Álbum revela um Gershwin pouco conhecido

Um dos mais populares compositores americanos de seu tempo, George Gershwin tem aspectos pouco explorados de suas obras reunidos em um disco italiano

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O severo austríaco Arnold Schoenberg, criador de algumas das obras mais complexas da primeira metade do século 20, decretou: "Ele é o Schubert de nosso tempo." O compositor digno desse tão rasgado elogio foi George Gershwin (1898-1937), o músico americano mais popular de seu tempo. Pois existe um disco italiano (etiqueta Aura) que contém três aspectos praticamente desconhecidos da produção desse cançonetista estupendo. Gravado em Lugano, esse CD traz um primoroso registro feito ao vivo da jazz-opera Blue Monday (Segunda-feira triste), incorporada à revista da Broadway Scandals of 1922. Sobre um texto de Buddy De Sylva, Gershwin criou um espetáculo de pouco mais de meia hora de duração, cuja ação se passa em um bar de baixo nível, situado na esquina da rua 135 com a Lennox Avenue, em Nova York. Essa experiência não fez sucesso, o que é algo espantoso, pois ela exibe algumas invenções melódicas muito cativantes desse novo Schubert. Em Blue Monday estão as sementes de uma ópera genuinamente americana, que Gershwin iria, mais tarde, efetivamente criar com a folk-opera, também negra, Porgy and Bess. O resultado é híbrido, na sua tentativa de dar um sentido orgânico à mistura de clássico e popular. Mas as árias Has one of you seen Joe, my Joe? e I´m goin ´South in the mornin´ são absolutamente memoráveis. Um time extraordinário de cantores negros foi reunido pelo maestro suíço Marc Andreae, 61 anos, para ser acompanhado pela ótima Orchestra della Svizzera Italiana, em uma versão de referência. Outro aspecto pouco conhecido da obra de Gershwin encontra-se nas cerca de 130 gravações que ele mesmo realizou, entre 1915 e 1925, em piano-rolls - pianos mecânicos que, na época, eram sonoramente muito mais realistas que os registros em disco de 78 rotações por minuto. Pois oito deliciosas improvisações do compositor foram transcritas para o papel por Artis Wodehouse e são interpretadas com muita graça neste CD pelo pianista franco-americano François-Joël Thiollier, 57 anos. Entre elas, encontramos My one and only, ´S Wonderful, Someone to watch over me e Sweet and Lowdown. O disco é completado com extratos da trilha original do filme Delicious, de 1933, que hoje só merece ser lembrado exatamente pela música que Gershwin providenciou para ele. A curiosa Dream Sequence, a engraçada Blah, blah, blah e a surpreendente New York Rhapsody aí estão, com trechos de diálogos e a "alta infidelidade" das gravações da época. Por isso tudo, este CD é um verdadeiro must para aqueles que, muito compreensivelmente, adoram a música desse compositor que teve a sorte de ter-se tornado milionário graças ao seu trabalho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.