mas como escravos. Essa experiência transpira até hoje. Nada que venha de um grupo africano que não tenha as alegorias esperadas será entendido”, explica Mateus Aleluia, que passou a fazer parte do grupo a partir de 1963. Só dez anos depois, em 1973, eles iriam lançar o segundo disco e dar início à fase afro, abandonando os boleros.

João Gilberto soube quem eram os baianos por meio de João Donato. Foi o pianista acreano quem disse ao violonista que ele deveria ficar atento aos Tincoãs. Um tempo depois, Cordeiro de Nanã, de Dadinho e Mateus Aleluia, seria gravada por João no disco Brasil, de 1981. Apenas o refrão é repetido por João como um mantra. “João abriu as portas para o grupo. A partir dali passamos a ter um carinho muito grande dos artistas.”

As vozes dos Tincoãs não são divididas com os naturalismos das terças e quintas mais óbvias. Eles usam caminhos e arranjos criteriosos que Mateus Aleluia diz terem sido criados de forma intuitiva. “Ninguém ali sabia nada de música escrita.” Ele fala que ouviam trios vocais como o mexicano Los Panchos e o Irakitan, mas que nada desses trabalhos era parecido com o que faziam. “Isso porque nossos ouvidos estavam principalmente nos terreiros de candomblé. Eram os ritmos dos toques que nos inspiravam.” O projeto da Natura terá dois anos para ser concluído, mas já pode ser considerado um tiro certeiro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.