Achado o tesouro do jazz

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Por Agencia Estado
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Quando dois gênios se encontram em uma gravação, o deleite do ouvinte é quase sempre certo. Mas, às vezes, aqueles que gravaram não sentem o mesmo prazer. É o caso, por exemplo, do duelo entre o trompetista Miles Davis e o pianista Thelonious Monk na faixa-título de ´Bags Groove´ - álbum gravado na véspera do natal de 1954. O registro histórico acaba de ser lançado no Brasil pela BMG, num pacote que reúne outros 19 títulos importantes na história do jazz, da gravadora Fantasy Records. Anos depois da gravação, Miles admitiu: "Adoro Monk e o seu jeito de tocar, mas não posso suportá-lo atrás de mim, me acompanhando". No livro ´New Jazz´, o autor Roberto Muggiati diz que nos bastidores da gravação correu o boato de que, por pouco, os dois músicos não sacaram seus canivetes para resolver o conflito de egos na lâmina. A tensão, ainda segundo a boataria, foi estimulada pelo produtor Bob Weinstock. Visionário, ele teria previsto que a atmosfera nervosa resultaria em massagem para os ouvidos. Se for verdade, Weinstock teve também seu lampejo genial - ainda que por meio de uma estratégia um tanto maquiavélica. A primeira conseqüência da rixa se faz notar nos solos de Miles na faixa-título do álbum. Quando o trompete dispara em improviso, o piano de Monk silencia e o acompanhamento se faz com somente baixo e bateria. Como diria Ian Carr, biógrafo de Miles, a solução circunstancial "proporcionou uma atmosfera mais espaçosa e arejada". Se não bastasse o duelo entre dois dos maiores ícones do jazz, a sessão de ´Bag´s Groove´ traz ainda o saxofonista Sonny Rollins (compositor de três faixas gravadas no álbum), o vibrafonista Milt Jackson (autor da faixa-título), o baixista Percy Heath e o baterista Kenny Clarke - os três últimos, integravam o Modern Jazz Quartet com o pianista John Lewis. Monk só tocou em ´Bag´s Groove´ e nas outras quatro faixas, gravadas todas em 29 de junho de 1954, quem senta ao piano é Horace Silver. O encontro de virtuoses é quase uma marca dessa coleção que chega ao Brasil. No outro disco de Miles contido no pacote, ´Blue Moods´, de 1955, o trompetista conta com acompanhamento do contrabaixista Charles Mingus - que, por sua vez, traz em ´At The Bohemia´, do mesmo ano, ninguém menos que o baterista Max Roach. ´Mulligan Meets Monk´ registra o duelo entre Monk e o saxofonista Gerry Mulligan e ´Bags Meets Wes´ traz o guitarrista Wes Montgomery e o vibrafonista Milt Jackson juntos. Outras duetos de peso são protagonizados pelo cantor Tony Bennett e o pianista Bill Evans (em ´The Tony Bennett/ Bill Evans Album´, de 1975) e pelo guitarrista Jim Hall e o baixista Ron Carter (em ´Alone Together´, de 72). Dois trios engrossam o caldo da coleção. Em ´The Poll Winners´ (de 57), o baixista Ray Brown, o guitarrista Barney Kessel e o baterista Shelly Mane somam as forças no disco intitulado, sem falsa modéstia, ´Os Vencedores Das Votações´. Já em ´Skol´ (de 79), o encontro é entre o pianista Oscar Peterson, o guitarrista Joe Pass e o violinista Stephane Grappelli. O trompetista e cantor Chet Baker aparece em dois discos: ´It Could Happen To You´, de 1958, e ´Once Upon a Summertime´, de 77. ´Lush Life´ (1957, de John Coltrane), ´In San Francisco´ (59, Cannoball Adderly Quintet), ´Jazz At Oberlin´ (53, Dave Brubeck Quartet), ´Portrait In Jazz´ (59, Bill Evans), ´Django´ (55, Modern Jazz Quartet), ´Bird At St. Nick´s´ (50, Charlie Parker), ´Modern Jazz Classics´ (59, Art Pepper), ´Saxofone Colossus´ (56, Sonny Rollins) e ´Jazz Giant´ (58, Benny Carter) completam o pacote. Dos 20 títulos, apenas o disco de Tony Bennett e Bill Evans já teve lançamento nacional em CD.

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