Adolphe Sax, o criador do saxofone, nascia há 200 anos

Injustiçado e vítima de inveja, ele não pode ver sua criação conquistando o mundo

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Por Julio Maria
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Ainda não havia jazz, blues, funk nem frevo quando ele veio ao mundo. E esses ritmos certamente não teriam a mesma alma se ousassem nascer sem o saxofone. Seu criador é Adolphe Antoine Joseph Sax, que hoje faria 200 anos e estaria coberto de glórias muito maiores que o tempo lhe daria se não tivesse morrido aos 80 anos, falido, amargurado e dependente de uma pequena pensão do governo francês. Um dos instrumentos mais quentes, de mecânica precisa e timbre dos mais belos, teve como criador um dos homens mais injustiçados da música.

Adolphe Sax era um garoto judeu de Dinant, Vale de Meuve, Bélgica, filho de pai carpinteiro especializado em concertos de instrumentos de sopro e metal. Uma habilidade que herdou nos genes e que o faria um aficionado em projetar novas peças enquanto estudava flauta e clarinete na Royal School de Bruxelas. Tocava e bem, com uma carreira promissora se não fosse a inquietude dos construtores. Adolphe sentia que entre os sopros dos instrumentos de madeiras e os de metais que existiam até então, algo poderia ser melhorado.

Estátua de Adolphe Sax em Dinant, Bélgica Foto:

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O saxofone foi criado de uma costela do clarone. Isso em 1834, quando Adolphe inspirou-se no formato de cachimbo em algo de mecânica que percebeu ao terminar de aperfeiçoar um clarone baixo. Sete anos depois, ele criou a primeira peça da família, um sax baixo. E, a partir deste, diminui tamanhos e desceu extensões criando o barítono, tenor, alto, soprano e sopranino. Em 1846, com a prole completa, patenteou o instrumento em seu nome.

Seria a glória se não fosse a inveja. Ao mesmo tempo em que realizava o sonho de tocar um instrumento absolutamente original e de lecionar sobre ele no Conservatório de Paris, Adolphe Sax teria sua autenticidade contestada e seria perseguido por defensores da tradição que se opunham à presença da nova família nas salas de concerto. Seus territórios se expandiam rapidamente desde uma exibição na Paris Industrial Exibicion, com aprovação unânime àquele som "estranho e belo". O compositor romântico francês Hector Berlioz não se conteve: "Nenhum instrumento que conheço possui essa estranha sonoridade que fica bem no limite do silêncio".

Acusado sem sustentação de ter roubado a ideia do sax, Adolphe começou a gastar o pouco que tinha para se defender nos tribunais. Músicos tradicionalistas fizeram lobby contra sua criação, subornando outros instrumentistas para que não tocassem o sax nas orquestras. A partir de 1870, antes mesmo que Adolphe pudesse ganhar algum dinheiro com sua invenção, a patente expirou, abrindo o caminho para a fabricação em série por empresas que se tornariam referências, como a francesa Selmer Company. Adolphe Sax não desfrutou da riqueza que uma das maiores criações musicais do século 19 poderia render. Se vivesse cem anos a mais, veria seu filho ganhar o mundo.

Cinco saxofonistas fundamentais:

Lester Young (1909-1959)

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Young com o quarteto do pianista Teddy Wilson no disco 'Pres and Teddy', de 1956.

Era conhecido como 'Prez', apelido dado por Billie Holiday como diminutivo de presidente. Se tornou o sax tenor mais respeitado dos anos 30. Está no time dos maiores de todos os tempos.

Charlie Parker (1920-1955)

Parker toca o blues Nows the Time com sua absurda fluência de frases rápidas e bem construídas no álbum The Savoy Recordings, gravado entre 1945 e 1948. Seu estilo o levaria a fundar o bebop e o faria ser consoderado por críticos como Scott Yanow como "o maior saxofonista de todos os tempos".

Ornette Colleman

A supremacia do sax no jazz é incontestável, e tem em Ornette outro grande criador. Aqui está seu álbum The Shape of Jazz to Come, gravado em 1959 e considerado um dos dez mais importantes do jazz por várias listas de publicações especializadas. O contrabaixo é de Charlie Haden, o baterista é Billy Higgins e o trompetista, Don Cherry.

Maceo Parker

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A linguagem do funk e da soul music deve muito a Maceo. James Brown teve a honra de sua companhia logo no começo de carreira. Aos 71 anos, ainda faz apresentações à frente de formações de grupo de funk. Aqui ele toca e canta Make it Funky no festival holandês North Sea, em 2012.

Zé Bodega (1923 - 2003)

Zuza Homem de Mello já escreveu que muitos o tem como "o melhor saxofonista brasileiro". O fraseado limpo e preciso que se ouve aqui em Teclas Pretas pode comprovar a tese. Ele atuou na Orquestra Tabajara, tocou com Radamés Gnatalli e acompanhou grandes nomes da música brasileira. Não faltou o reconhecimento merecido.

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